B de Bêbada

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Maio de 2014: presente.

— Clear? — digo.

— Jimmy-Jimmy! — ela responde surpresa. — A que devo a honra de tua ligação?

— Só queria saber como vão as coisas aí em Chicago... Sabe? Conversar e... — me interrompe.

— Ficou sabendo do casamento dela, né?

Eu ainda tinha esperanças de que aquele casamento estúpido fosse só uma pegadinha de péssimo mau gosto, mas neste instante, não me  resta mais nada além de acreditar no que aquele convite me contou.

— Você é a pior melhor amiga de todas — respondo imediatamente, tentando não parecer abatido.

— Como ficou sabendo? Quero saber quem foi o desocupado que foi te contar! Poxa... Eu e as garotas estávamos tomando o maior cuidado pra você não se machucar o aí...

— Deus, Clear! — falo ofendido. — Você é a pior melhor amiga de todas mesmo. Acha que sou um adolescente bobinho? Sou um homem, sei lidar com o casamento da minha ex.

Espero uma resposta imediata, mas ela se cala.

— Clear? — chamo, me perguntando se a ligação está ruim ou se ela teve algum problema.

— Chorou a noite toda, né?

Abro a boca, surpreso por seu chute certeiro. Agradeço por isto ser uma ligação e ela não ver minha cara de "como você pode estar sempre certa e sempre saber de tudo?".

(Clear costuma estar certa e adora isso).

— Deus... — ela diz ao traduzir meu silêncio — Como soube disso?

— Ela me convidou — respondo sem humor, abrindo a geladeira e pegando uma garrafa de vinho.

— O quê?! — aposto que ela encara o telefone do outro lado da linha — Amie não faria isso com você. Ela não... — a interrompo.

— O endereço no envelope... É a letra dela. — despejo o vinho na taça — É a droga da letra dela, Clear...

Esta frase doeu.

"É a droga da letra dela".

E eu não sei se dói mais por eu conhecer a letra dela tão bem ou se dói mais porque a letra, tão leve dela, é a letra de quem está se casando com outro alguém.

— Eu não entendo... — quase consigo ver a expressão incompreendida dela — Por que ela faria isso?

Acho que Clear está decepcionada por não ter plena noção do que está havendo.

Eu aproveito para beber um gole intenso.

— Você vai ao casamento, então? — digo, ao terminar.

Ela suspira. Já sei sua resposta. Ela vai.

— Você é meu melhor amigo, eu te amo, fiquei arrasada quando terminaram, mas Amie é minha prima... Eu tenho que apoiá-la.

Reviro os olhos. Ela tem razão.

— Todos os nossos amigos vão, né? Que vergonhoso! Devem estar com pena de mim.

Mais um gole, dessa vez mais leve.

— A maioria vai, sim. Se te serve de consolo, não aceitei o convite para madrinha.

— Ah, é? — ri — Por que não?

— Porque um dia eu disse que seria a madrinha de casamento de vocês e sei que, em um universo paralelo, eu sou.

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