A de Amie (ou de amor)

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Maio de 2014: presente.

Meu nome é Jimmy e... Bom, essa é a minha cabeça. Onde eu formulo minhas ideias, lembranças e a minha primeira impressão de tudo o que acontece ao meu redor. Eu costumo conversar comigo mesmo, assim, dentro da minha cabeça, fingindo que estou contando uma história a alguém. Sempre fiz isso, mas depois que me mudei pra Califórnia e deixei minhas companhias, faço o tempo todo e com mais frequência.

Meio maluco? Nah... Todo mundo faz isso ás vezes (eu acho e espero).

Eu decidi fazer esta reflexão agora porque tá tudo uma bagunça. Bagunça em todos os sentidos.

Eu sei que deveria me contar estas coisas em ordem cronológica, mas, como eu disse, está tudo uma bagunça. Quem sabe eu não me organize no final disso tudo. Ou, quem sabe, eu não esteja tão desorganizado assim... As letras do alfabeto têm uma ordem, mas elas só são palavras se estiverem fora de ordem de um jeito que faça sentido. Pretendo fazer isso aqui.

Esta é a letra A.

A de Amie, a causadora disso tudo.

Neste momento estou entrando no meu apartamento com passos pesados, assim como minhas roupas, também pesadas devido a chuva que levei no caminho de volta pra cá.

Eu esqueci o guarda-chuva quando sai de manhã, às pressas. Mas como poderia ter lembrado? Como lembrar de pegar o guarda-chuva quando recebi a pior notícia de todos os tempos logo pela manhã?

Chequei a correspondência. Chequei os números da conta de água, luz, gás e internet. Fiquei feliz com os resultados, pois uma pessoa sozinha que ganha bem não precisa se preocupar com valores.

Mas, na última carta, o envelope preto de enfeites dourados me chamou a atenção. Então eu o abri, com curiosidade, mas sem perder a calma.

Estava escrito: "convite de casamento" com uma caligrafia bonita impressa com tinta preta. A primeira coisa que senti foi euforia por estar sendo convidado a algum casamento. Pensei de qual dos meus amigos era e por mais que nenhum nome tivesse aparecido na minha cabeça, fiquei feliz por terem lembrado de mim.

Foi só quando li a frase de baixo que arregalei os olhos e instantaneamente meu estômago se contraiu e minha garganta fechou.

Também de letra bonita estava escrito o nome da Amie ao lado de Leonard, um cara que eu não tenho nem ideia de onde saiu.

Eu li e reli o envelope mais de doze vezes e cada vez que lia meu coração perdia mais um pedaço.

Eu, meio sem reação, enchi os olhos de lágrimas tristes, deixei o envelope no balcão, peguei as chaves e sai, sabendo bem para onde iria, mas mesmo assim, sem rumo algum.

Eu chorei no táxi, observando as coisas passarem depressa pela janela e pensei em como eu tinha estragado tudo, em como eu fiz tudo errado mais uma vez.

Agora eu estou encostado na porta, aliviado por voltar pra casa depois de um dia cruel, onde não consegui me concentrar no trabalho porque não recebi a notícia do casamento da minha ex-namorada, mas também o convite de casamento dela. Por que Amie quer que eu a veja se casando com outro? Ela por acaso me odeia?!

Jogo as chaves no balcão, sem ânimo algum e vou ao banheiro. Precisa de um banho para lavar a alma, mas sei bem que, na verdade o chuveiro só servirá para abafar meu choro frenético. 

Eu não entendo o que está acontecendo. Não entendo como ela pode estar, simplesmente, casando assim. Tudo o que tivemos, tudo o que vivemos... O que foi que aconteceu? Foi tudo uma mentira?

Choro alto, fungando.

Não quero que seja só uma mentira...

Amie foi meu sonho mais bonito. Amie foi minha professora da vida, do amor e das coisas que a gente conta.

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