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Adriana estava no sétimo mês de gestação quando o projeto foi oficialmente aprovado pelo Senado. Agora lhe restavam dois meses para coloca-lo em prática.

A parte difícil foi falar com os representantes de outro planetas para apoiarem a causa mais uma vez. A maioria estava desconfiada ou insegura quanto ao compromisso da imperatriz em uma conferência holográfica.

-- Precisamos de garantias, imperatriz Adriana, de que a recolonização dará certo dessa vez – argumentou o primeiro-ministro de Jullunggul – Tivemos cidadãos que voltaram em situação pior do que quando saíram.

-- A imperatriz enfrentou uma forte resistência armada, eu estava lá – Alisha veio em sua defesa – E sofreu um abalo psicológico com a notícia do assassinato de sua família. Tenho certeza que ninguém aqui resistiria a um golpe desses.

-- E com certeza não acontecerá de novo – Adriana disse secamente – Afinal não restou mais ninguém na minha família.

-- Não, mas está grávida – o Conselheiro de ShakaZulu ressaltou – Você pode acabar perdendo o foco do projeto quando seu filho nascer.

Adriana o fuzilou com o olhar antes de responder:

-- Imperadores e imperatrizes antes de mim tiveram filhos e não destruíram seus reinados por isso. E é por esse filho que eu quero tentar de novo a recolonização, para que ele não tenha que crescer no universo dividido que vivemos, onde povos que antes eram vizinhos agora não sabem nada um do outro. E mesmo quando ele nascer, garanto que mesmo assim não me afastarei da causa, pois não pretendo falhar nisso de novo.

Felizmente Adriana tinha Samir do seu lado em Canaã, em ShakaZulu, Nyela, agora senadora sênior, e se não fosse por Alisha, era mais provável que o rei de Maat não apoiasse a ideia.

Os planetas a favor da colonização marcaram um encontro diplomático no final do mês para resolver detalhes políticos. Seria em um planetoide denominado IN-2, pois fora o segundo planeta encontrado que tinha condição de receber humanos, mas por condições climáticas era inabitável por mais que alguns meses por ano.

-- Espero que minha bolsa não estoure até lá – Adriana comentou com Luny após a reunião – Semana que vem chego no oitavo mês.

*

Naquela noite Pablo visitou Adriana e trouxe um presente para o bebê: um par de minúsculas meias brancas.

-- Como você não sabe se é menino ou menina, achei melhor escolher uma cor que servisse para ambos – ele contou.

-- Obrigada, Pablo – pôs as meias em cima da mesa. O homem tamborilou com os dedos antes de perguntar:

-- Me responda, Adriana, não está preocupada com esses Jaguares? E se eles tentarem contra você de novo?

-- Como? Não há mais ninguém na família para matarem, e mesmo que houvesse, a Irmandade Jaguar não poderá contra o exército real e nossos aliados. Como duquesa, eu tinha poder limitado, mas como imperatriz eles não serão páreo para mim.

-- Esperemos que corra tudo bem. Enquanto isso, já preparou o quarto do bebê?

-- Sim, tudo em branco e verde-mar, para que conheça o oceano desde o berço.

A conversa dos dois prosseguiu por vários assuntos, e chegou a um incômodo tópico.

-- Adriana, por que tanto segredo sobre o pai do seu filho? – Pablo se apressou em explicar-se quando a imperatriz olhou feio para ele – Não estou perguntando quem é, só quero saber por que é tão sigiloso, você só fez menção a um velho amigo.

-- E porque não tem tanta importância assim saber quem é o pai, nós não somos casados nem nada.

-- Não é importante ou você só não quer falar? Para mim só há dois prováveis suspeitos: Eduardo e Juan.

-- Precisamos mesmo falar sobre isso? – ela murmurou. Pablo tomou aquilo como um sim.

-- Não revela qual foi porque não quer que o outro saiba.

A aquela altura Adriana se cansou e pediu, a voz mais controlada possível:

-- Por favor, Pablo, já chega. Eu tive um dia muito cheio e queria relaxar um pouco agora.

-- É claro, majestade. Se pudesse beber uma taça de champanhe, eu faria um brinde ao futuro da Terra.

-- E eu brindaria com todo o gosto.

*

Pela primeira vez Adriana estava preocupada com o vestido que usaria na reunião com os diplomatas em IN-2. O embaixador que iria com ela, Samuel, comentou que precisariam trajar suas melhores roupas, pois a elite de Gaia era muito exigente nesse assunto.

-- E eles nem iam para a reunião, chegaram depois – a imperatriz comentou segurando um vestido cinza e se perguntando se conseguiria encaixar sua barriga de gestante nele. Luny girou ao seu redor.

-- Gaia tem um forte poder bélico, o apoio dos europeus será uma grande vantagem.

-- Eu sei. Mais algum planeta se pronunciou para unir-se a nós? – devolveu o vestido ao guarda-roupa.

-- O presidente de Liberty fez um anúncio público dizendo que se unirá ao projeto se for bem sucedido.

-- Então dessa vez os americanos vão querer brincar também. Tomara que não tragam os minérios radioativos que povoam o planeta deles – encarou o guarda-roupa – Precisarei contratar um costureiro para arrumar um vestido para mim.

-- Mas guarde um para o caso de já ter dado à luz – Luny sugeriu. Adriana olhou para ele.

-- Deve nascer daqui a algumas semanas. Acha que vai nascer até depois de amanhã?

-- É possível, considerando as dores de contrações de Braxton-Hicks que a senhora vem sentindo nos últimos dois dias.

O médico dissera que podiam ser apenas gases, mas será que eram o que Luny dizia? Adriana deu um longo bocejo, afinal já era tarde da noite, e precisava dormir para acordar cedo na manhã seguinte.

Por via das dúvidas pegou um vestido para ser reparado e escolheu um de reserva. Estava escolhendo um livro para folhear antes de se deitar quando ouviu o toque de seu comunicador.

-- Kantu – ela cumprimentou – Aconteceu algum problema?

-- É possível que sim – ele parecia preocupado – Uma nave de Caramuru está indo para a Terra.

-- O quê?! Sabe quem é?

-- Não, vi-a pousar aqui, e meu amigo que trabalha no espaçoporto disse que ela ia para o quadrante leste. Ou seja, a Terra, e tem uma carga desconhecida a bordo, marcada como "material de laboratório".

-- Você acha que pode ser um Jaguar?

-- Acredito que sim, aquela nave me lembrou as que eles usavam na guerra.

-- Estou a caminho.

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