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O mar rugia suavemente ao se chocar com uma cordilheira de rochas. Sem nenhuma nuvem no céu, a luz do sol se refletia livre de impedimento nas ondas espumantes, dando a impressão de que milhares de pequenos diamantes flutuavam na água.

Adriana respirou fundo, sentindo a maresia fustigar seus longos cabelos cacheados. Do alto da primeira rocha da pequena cordilheira, era possível contemplar toda a praia de areias escuras, no momento deserta. Mas não era a praia que interessava a Adriana.

Lançando um último olhar às ondas, a jovem recuou um passo e pulou. O vento rugiu alto em seus ouvidos por um instante antes de mergulhar e todos os ruídos da superfície desaparecerem, prevalecendo o silêncio escuro do submerso.

Calmamente Adriana encaixou seu respirador sobre o nariz e a boca e nadou em direção à carcaça enferrujada de uma nave, que devia estar ali há pelo menos quinhentos anos. Aquela região do planeta tinha muitas sucatas dos primeiros humanos a chegar da Terra.

A maioria dos peixes que nadava por ali fugiu quando Adriana entrou pela janela quebrada da cabine de comando. Seus olhos precisaram de alguns segundos para se acostumar à pouca luminosidade que, somada à penumbra natural do ambiente submarino, criava uma atmosfera ainda mais fantasmagórica.

Adriana avançou pelos corredores até os andares das cabines de passageiros, evitando encostar no lodo verde-escuro que aos poucos dominava as paredes de metal. Optou pelas cabines da primeira classe, uma vez que já revistara a maior parte da classe econômica.

Pelo tamanho e aparência do cômodo, devia ter sido ocupado por alguém extravagante. Pequenas estátuas de querubins em pedestais ocupavam os cantos da cabine, quadros apagados pela água e pelo lodo tinham molduras douradas entalhadas, e um lustre feito de centenas de cristais jazia quebrado junto a uma cama destruída.

A experiência de mais de dez anos catando objetos antigos em naves fez Adriana se dirigir à cômoda e ao guarda-roupa, onde era mais provável que algo interessante tivesse sido esquecido e agora esperasse ser encontrado.

O guarda-roupa estava vazio exceto por alguns cabides carcomidos pela ferrugem, mas em uma das gavetas encontrou discos de armazenamento digital. O coração de Adriana acelerou ao segurar os pequenos discos de cristal, os itens mais valiosos para ela. Apesar de seus poucos centímetros de diâmetro e milímetros de espessura, aqueles pequenos objetos eram os mais importantes, por conterem informações sobre como viviam os terráqueos séculos atrás.

O relógio em seu pulso apitou, indicando que lhe restava pouco mais de dois minutos de oxigênio, então Adriana apressou-se em guardar todos os discos na pequena bolsinha que trazia presa ao cinto e sair dali. Encontrou uma arraia nadando em volta da cabine de comando, e sem saber se era venenosa, esperou o que lhe pareceu uma eternidade até que fosse embora, mas que na verdade não passou de trinta segundos.

Quando o animal se afastou, a jovem saiu da nave e nadou para a praia, mais especificamente uma área a poucos metros da cordilheira, onde as rochas menores formavam uma espécie de píer natural. Era ali que ela gostava de ficar depois de um mergulho para ver melhor seus despojos.

Sentou-se com as pernas penduradas pouco acima da superfície do mar, torceu o cabelo para tirar o excesso de água e despejou no chão ao seu lado os tesouros recuperados. Porém, antes de se debruçar sobre os discos, uma sombra familiar os encobriu.

Adriana não precisou levantar a cabeça para saber quem era.

-- Hola, Edu – ela cumprimentou. O rapaz sentou-se junto a ela, contra o vento para que os respingos não o molhassem e perguntou, encarando os discos:

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