Eduardo correu até Adriana e a virou de barriga para cima. Haru fez pressão no ferimento mais uma vez.
-- Vou chamar a Alisha – Nyela disse antes de sair correndo. Adriana grasnou, os olhos nublados.
-- Edu...
-- Não fale Adriana, poupe energia – ele interrompeu e continuou falando para mantê-la acordada – Daqui a pouco a Alisha chega e vai tratar dessa ferida. Você poderá voltar a Caramuru e prender todos da Irmandade Jaguar, depois mostrar a todo o planeta a nova princesa.
-- Edu! – ela exclamou – Cale a boca um pouco para eu poder falar. Você, eu e o Haru sabemos que esse ferimento é sério, seria preciso mais do que só a Alisha para dar um jeito em mim.
Eduardo olhou para Haru em busca de uma negação ao que ouvira, mas a expressão dele apagou sua esperança. Nessa hora Alisha e Nyela chegaram correndo. A princesa de Maat se abaixou para examinar e só precisou dar uma olhada rápida para seu rosto ficar igual ao de Haru.
-- Eu não disse? – Adriana se dirigiu a Eduardo e depois a Alisha – Eu queria ver minha filha.
-- Certo – ela correu de volta para a nave. Adriana falou a todos:
-- Pessoal, por favor não deixem a recolonização morrer de novo. Agora que estarei fora do caminho, os Jaguares vão com tudo para impedir nosso sonho.
-- Não se preocupe com isso, Adriana, esse ideal viverá enquanto eu viver – Haru apertou o ombro da amiga – E ensinarei à minha filha quando ela crescer.
-- Eu nunca vou parar de lutar – Hope prometeu. Nyela também fez uma jura.
-- Chegarei a Conselheira, e ShakaZulu estará na linha de frente.
Alisha, Kantu e Samir chegaram. O sacerdote se ajoelhou para que Adriana pudesse olhar a filha, e a imperatriz fez uma carícia no rosto da menina antes de voltar-se para Eduardo.
-- Flora é sua agora, Edu – o rapaz pegou o bebê nos braços e Adriana prosseguiu – Por favor, Edu, não desista da Terra, apesar de tudo eu sei que a humanidade ainda pode lembrar que já foi um povo só. Eu lamento muito te deixar sozinho para cuidar da Flora, e mais ainda por falhar na minha missão, e deixar para a geração dela a responsabilidade.
Grossas lágrimas escorriam de seus olhos para o chão. Eduardo falou:
-- Não há com o que se preocupar, Adriana.
Ela sorriu e pegou na mão dele, baixando a voz.
-- Eu sei que vai parecer loucura, mas tenho certeza que Juan não fez nada do que fez por maldade.
-- O quê?
-- Da mesma forma que eu, ele faz o que pensa ser o melhor para Caramuru, de um ponto de vista totalmente diferente. E apesar de tudo, eu sei que ele realmente me amava.
-- Adriana... – Eduardo começou, se detendo ao ver o rosto dela perder a cor e suas pálpebras pesarem – Ei, não durma!
-- Queria ver o mar uma última vez – ela disse num suspiro e estendeu a mão para a filha – E mostrar para a Flora.
Lentamente Adriana baixou o braço e sua cabeça pendeu para o lado, os olhos fechados. Parecia ter adormecido.
Flora se mexeu no colo de Eduardo e começou a gemer, como se soubesse que sua mãe a deixara. O homem olhou para Adriana, depois para a menina, incapaz de aceitar que sua melhor amiga, seu grande amor, se fora.
*
Foi só na metade do caminho que Juan notou num vazamento no tanque de combustível, depois de gastar horas tratando a perna baleada.
O furo no tanque felizmente era pequeno, só causou preocupação no fim da viagem, quando teve que fazer um pouso forçado no espaçoporto flutuante do senador Getúlio. O político estava lá para recebê-lo.
-- O que aconteceu? – perguntou ao ver Juan mancando. Depois de ouvir o que acontecera na Terra, um sorriso iluminou seu rosto – Se a imperatriz está morta, nada mais está em nosso caminho. Podemos enfim pôr em prática nosso plano maior.
