29

15 1 0
                                    

Eduardo correu até Adriana e a virou de barriga para cima. Haru fez pressão no ferimento mais uma vez.

-- Vou chamar a Alisha – Nyela disse antes de sair correndo. Adriana grasnou, os olhos nublados.

-- Edu...

-- Não fale Adriana, poupe energia – ele interrompeu e continuou falando para mantê-la acordada – Daqui a pouco a Alisha chega e vai tratar dessa ferida. Você poderá voltar a Caramuru e prender todos da Irmandade Jaguar, depois mostrar a todo o planeta a nova princesa.

-- Edu! – ela exclamou – Cale a boca um pouco para eu poder falar. Você, eu e o Haru sabemos que esse ferimento é sério, seria preciso mais do que só a Alisha para dar um jeito em mim.

Eduardo olhou para Haru em busca de uma negação ao que ouvira, mas a expressão dele apagou sua esperança. Nessa hora Alisha e Nyela chegaram correndo. A princesa de Maat se abaixou para examinar e só precisou dar uma olhada rápida para seu rosto ficar igual ao de Haru.

-- Eu não disse? – Adriana se dirigiu a Eduardo e depois a Alisha – Eu queria ver minha filha.

-- Certo – ela correu de volta para a nave. Adriana falou a todos:

-- Pessoal, por favor não deixem a recolonização morrer de novo. Agora que estarei fora do caminho, os Jaguares vão com tudo para impedir nosso sonho.

-- Não se preocupe com isso, Adriana, esse ideal viverá enquanto eu viver – Haru apertou o ombro da amiga – E ensinarei à minha filha quando ela crescer.

-- Eu nunca vou parar de lutar – Hope prometeu. Nyela também fez uma jura.

-- Chegarei a Conselheira, e ShakaZulu estará na linha de frente.

Alisha, Kantu e Samir chegaram. O sacerdote se ajoelhou para que Adriana pudesse olhar a filha, e a imperatriz fez uma carícia no rosto da menina antes de voltar-se para Eduardo.

-- Flora é sua agora, Edu – o rapaz pegou o bebê nos braços e Adriana prosseguiu – Por favor, Edu, não desista da Terra, apesar de tudo eu sei que a humanidade ainda pode lembrar que já foi um povo só. Eu lamento muito te deixar sozinho para cuidar da Flora, e mais ainda por falhar na minha missão, e deixar para a geração dela a responsabilidade.

Grossas lágrimas escorriam de seus olhos para o chão. Eduardo falou:

-- Não há com o que se preocupar, Adriana.

Ela sorriu e pegou na mão dele, baixando a voz.

-- Eu sei que vai parecer loucura, mas tenho certeza que Juan não fez nada do que fez por maldade.

-- O quê?

-- Da mesma forma que eu, ele faz o que pensa ser o melhor para Caramuru, de um ponto de vista totalmente diferente. E apesar de tudo, eu sei que ele realmente me amava.

-- Adriana... – Eduardo começou, se detendo ao ver o rosto dela perder a cor e suas pálpebras pesarem – Ei, não durma!

-- Queria ver o mar uma última vez – ela disse num suspiro e estendeu a mão para a filha – E mostrar para a Flora.

Lentamente Adriana baixou o braço e sua cabeça pendeu para o lado, os olhos fechados. Parecia ter adormecido.

Flora se mexeu no colo de Eduardo e começou a gemer, como se soubesse que sua mãe a deixara. O homem olhou para Adriana, depois para a menina, incapaz de aceitar que sua melhor amiga, seu grande amor, se fora.

*

Foi só na metade do caminho que Juan notou num vazamento no tanque de combustível, depois de gastar horas tratando a perna baleada.

O furo no tanque felizmente era pequeno, só causou preocupação no fim da viagem, quando teve que fazer um pouso forçado no espaçoporto flutuante do senador Getúlio. O político estava lá para recebê-lo.

