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Adriana pretendia fazer um anúncio a todo o planeta declarando guerra contra a Irmandade Jaguar, mas Juan a convenceu a não fazer isso por enquanto.

-- Se eles souberem que estamos atrás deles, vão se esconder e apagar seus rastros. Tenha um pouco mais de paciência e chegaremos até o fundo disso. Prenderemos cada um dos Jaguares.

A contragosto ela aceitou. Transferiu Juan para a Inteligência de Caramuru como chefe de investigação e pediu que se reportasse diretamente a ela quando fizesse uma descoberta relevante.

Pouco menos de uma semana depois chegou no comunicador pessoal de Adriana a notícia de que nascera a filha de Haru e Umi. Luny conseguiu um espaço na apertada agenda da imperatriz para que pudesse fazer uma visita.

A bebê, Misaki, ainda era pequena demais para se parecer com qualquer um dos pais, mas dava para notar que ela tinha o mesmo nariz afilado da mãe e os olhos escuros do pai. Durante a conversa Haru perguntou:

-- Você também vai ter um, Adriana?

Ela congelou e respondeu entredentes:

-- Não sei...

-- Mas vai precisar de um para ser o seu herdeiro, não é? – Umi indagou embalando a menina nos braços. Adriana estreitou os olhos.

-- Andaram conversando com a Alisha?

-- Um pouquinho – Haru sorriu.

*

De volta a Caramuru, Adriana teve que correr para não faltar a uma cerimônia na qual teve que discursar sobre como o exército era importante para manter a ordem nos continentes de Caramuru. Quando voltou para casa, só queria dormir.

-- Luny, pode pedir que me tragam um suco de maracujá? – pediu, mas antes que o robô chegasse à porta, parou e disse:

-- Um soldado na entrada deseja vê-la, mas ele não tem hora marcada.

-- Soldado? Quem é?

Luny precisou de um minuto para responder. Era muito útil que ele fosse conectado aos comunicadores dos funcionários do palácio.

-- Parece que é o senhor Eduardo.

-- Edu? – Adriana se sobressaltou, ele era a última pessoa que esperava querer encontra-la – Deixe-o vir, eu o receberei na sala aqui do lado. E Luny, peça para trazerem um café, é melhor.

-- Sim, mestre – ele se retirou. Adriana foi para o cômodo conjugado ao seu quarto. Não receberia Eduardo na mesma sala de visitas onde falara com Juan, seria estranho demais.

Um mordomo chegou com uma pequena xícara de café e saiu antes que Eduardo chegasse, escoltado por um segurança e por Luny. Com um gesto ela pediu que os deixassem a sós.

Adriana levou um minuto para ver seu Edu naquele homem de postura tão rígida, cabelo cortado rente ao coro cabeludo e vestido com um uniforme militar.

-- Ei – ele falou primeiro – Hola, Adriana. Como você está diferente.

-- Você mais ainda, Edu. Eu gostava mais do seu cabelo comprido – passou-se um momento no qual ninguém disse nada – O que o traz aqui?

-- Ouvi o seu discurso, mas não achei nada parecido com o que você costumava falar.

-- Imperatrizes não escrevem seus discursos.

Mais alguns segundos de silêncio constrangedor. Eduardo perguntou num murmúrio:

-- Você soube que o meu pai morreu no mês passado?

-- Sim. Eu não pude ir ao enterro porque estava num encontro com embaixadores de Canaã.

-- Mas teve tempo de se encontrar com o Juan umas vezes, não é?

-- O quê? Como sabe disso?

-- Minha mãe trabalha aqui, ela me conta o que escuta.

-- Edu – Adriana inspirou fundo – O que você quer estando aqui?

Ele se encolheu um pouco, quebrando a fortaleza de sua postura militar. A pergunta o pegara de surpresa e ele levou um tempo para articular:

-- Eu queria saber se você o ama.

-- O quê? – foi a vez de Adriana ser pega de surpresa. Eduardo explicou:

-- Ele sempre teve mais a ver com você, te acompanhou na Terra durante aquela guerra e você mesma disse que ele era melhor do que eu por isso. Essa dúvida me corrói há anos, e eu só quero um ponto final. Você o ama não é?

-- Edu, eu... não sei – as palavras travaram em sua garganta. Eduardo apontou para sua mão.

-- Você não usa mais a pulseira que eu fiz.

-- É verdade. Há muito tempo não a uso porque ela se tornou uma lembrança desagradável, não apenas da falha do Projeto Terra e de tudo que deu errado naquela época. Também é da perda do meu melhor amigo.

Eduardo ficou em silêncio, esperando mais, e Adriana prosseguiu:

-- A perda que foi culpa minha. Depois daquilo você se distanciou, e eu nunca me perdoei por isso, então não usei mais a pulseira, mas ainda a tenho. Nunca me desfaria dela.

-- Certo – ele mudou o peso de um pé para outro – Ainda não respondeu minha pergunta. Você ama Juan?

Adriana bufou e desviou o olhar de Eduardo. Era uma pergunta complicada, mas ela tentou se expressar:

-- Sim. Mas também amo você Edu, só que de uma forma diferente.

-- Como um irmão?

-- Não. Arg, deixe-me explicar, tá bem? Olha, você e Juan sempre foram meus melhores amigos, mas eu gostava de cada um do seu jeito. O Juan se parecia comigo em muitos aspectos, era aventureiro, animado, extrovertido, me fazia rir – ela olhou bem nos olhos de Edu nesse momento – E você sempre foi meu companheiro, sempre esteve ao meu lado, me seguia para onde eu fosse, mesmo quando achava perigoso.

Adriana o chamou para acompanha-la até seu quarto. De uma estante tirou um livrinho infantil, que a mãe de Adriana lia para os dois quando eram pequenos. Contava a história de uma arara que vivia com um rato, e por mais que ela quisesse voar e conhecer a floresta, o rato não a deixava ir embora.

-- O que "A Ararinha" tem a ver com isso? – Eduardo perguntou.

-- Por muito tempo achei que o rato fosse um covarde possessivo, mas depois entendi que ele tinha medo de ficar sozinho. Como não tinha asas, ficava quieto no seu lugar, e não queria que sua companhia fosse embora.

-- Entendi – ele assentiu baixando a cabeça – Eu era como o rato.

-- Mas caso você tenha se esquecido, a ararinha vai embora, e no final do livro ela volta para o rato, porque ainda era seu melhor amigo, e o leva para voar também. Mas essa última parte eu nunca fiz.

Adriana devolveu o livro à estante. Eduardo beijou-a no rosto suavemente e ela pediu baixinho.

-- Me desculpe por ter te magoado.

-- Me desculpe por ter ido embora – ele respondeu e a imperatriz o beijou na boca.

Os dois se abraçaram e se deitaram na cama, fazendo juras de amor ao som das ondas quebrando.

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