O ABC do Agora

U de Universo

Maio de 2014: presente.

Tiro o cinto e vou correndo em direção a saída, sem me importar de empurrar quem está no meu caminho.

Sinto olhares de reprovação sobre mim, mas não ligo. Eu mal consigo acreditar que entrei em um avião e não morri.

Desço as escadas e, ao pisar no chão, sinto-me tão feliz que poderia beijá-lo.

Eu quero gritar, quero extravasar todo o pânico que senti e tive de conter.

Sigo o fluxo de pessoas para a esteira, onde nossas malas serão pegas. 

Ando por alguns minutos até ver minha mala azul de rodinhas e sorrio, indo até ela.

Arrasto-a pelo chão do aeroporto e, diferente de antes, o barulho das rodinhas não me incomoda.

Vejo pessoas se abraçando e acho isso bonito. Deve ser naquela direção que Brandon está me esperando.

Caminho até lá, o encontro com um grande sorriso no rosto, olhando pra mim.

— Jimmy! — ele diz, feliz.

— Brandon! — o abraço, calorosamente. — Você está um arraso, hein! Andou malhando?

— Sabe como é, né? Tiraste a barba! Nem parece o mesmo homem.

— É porque não sou — falo, inspirado.

— Ah... Jimmy, tem algo que eu preciso te contar... — ele diz, coçando a cabeça.

— O quê?

Ai, meu deus. O que é que deu errado agora?

Ele aponta com o olhar para algo atrás de mim e quando me viro, vejo a minha pequena Clear, correndo em direção a mim, espalhando um arco íris por onde anda.

Eu vou em direção a ela, que pula no meu colo e me abraça, sorrindo. Eu teria caído, mas ela continua leve.

— Eu senti tanto tua falta... — fala, me apertando.

— Eu também, Julliet... — a aperto mais forte.

Julliet é o segundo nome da Clear e ela odeia quando chamam-a assim.

— Seu idiota teimoso! — disse ainda nos meus braços.

— Como é que não me matou ainda?

(...)

— Espera. Eu ainda não entendi uma coisa. Como Clear ficou sabendo que eu viria? — pergunto, já dentro do carro a caminho da casa do Brandon.

— Ah, pequeno, Jimmy... Ainda não entendeu? — ela diz, virando a cabeça para trás para me olhar. — Não podes esconder nada de mim. Eu descubro. Eu sempre vou descobrir.

— Ameaçou ele, né? — digo.

Brandon começa a rir.

— Não! Eu apenas não sou boba. Eu perguntei quem tinha passado meu número, ele disse que foi você e então eu pensei: por que Jimmy ligaria para Brandon, assim, do nada?

Sorrio.

— Senti falta dos teus dons de detetive.

— Eu sei! — volta a olhar para frente — Mas então, quais são teus planos? O que você vai fazer?

— Bom... Eu vou até ela e... Eu ainda não sei o que dizer, mas...

Clear coloca a mão nos olhos, reprovando-me em silêncio.

— Eu sei que acha essa, uma péssima ideia, mas eu não vou desistir.

— Eu sei que não vai. És um idiota teimoso. E eu nem deveria estar falando com você! Não me avisaste que viria...

— Você me mataria! Me convenceria a não ir e eu não podia lidar com tua reprovação no momento.

— E você pode lidar com a reprovação dela?

— O quê? — digo, confuso.

— Leonard é um bom partido. O que você espera fazendo isso?

Brandon a olha de relance, ele sabe que ela será cruel com as palavras.

— Eu não sei bem o que eu quero, mas... — abaixo o olhar, triste — Eu não quero perdê-la, Clear...

— Você nunca perderia a Amie, Jimmy! — me olha — Ela sorri quando você é o assunto da conversa. Você sempre terá um pedaço dela contigo e ela um pedaço teu, mas ela está seguindo em frente. Você deveria seguir também.

— Ela não tem um pedaço meu. Ela me tem inteiro, é por isso que estou aqui.

Brandon estaciona o carro, ficamos em silêncio.

— Eu vou levar suas coisas lá pra cima, Jim — ele me diz e sai, deixando-nos sozinhos.

— Me preocupo com você — Clear continua, com lágrimas nos olhos. — Eu venho cuidando de ti desde quando nos conhecemos, não queira que eu não cuide agora. E se ela disser não, Jimmy?

— Eu sei que você tem medo que eu me machuque. Eu também tenho. Você acha que eu não pensei nisso? Eu estou me arriscando porque não poderia deixá-la casar sem dizer tudo isso antes. Eu pensaria nisso pelo resto da vida! Você sabe como eu sou...

Ela fica em silêncio, pensando. Até que depois de alguns segundos, coloca os joelhos no banco do carro, vira pra mim e segura minha mão.

— Eu sei que ela é única pra ti e eu realmente não consigo imaginar a dor que você deve sentir por ela estar casando com alguém que não é você... Mas eu quero que saibas que, como sempre, como fazemos desde pequenos, te apoiarei nisso.

Sorrio. Eu tenho a melhor amiga do mundo.

— Eu vou te apoiar porque você atravessou o país por ela, porque você enfrentou teu medo e porque você é mais que meu melhor amigo, é meu irmão. Não precisas fazer as coisas como eu faço. O fato de sermos tão diferentes é um dos maiores motivos de eu amar tanto você.

Seguro sua mão com força, feliz por receber seu apoio.

— Mas, lembre-se, se der errado, se ela não fugir com você ou seja lá o que você estiver pensando em fazer, tudo bem. Tens um universo inteiro dentro de ti. Tua vida é bem mais que uma garota especial e ela não vai acabar com o "não" dela. Eu não vou deixar isso acontecer.

— Eu amo você, irmãzinha.

— Amo você também, Jimmy-Jimmy...