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Alexandre continuou falando, mas as palavras passavam despercebidas para os ouvidos de Adriana.

-- ... as investigações acerca do assassinato deles prosseguirá, mas sem mais herdeiros, a senhorita deve receber a coroa.

Ela olhou para Pablo, esperando que ele desmentisse aquela história, mas ele nada disse, apenas a encarou com tristeza.

-- Qual é o problema? – Juan chegou. Adriana abriu a boca para falar, porém nenhum som saiu. Pablo contou ao jovem o que acontecera enquanto Alexandre seguia falando:

-- Devemos voltar a Caramuru amanhã.

-- O quê?! – ela se sobressaltou. Ele explicou:

-- Precisa voltar para casa, senhorita, para governar.

Adriana baixou a cabeça e ficou com o olhar fixo no chão. Juan protestou:

-- Mas o Projeto Terra precisa da Adriana, ela é a nossa líder.

-- Agora há uma responsabilidade maior, para com o seu povo em Caramuru.

-- É melhor não a importunarmos com isso agora – Alisha interveio e puxou Adriana pelo ombro – Vou te levar para a sua nave.

Na Concriz, a princesa se sentou ao lado da general, acariciando seu braço e contando que entendia o que estava sentindo.

-- Perdi meu irmão para uma doença. Ele tinha nove anos e eu doze. Chorei durante dias.

Na certa Alisha esperava que Adriana caísse no choro a qualquer momento, mas ela não queria. Teria que voltar para Caramuru e ser imperatriz, passar o resto da vida com os deveres do governo, devotada somente ao povo.

Após algum tempo Alisha saiu, e devia ter dito aos outros para deixa-la com sua dor, pois ninguém mais entrou. Não que isso fizesse diferença para Adriana, ela mal notou quando ficou sozinha.

Não fez nada além de encarar o chão pelo resto da tarde, e não dormiu à noite. Luny não falou nada, apenas pousou junto à mestre.

Hope apareceu de manhã para ver como Adriana estava. Se aproximou devagar e perguntou:

-- Como está?

Em resposta ela só deu de ombros. Luny se ergueu e disse baixinho:

-- É possível que mestre Adriana esteja em choque.

-- Então o que fazemos? O ataque aos Jaguares é amanhã.

-- Não posso fazer nada – Adriana se levantou – Preciso voltar para casa.

-- O quê? – Hope a encarou incrédula – Do que está falando, Adriana?

-- Eu sou a imperatriz agora, não posso ficar aqui.

-- Mas e a Terra? O projeto? Vai esquecer tudo e deixar aqueles loucos vencerem?

-- Essa guerra não é mais minha.

Hope inspirou fundo e pôs as mãos nos ombros da amiga.

-- Você está triste, eu entendo, não precisa decidir o que fazer agora.

Não era uma questão de decisão, Adriana sabia, mas de dever. Descobrir que sua família estava morta quebrara algo em seu interior, deixando uma fenda muito profunda em seu ser.

Imaginou seus primos, mais novos que ela, mortos. De repente nada mais fazia sentido, nada mais tinha importância.

-- Continuem sem mim, eu vou para casa.

Ela comunicou isso a Alexandre, que não poderia ficar mais satisfeito, e logo começaram os preparativos para a partida.

Também chegou a nave de Maat destinada a levar Alisha de volta. A princesa se despediu de Adriana com um abraço, oferecendo as últimas condolências, e partiu. Na vez da general, todos a acompanharam até a entrada na nave.

-- Vamos ganhar essa guerra para você – Juan a abraçou apertado. Haru disse educadamente:

-- Que você seja feliz em seu novo caminho.

Kaolim e Hope claramente eram as mais tristes do grupo, a soldado não queria largar Adriana ao se despedirem, como que implorando para que ficasse. O almirante Ricardo assumiria suas responsabilidades.

A Concriz foi posta no compartimento de carga da nave oficial e Adriana e Luny embarcaram. Quando começou a decolar a jovem pediu ao robô, inserindo o disco de músicas:

-- Toque algo no clima desse momento.

À medida que se distanciavam e o planeta Terra ficava cada vez menor, Adriana sentia os olhos se encherem de lágrimas, mas se apressou em enxuga-las antes que saíssem. Não gostava de chorar, e menos ainda que a vissem chorando.

Pablo sentou ao seu lado e a acompanhou quando chegaram a Caramuru, espantando repórteres enxeridos. Adriana foi direto para o palácio, sua nova casa.

O quarto destinado a ela era três vezes maior que seu antigo, com uma enorme varando com vista para o mar. Porém, não foi para o oceano que a jovem olhou, mas para o céu. Pensou na Terra, imaginando como aquela história acabaria.

-- Pode tocar a mesma música da viagem para cá?

"Um dia a areia branca seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos a água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar
E ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante

As luzes e o colorido
Que você vê agora
Nas ruas por onde anda,
na casa onde mora
Você olha tudo e nada
Lhe faz ficar contente
Você só deseja agora
Voltar pra sua gente

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante

Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho
Um dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso.

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma historia pra contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante"

Baixando a cabeça, ela não conseguiu conter duas lágrimas rebeldes que insistiam em queimar seus olhos.

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