O Espelho Mágico

298 30 39
                                    

– Sou só eu ou Misthezan está mais fria que o normal? – Perguntou Boonie, passando pela cidade de Misthezan.

– Realmente está muito frio. – Confirmou Hiram. – É primavera, como pode ser tão fria?

– Misthezan sempre foi fria – Disse Blanche. –, mas devo concordar que dessa vez se superou.

      Chegar em Misthezan foi extremamente rápido. Hiram e Boonie, que estavam na frente conduzindo os cavalos, os fizeram correr cada vez mais e mais rápido. Blanche precisava chegar em seu reino o quanto antes e por aquela necessidade, os quatro príncipes e princesas chegaram ao anoitecer.

      Era o início da primavera, as ruas não estavam mais cobertas pela neve, o pouco do verde que existia começava a aparecer, mas permanecendo com sua natureza-morta, porém, estranhamente, flocos de neve caiam do céu naquela noite. Misthezan nunca esteve tão fria como naquele momento. Por sorte, Blanche vestia sua capa vermelha que conseguia protegê-lo um pouco do frio, diferente dos amigos que não tinham nada para aquecê-los. A temperatura estava tão baixa que era possível ver a respiração das pessoas.

– Inguarda é fria, mas nunca chegou a esse ponto... – Disse Maxine, tremendo, agarrando-se a Boonie, tentando se aquecer com o calor de seus corpos. – Blanche, por que não avisaste que deveríamos usar capas?

– Como eu ia saber que precisávamos vir a Misthezan?! – Exclamou Nieves. – Para! Para! Para!

      Como foi pedido, os cavalos pararam bruscamente. O motivo era o mais assustador possível: uma cabeça presa em um pedaço de madeira, fixado ao chão. Já estava entrando em estado de decomposição, mas ainda era reconhecível, podendo-se dizer a que corpo pertencia e, infelizmente, Blanche Nieves reconhecia aquela pessoa.

      Era Edna, a caçadora que poupou a sua vida e lhe deu sua capa vermelha.

– Q-quem é esse? – Perguntou Maxine.

– Edna...

      A cada minuto que passava ficava mais difícil acreditar nas palavras de Millicent. Ela estava sendo a mais cruel Rainha Má possível. Claramente, ela descobriu que Chapéu não matara o príncipe como lhe fora ordenado e mandou que cortassem a sua cabeça como punição. Aquele era um aviso muito evidente do que aconteceria a qualquer um que fosse contra seu reinado e a traísse, não importava como. Millicent Nieves não merecia nenhuma coroa, nenhum trono, nenhum reino. Nada. Como Blanche poderia acreditar em alguém que foi capaz de fazer aquilo com uma inocente?

      Edna nunca conseguiu o que mais queria. Nunca conseguiu viver do jeito que merecia. Morreu infeliz, presa em uma vida que nunca deveria ter sido sua. Blanche estava passando mal só de olhar para a cabeça, mas não conseguia não olhar. Edna o salvou da morte. Nieves tinha um débito enorme por isso. Nada que ele fizesse pelo resto da vida poderia retribuir a bondade da caçadora. Blanche seria eternamente grato pelo que Edna fez e o mínimo que poderia fazer era se tornar rei de Misthezan e criar uma lei em sua homenagem. A Lei Chapeuzinho Vermelho, que protegeria todos aqueles que fossem como a caçadora.

      As pessoas viveriam o sonho de Chapéu por ela.

      Blanche desceu do cavalo e andou até ficar perto o suficiente da cabeça. Não importava se passasse mal e desmaiasse ou vomitasse, ele precisava olhar para Edna uma última vez.

– O-obrigado... – Sussurrou o príncipe, deixando que uma lágrima caísse de seu olho. – Eu prometo fazer justiça a você.

      Antes de voltar ao cavalo, como um presente de despedida, Blanche, com cuidado, cobriu a cabeça de Edna com o capuz. Aquela capa era e seria para sempre sua. Aquela era Chapeuzinho Vermelho e merecia mais do que aquilo. Blanche levantou cabeça, olhando para o céu estrelado e desejou:

Os Reinos Ligados pela Floresta: Blanche (Branca de Neve)Onde histórias criam vida. Descubra agora