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No aniversário de 26 anos de Adriana, alguns de seus conselheiros começaram a perguntar quando ela ia se casar.

-- Eu nunca pensei muito nesse assunto – ela respondeu – Nunca quis saber de casamento.

-- Mas precisa, majestad, senão como terá um herdeiro para sucedê-la? – perguntou Alexandre.

Adriana bebia uma taça de champanhe, e engasgou ao ouvir a palavra "herdeiro".

-- Como é? – exclamou tossindo. Se não pensava muito em casamento, sequer cogitava filhos.

-- Majestade, a senhora é a última de sua família, não há mais ninguém que possa herdar a coroa depois da senhora. É sua responsabilidade gerar um filho para prosseguir a linhagem – o conselheiro Carlos Alberto explicou.

Sem saber o que dizer, ela respondeu que pensaria no assunto. Mas em sua mente era uma loucura muito grande, como arranjaria tempo para um relacionamento quando tinha um planeta para administrar?

E cuidar de um bebê. Não levava jeito com crianças, e não se considerava nem um pouco maternal.

Foi para uma varanda tentar esquecer isso. Lá encontrou Kaolim, que perguntou ao reparar sua expressão:

-- Tudo bem? Parece que viu um fantasma.

-- Não, mas é tão assustador quanto. Meus conselheiros querem que eu tenha um bebê.

-- Nossa! – ela olhou surpresa para Adriana – Isso até que faz sentido na verdade. Todo monarca precisa de um herdeiro.

A imperatriz suspirou e recostou-se no balcão, ouvindo o rugir suave do mar ao longe. Kaolim comentou:

-- Não gosto de silêncio. Quando está quieto demais, começo a me lembrar da guerra. Tiros, gritos...

-- Ainda tenho pesadelos quase toda noite. Quando não acordo gritando os funcionários agradecem a Deus.

-- Mas então... Você vai mesmo ter um bebê?

-- Bebê? – Alisha veio para a varanda – Quem vai ter?

-- Ninguém, mas estão cobrando isso da Adriana – Kaolim respondeu.

-- Kaolim! – Adriana quase gritou. A outra se desculpou.

-- Foi mal, era segredo?

-- Relaxa, Adriana, todo mundo da realeza passa por essa crise – Alisha chegou mais perto – Meus pais já estão dando indiretas para eu escolher um noivo.

-- Mas ainda sou muito nova para ter filhos.

-- Não biologicamente. É nessa idade que se recomenda ter filhos – Kaolim comentou. Adriana a encarou irritada.

-- De que lado você está, afinal?

-- Vamos entrar? Está meio frio aqui fora – Alisha pediu.

Na verdade o vento não estava tão frio, mas a princesa vestia uma roupa tradicional de Maat, feita de linho, então devia ser mais sensível à temperatura. As três voltaram para o salão, ainda conversando.

-- Falando em filhos, vocês sabiam que a Umi, esposa do Haru, está grávida? – Alisha contou.

-- Se você tiver um agora também, os dois vão ter idades parecidas – gracejou Kaolim. Adriana foi dançar para não prosseguir com aquele assunto.

Depois de três valsas, um homem jovem de barba pediu a Adriana que dançasse uma música com ele. Ela levou um momento para perceber que era Juan, e comentou espantada:

-- Você mudou um bocado.

-- Não tanto quanto você, chica. Me concede uma dança?

-- É claro – ela deu-lhe a mão e os dois começaram a valsar – Está gostando de trabalhar como investigador?

-- Sim, é muito gratificante – ele a girou – Na verdade, estou trabalhando no caso da sua família.

-- O quê? – Adriana quase parou no meio de um passo. Juan assentiu.

-- Queria dizer pessoalmente que estamos perto de descobrir algo, talvez nos leve aos assassinos.

-- Me mantenha por dentro de tudo, Juan – a música acabou e Adriana apertou a mão do amigo – Eu só quero um ponto final.

-- Tem a minha palavra.

Antes do fim da festa a imperatriz ainda dançaria com muitos condes, pessoas ricas e amigos. Porém, não apareceu alguém que ela queria ver mais do que ninguém: Eduardo.

Adriana não tinha mais contato com o rapaz desde o enterro de sua família. Imaginava se o que ela dissera na Terra fora a causa disso. Talvez suas palavras o tivessem machucado tão profundamente que Edu não queria mais vê-la.

Depois que todos os convidados partiram, perto do amanhecer, Adriana praticamente jogou-se na cama sem nem tirar completamente o vestido. Luny flutuou acima dela e avisou:

-- Pode dormir agora, mas lembre-se que tem um voo para pegar à tarde, para a reunião com os produtores de petróleo.

Ela massageou os pés, doloridos por dançar a noite inteira.

-- Luny, você é um bom secretário, mas eu gostava mais quando só o que fazia era rodar os discos que eu te dava.

-- Tenho certeza que sim, mestra, da mesma forma que nós dois preferimos muitos aspectos do passado ao agora.

Adriana virou-se de lado na cama e pediu uma música para ajuda-la a adormecer. O robô tocou "Pra Sonhar", e a melodia tranquila embalou o sono da jovem imperatriz. Antes de adormecer ela passou a mão no pulso, sentindo a ausência da pulseira de conchas.

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