Olhando bem para ele, ele pareceu-me tudo menos perigoso.
-Tu achas que eu sou velho? - perguntou, ainda com um pequeno sorriso nos lábios.
-claro que acho- respondi rapidamente. Estava prestes a acabar o bife e o arroz e as batatas já não se viam no prato.
- Só temos sete anos de diferença rapariga - ele respondeu, agora com os olhos postos no restaurante vazio.
- que idade têm os teus pais?
Asério que ele me estava a perguntar aquilo?
- mas tu és um detetive ou assim? - perguntei com um sorriso irónico.
- secalhar - respondeu com uma tentativa falhada de manter um ar sério - mas responde-me.
- eu não tenho a certeza, mas acho que a minha mãe tem 42 e o meu pai uns 49 talvez.
- a sério? perfeito. - o seu sorriso voltou - conta os anos de diferença. Se achas que eu sou velho então a tua mãe casou com um velho.
- espera - estendi os dedos e comecei as minhas contas - um, dois, três .... espera.... sete.... vinte e quatro... espera o quê?
Isto para mim sempre foi um verdadeiro problema. Desde que me lembro que fui má a matematica. Era como se eu tentasse fazer qualquer conta e o meu cerebro automaticamente se bloqueasse.
- (riu durante uns 10 segundos) são 7 anos de diferença tal e qual como nós , três dólares. - Não, isto não. Ele não acabou de me apelidar três dólares. Odeio isto. É Inês de 'castro' , Inês 'lingrinhas', baixota, e agora, mas não melhor, três dólares.
- tu sabes que eu tenho nome certo? - afirmei, fazendo o meu sorriso desaparecer - Inês.
- sei, claro que sei. Mas mesmo assim prefiro três dólares.
- lá sabes. Vou me embora, obrigada pelo jantar. - Levantei-me e segui para a porta.
-espera - disse seguindo-me - tu não podes ir embora sozinha, é muito perigoso andares por ai a estas horas sozinha.
- olha preocupa-te em pagar a conta em vez de te preocupares comigo. - sai.
-eu depois resolvo isso, queres que te leve a casa?
- não, vou ligar a um amigo meu. - dirigi-me a uma das cadeiras das mesas exteriores do restaurante e sentei-me. Peguei no meu telemóvel e liguei ao Afonso. Rezei por tudo para que ele atendesse.
****CHAMADA****
- 'Inês? Sabes que horas são?'
- Sei e vou te pedir um enorme favor.
- 'Que foi?'
- Conheces um restaurante chamado 12 horas e qualquer cena?
- 'Sim, acho que sim, Porquê?'
- Podes-me vir buscar? É que eu acho que me perdi.
- 'Tu és mesmo idiota miúda. Já passo ai.'
*****FIM DA CHAMADA******
Guardei o telemovel e reparei que o idiota estava sentado mesmo á minha frente.
- Mas tu ainda não foste embora? - Peguntei deitando-me sobre a cadeira.
- Vou ficar contigo á espera que o teu amigo chegue.
- eu já te disse, eu sei defender-me sozinha. - neste momento estava a ficar farta dele.
- tu? - riu - claro que sim!
Aquele riso irritou-me profundamente. Toda a gente, sem exceção, concluia, só pelo simples facto de eu ser magrinha, que não conseguia defender-me sozinha.
- não querias experimentar - respondi rudemente.
- hey, calma- o seu sorriso desapareceu- eu estava a brincar rapariga e só te estou a tentar ajudar. Trastas sempre assim toda a gente que te tenta ajudar?
Ele tinha razão. Estava-me a comportar como aquelas miúdas irritantes lá da escola. Mas eu também tinha razão. Eu mal o conhecia e já tinha aceitado que me pagasse o jantar e já lhe tinha dado muita confiança. Em quê que eu estava a pensar?
Mas ele também foi querido, e ainda está aqui á minha frente, triste como um cachorrinho abandondado...
Não lhe respondi mais. Esperei silenciosamente pelo Afonso.
O Afonso não tardou a chegar. Quando avistei ao fundo da rua o seu carro, levantei-me e olhei para o idiota.
- Pronto, ele vem ai, já não precisas de te preocupar. - sorri-lhe para que percebesse que no fundo fiquei contente por ele ter ficado ali comigo.
Voltei-me e observei o carro a aproximar-se e quando chegou e parou voltei-me de novo para o idiota e... que estranho. O idiota tinha desaparecido literalmente. Fiquei a olhar á minha volta, ele não podia ter ido longe, mas mesmo assim não o vi. De repente ouço o Afonso a chamar-me de dentro do carro. Esqueço o idiota e entro dentro do carro.
- Tu não sabes ser uma rapariga normal e ficar em casa a pintar as unhas ou a por fotos no facebook?
- e qual era a piada disso? -disse sorrindo.
- a piada disso é que se fizesses isso eu não teria que sair de casa ás tantas da noite para te vir buscar, caso não saibas, eu NÃO sou o teu taxi particular.
- pois não, mas eu sabia que vinhas.
- mas não venho mais, podes ter a cer....
- PÁRA O CARRO, PÁRA! - gritei.
- OH MEU DEUS - disse após parar o carro
Dois homens estavam deitados no meio da estrada imóveis. O Afonso parou e saimos os dois e direcionamo-nos a eles. Tinham sangue por todo o rosto e na cabeça, e eu não sabia o que fazer.
- Chama a porra de uma ambulancia. - gritou o Afonso.
Procurei o meu telemovel nos bolsos das calças. Procurei, procurei, procurei... porra onde é que eu o pus?
- eu não sei dele - disse aflita.
Rapidamente o afonso procurou o seu, porém também não o encontrou. Estavamos sem saber o que fazer e quando iamos a começar a gritar por ajuda...
-tu... - ouvimos gaguejar um dele , apontando para o Afonso. O Afonso aproximou-se dele.
De repente, o outro levanta-se bruscamente e manda uma pancada forte na cabeça do Afonso, fazendo-o cair. O outro levanta-se também e de repente estavam os dois a bater no Afonso. Por uns segundos fiquei estupefacta. Mas logo voltei a mim. Eu não sabia o que fazer, então saltei para as cavalitas de um deles e comecei a puxarlhe o curto cabelo, fazendo com que soltasse o Afonso. O Adonso deu um murro na cara do que continuou em cima dele fazendo-o afastar-se. Agora a luta entre o Afonso e o homem estava equilibrada.
Eu continuava em cima do outro, puxando-lhe os cabelos. Eu notei que ele estava irritado e nervoso por o estar a agarrar. De repente ele agarra os meus braços com força, e puxa-me, fazendo com eu o largasse e caisse de costas em frente dele.
Nesse momento tudo se apagou. Eu não via mais os dois homens ou o Afonso. Via apenas uma floresta, vi uma pequena menina que me era familiar. Vi um cavalo branco com um amuleto rosa com o numero 12. Estaria a sonhar? Ou então não?
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Avalon
Fantasy'Nós eramos 6 amigos, 6 aprendizes, 6 poderosos. Eu chamo-me Inês, e julguei ter tudo controlado e achei-me poderosa, quando por fim...perdi toda a gente que amava em busca da casa que nunca foi minha.'