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Adriana abriu as portas do hangar do palácio e andou a passos largos em direção a uma nave parada há bastante tempo.

Concriz estava coberta por uma grossa camada de poeira, mas ainda podia voar. Adriana perguntou a Luny enquanto ligava os motores:

-- Contatou nossos amigos?

-- Sim, mestre. Hope disse que irá também, mas Haru precisará de carona para sair de Umikizu. Alisha estava numa reunião em Canaã com Samir e Nyela, e podem ir de lá.

-- Também daremos carona ao Kantu. Chamou o Eduardo também?

-- Sim, e dei os códigos para ele passar pela segurança. Já deve estar chegando.

Já tinha chegado. Adriana o viu pelo para-brisa, se aproximando, e desceu a rampa para que ele entrasse.

-- O que foi? – Eduardo subiu a bordo.

-- Um Jaguar está a caminho da Terra com uma carga provavelmente perigosa. Você vem?

-- Como é? Adriana, não pode simplesmente ir até lá, está grávida.

-- Se ficar muito perigoso eu não chego perto, relaxe. E não estarei só, meus amigo irão também.

Eduardo hesitou, ponderando se devia ou não acompanhar Adriana naquela aventura louca. Por fim disse:

-- Está bem, eu vou. Mas no primeiro sinal de perigo você vai embora, está bem?

-- Certo, Edu. Calma, eu não arriscaria a vida do meu bebê.

A nave decolou e seguiu para o céu noturno. Eduardo apontou para sua mão.

-- Por que trouxe esse livro?

Adriana só então reparou que estava segurando "A Ararinha".

-- Eu estava com ele na mão quando o Kantu ligou, saí correndo do quarto sem lembrar que estava comigo. Luny, pode guardar?

Eduardo se surpreendeu quando uma pequena fenda horizontal se abriu no meio do corpo esférico do robô.

-- Ele sempre teve isso? – perguntou vendo Adriana guardar o livro.

-- Sim, era um segredo só nosso. Uso esse espaço para guardar ou esconder certas coisas.

O piloto automático conduziu a viagem depois da hipervelocidade ser ativada. Adriana se recostou no assento, gemendo baixinho.

-- Tudo bem? – Eduardo perguntou preocupado. Ela fez que sim com a cabeça.

-- O bebê está chutando, nada demais. Está previsto para nascer daqui a umas semanas.

-- É mais provável que nasça entre hoje e daqui a duas semanas – Luny ressaltou. Adriana olhou feio para ele. Eduardo mudou de assunto.

-- Você avisou seus guardas ou algum funcionário aonde você ia?

-- Não... – ela desviou o olhar, esperando o amigo bancar o pai e passar um sermão, mas para sua surpresa ele riu.

-- Tomar uma decisão e sair correndo por aí sem avisar ninguém. Agora sim está agindo como a Adriana que eu conhecia – explicou quando ela o encarou confusa – Desde que virou imperatriz, você ficou tão séria, nada a ver com quando éramos mais novos. Parece que agiu como você mesma pela primeira vez em anos.

-- E me senti muito bem fazendo isso – Adriana riu, depois ficou séria – Mas num ponto você tem razão, Edu, quando amanhecer todos vão se preocupar com o sumiço da imperatriz. Luny, mande uma mensagem de que fui a uma reunião de emergência com diplomatas ou algo do tipo. Depois pode tocar alguma música, por favor?

Luny obedeceu. Eduardo riu baixinho e Adriana perguntou o que era tão engraçado. Ele respondeu:

-- É muita loucura você sair num ato heroico para salvar a Terra.

-- Você deve achar que eu devia voltar e cuidar só do meu planeta, não é?

-- Um só planeta nunca foi o bastante para você, por isso os mergulhos, e depois as viagens espaciais. E do jeito que você defendeu a Terra, pareceu mais que lá era o seu planeta.

-- É – ela olhou para baixo, relembrando – E apesar de eu não ser imperatriz nem nada, as pessoas de lá também eram meu povo.

-- Você nunca quis ser imperatriz, nunca quis nada daquelas riquezas, e não estava feliz. Você só queria voltar para a sua gente, não é?

-- Sim. E agora que volto, que irei de novo respirar o ar de lá e ver o mar de lá, me sinto feliz de novo.

Os dois conversaram na meia hora seguinte, e num momento Eduardo tocou relutantemente num assunto.

-- Você não chamou o Juan também?

-- Por mim eu teria vocês dois para me acompanhar, mas o recepcionista da delegacia falou que ele saiu do planeta, numa parte importante da investigação, e não podia interromper agora.

-- Ah, ele está investigando sobre – Eduardo hesitou – a sua família, não é?

-- Sim, e está muito dedicado.

Depois de quase uma hora, chegaram em Umikizu. Haru os esperava no espaçoporto, e Adriana disse assim que ele entrou:

-- Haru, não precisa vir se não quiser, você tem um bebê em casa...

-- E você um ainda no ventre. É claro que vou – o general quase voou para a cabine de comando.

Felizmente a distância entre Umikizu e Shakti não era longa. Em 45 minutos chegaram e Kantu saltou dentro da nave, porém tiveram que recarregar o combustível. Depois mais cinco horas até a Terra.

O caminho seguiu num silêncio nervoso, Haru andava para lá e para cá e Kantu torcia as mãos com força. Eduardo quebrou o silêncio.

-- Qual é o plano quando chegarmos lá?

-- Encontrar o cara e se ele tentar algo contra o planeta, nós impedimos – Adriana respondeu com simplicidade.

-- Mas vocês não vão se o cara for perigoso – Kantu apontou para ela e Haru – Os dois têm filhos para criar.

Quando infim saíram da hipervelocidade, o coração de Adriana deu um salto ao rever o planeta azul brilhando à luz do sol.

-- As naves de Hope e Alisha se encontram no coração da floresta amazônica – informou Luny, conectado ao radar da Concriz.

-- Vamos lá – Adriana desligou o piloto automático e entrou na atmosfera, indiferente ao desconforto de fazer a complicada manobra de pouso com o bebê chutando sem parar. Chegava a doer.

A Concriz aterrissou silenciosamente perto das outras duas naves. Hope, Nyela, Alisha e Samir estavam lá fora quando Adriana baixou a rampa. A ruiva correu os olhos pelos recém-chegados e contou:

-- Vimos a nave dele, é um Jaguar mesmo, mas ele não estava lá dentro.

-- Tinha alguma carga na nave? – perguntou Kantu sério. Nyela respondeu:

-- Sim, mas foi retirada. Encontramos marcas de rodas no chão, o Jaguar levou algo pesado.

-- Então vamos atrás dele, temos que nos apressar. Adriana – Haru voltou-se para ela – Está tudo bem?

Todos olharam para a imperatriz na entrada da nave, se curvando de dor. Ela disse com a voz estrangulada, pondo a mão sobre a barriga:

-- Acho que está nascendo.


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