-- O que aconteceu? – perguntou ao ver Juan mancando. Depois de ouvir o que acontecera na Terra, um sorriso iluminou seu rosto – Se a imperatriz está morta, nada mais está em nosso caminho. Podemos enfim pôr em prática nosso plano maior.

-- Não tenho certeza se ela morreu.

-- Um tiro na barriga, em uma terra sem tratamento adequado? Muito improvável ter sobrevivido.

Getúlio passou o braço pelos ombros de Juan e começou a dar instruções do que fazer.

*

Quando Flora dormiu, a Concriz já deixara a atmosfera e viajava em hipervelocidade ao lado da Nevasca e Sol do Deserto, as naves de Hope e Alisha. Luny flutuava quieto ao lado da cama improvisada da bebê.

-- Eduardo – Kantu chamou – Tem uma transmissão urgente do jornal de Caramuru. É sobre a imperatriz.

O apresentador do jornal falava sobre Adriana ter morrido. Eduardo se perguntava como ele podia saber quando Juan apareceu, fazendo um discurso.

-- Ontem à noite sua majestad recebeu um recado em seu comunicador pessoal de que a reunião com os diplomatas no planeta IN-2 fora adiantada. Ela saiu tão apressadamente que não levou seguranças, e ao chegar no planeta, foi vítima de uma emboscada. Um grupo de terroristas dos planetas Hope, Umikizu, Gaia e Liberty matou nossa imperatriz grávida.

-- Vocês ouviram isso? – os hologramas de Hope, Samir, Nyela e Alisha se projetaram ao lado do jornal. Haru inclinou a cabeça.

-- Por que envolver americanos e europeus nisso?

-- América do Norte e Europa foram os continentes que mais prejudicaram países da América Latina - respondeu Eduardo, sério – Devem ser os principais alvos do rancor da Irmandade Jaguar.

Juan prosseguia jurando que crime tão terrível não ficaria impune, e que Caramuru devia declarar guerra contra esses planetas inimigos.

-- Isso é loucura – Samir murmurou e olhou para os outros – O que faremos?

-- Mostrar a verdade – Nyela respondeu – Contar ao povo que ele está mentindo.

-- E quem iria acreditar em nós? Se aparecermos lá, Juan vai nos acusar na hora, e está na cara que ele tem contatos poderosos – Hope suspirou e cruzou os braços – Sem falar que poríamos Flora em perigo expondo-a desse jeito.

-- Ela estaria no meio de uma guerra antes de entender por que – Eduardo concordou. Alisha olhou para ele.

-- Está claro que não pode voltar a Caramuru, mas você e Flora são bem vindos para ficar em Maat.

-- Serão bem vindos em qualquer um de nossos planetas – Samir adicionou – A filha de Adriana terá todo o nosso apoio.

Eduardo agradeceu sem jeito. Não conhecia direito nenhuma daquelas pessoas, todos ali eram amigos de Adriana, e ainda assim o ajudavam como se fosse um deles. Com certeza não teria dificuldade para fazer amizade com eles também.

-- É melhor contatarmos pessoas confiáveis de Caramuru – ele sugeriu – Pablo e Kaolim.

-- Fique em Hope por um tempinho, Eduardo. É perto de Caramuru, e minha família vai esconder vocês – Hope disse – Nos encontramos lá e chamaremos os dois.

Desligados os hologramas, Eduardo voltou ao compartimento de carga, onde Flora ainda dormia. Luny agora estava no chão, com a luz ocular apagada, mas que acendeu assim que percebeu a chegada de alguém.

-- Posso ajuda-lo, senhor Eduardo? – perguntou.

-- Me responda uma coisa, Luny. Quem é o seu dono agora?

-- Por razões hereditárias, com a morte de mestre Adriana, agora pertenço à senhorita Flora.

-- Mas ainda pode me ajudar, não é? Principalmente se for para o bem de Flora.

-- Claro, senhor Eduardo.


ImigrantesOnde histórias criam vida. Descubra agora