-- Não tenho certeza se ela morreu.
-- Um tiro na barriga, em uma terra sem tratamento adequado? Muito improvável ter sobrevivido.
Getúlio passou o braço pelos ombros de Juan e começou a dar instruções do que fazer.
*
Quando Flora dormiu, a Concriz já deixara a atmosfera e viajava em hipervelocidade ao lado da Nevasca e Sol do Deserto, as naves de Hope e Alisha. Luny flutuava quieto ao lado da cama improvisada da bebê.
-- Eduardo – Kantu chamou – Tem uma transmissão urgente do jornal de Caramuru. É sobre a imperatriz.
O apresentador do jornal falava sobre Adriana ter morrido. Eduardo se perguntava como ele podia saber quando Juan apareceu, fazendo um discurso.
-- Ontem à noite sua majestad recebeu um recado em seu comunicador pessoal de que a reunião com os diplomatas no planeta IN-2 fora adiantada. Ela saiu tão apressadamente que não levou seguranças, e ao chegar no planeta, foi vítima de uma emboscada. Um grupo de terroristas dos planetas Hope, Umikizu, Gaia e Liberty matou nossa imperatriz grávida.
-- Vocês ouviram isso? – os hologramas de Hope, Samir, Nyela e Alisha se projetaram ao lado do jornal. Haru inclinou a cabeça.
-- Por que envolver americanos e europeus nisso?
-- América do Norte e Europa foram os continentes que mais prejudicaram países da América Latina - respondeu Eduardo, sério – Devem ser os principais alvos do rancor da Irmandade Jaguar.
Juan prosseguia jurando que crime tão terrível não ficaria impune, e que Caramuru devia declarar guerra contra esses planetas inimigos.
-- Isso é loucura – Samir murmurou e olhou para os outros – O que faremos?
-- Mostrar a verdade – Nyela respondeu – Contar ao povo que ele está mentindo.
-- E quem iria acreditar em nós? Se aparecermos lá, Juan vai nos acusar na hora, e está na cara que ele tem contatos poderosos – Hope suspirou e cruzou os braços – Sem falar que poríamos Flora em perigo expondo-a desse jeito.
-- Ela estaria no meio de uma guerra antes de entender por que – Eduardo concordou. Alisha olhou para ele.
-- Está claro que não pode voltar a Caramuru, mas você e Flora são bem vindos para ficar em Maat.
-- Serão bem vindos em qualquer um de nossos planetas – Samir adicionou – A filha de Adriana terá todo o nosso apoio.
Eduardo agradeceu sem jeito. Não conhecia direito nenhuma daquelas pessoas, todos ali eram amigos de Adriana, e ainda assim o ajudavam como se fosse um deles. Com certeza não teria dificuldade para fazer amizade com eles também.
-- É melhor contatarmos pessoas confiáveis de Caramuru – ele sugeriu – Pablo e Kaolim.
-- Fique em Hope por um tempinho, Eduardo. É perto de Caramuru, e minha família vai esconder vocês – Hope disse – Nos encontramos lá e chamaremos os dois.
Desligados os hologramas, Eduardo voltou ao compartimento de carga, onde Flora ainda dormia. Luny agora estava no chão, com a luz ocular apagada, mas que acendeu assim que percebeu a chegada de alguém.
-- Posso ajuda-lo, senhor Eduardo? – perguntou.
-- Me responda uma coisa, Luny. Quem é o seu dono agora?
-- Por razões hereditárias, com a morte de mestre Adriana, agora pertenço à senhorita Flora.
-- Mas ainda pode me ajudar, não é? Principalmente se for para o bem de Flora.
-- Claro, senhor Eduardo.
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Imigrantes
Science FictionCentenas de anos no futuro, a humanidade partiu da Terra e ocupou incontáveis outros planetas, se separando no processo. Agora há um planeta para cada população, mais distantes do que nunca uma da outra. Adriana nasceu em Caramuru, um enorme planeta...