um momento

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Olhando nesse momento para o mar claro de fortaleza me sinto leve, me sinto livre, livre de tudo e de todos, uma semana que tenho essa sensação, não tem como não se sentir bem-estando aqui, tudo conspira para a paz.

Sei o quanto minha família estão me procurando, mas eles nunca saberão onde estou, tudo porque cobrir meus rastros é fácil. O clube sempre teve várias " filiais" e aqui tem uma delas, o dia todo me dedico aos treinos, pedi para não ser mandada para a realização, tudo porque se eu matasse saberiam e assim chegariam até onde estou.

A saudades de todos está grande, mas não voltarei antes do fim das minhas férias. Esse tempo quero usar para pensar e continuar determinada nos meus objetivos. Tudo era tão fácil quando ninguém sabia o que eu sou, sim confesso que estou com vergonha deles, mas no fundo sei que eles entendem, mas não estou preparada para ver nenhum deles nesse momento.

Deixando aquela vista maravilhosa do nascer do sol, entro no carro que o clube arranjou e sigo para lá, hoje é mais um dia de forçar os limites do meu corpo, quando entro no treino eu não nada mais que Shooter.

Tudo que eu precisava nesse momento era de um bom sexo quente, mas não vou me permitir a fazer isso com ele, sei que não conseguiria quando tudo o que eu queria era que fosse com ele, então me contento com um banho de banheira relaxante.

Sendo atrapalhada pelo barulho na minha porta eu saio da calmaria que eu estava, apenas coloco um roupão e sigo em direção a pessoa inoportuna que ousa na bater tão tarde em minha porta.

Assim que abro me espanto com quem vejo, como isso foi acontecer? E como me achou?

- Como?

- Achou que eu não saberia onde você estaria?

- Bianca, entra! - Vejo ela entrar com seu uniforme, que eu não sabia que ela guardava ainda.

A história se resume que ela é o que eu era, a anos atrás, quando eu sai pela primeira vez, ela abandonou definitivamente isso. Sempre fomos muito unidas e lá dentro éramos imbatíveis.

Quem entra tem a opção de deixar definitivamente e essa foi sua escolha, ela nunca matou alguém e foi por não conseguir ver alguém morrendo na sua frente.

- Eu sabia que se isso viesse átona você viria para a filial daqui.

- Sempre me conhecendo demais.

- Todos estão preocupados.

- Eu sei.

- Chefe mudou? Não reconheci o nome aquele dia do telefonema

Juntas naquela noite relembramos muitas de nossas histórias lá dentro, sei que ela nunca ficaria contra minha escolha de ter voltado, mas preferi não falar. Sempre fui muito discreta em relação a tudo e isso não seria um livro aberto.

RICARDO

Ver minha mulher viajando para um lugar que nem imagino onde seja me deixa extremamente desconfiado que ela saiba onde minha irmã está. Como ela disse que em dois dias estaria de volta. Sua desculpa foi esfarrapada e não colou comigo, mas preciso confiar nela e no que foi seu motivo de viajar.

Tentei rastrear sua passagem, mas estranhamente seu nome não estava em nenhum voo. Seja como ela foi, teve cautela de não deixar seu rastro para mim, essa mulher é esperta.

Aqui novamente em frente à casa do meu amigo tento contato com ele, bato pela dizima vez em sua porta, a porta é aberta com um estrondo.

- O que você quer?

- Temos que conversar, sem se revoltar querido amigo.

Se a conversa foi boa? Responderia sua pergunta se eu falasse que nós estávamos bêbados e falando de nossas mulheres? Se sim, a amizade continua a mesma.

Parecemos dois idiotas adolescentes com sua primeira desilusão amorosa.

Minha cabeça está explodindo, olho para o lado vejo a situação que está a sala de Santiago, copos e garrafas de bebidas espalhadas, ele está no meio de uma garrafa de uísque. Sei o quanto ele é infernal de ressaca.

M

São semanas passadas, hoje é meu dia de voltar para a minha realidade, pegando minha mala saio do quarto de hotel em que eu fiquei esse mês. Necessito de meu trabalho novamente, toda minha rotina faz falta e eu desejo tê-la novamente.

A segunda do início com um dia nada típico de frio, coloco uma calça jeans clara, blusa de tricô bege, completo com uma bota preta de cano baixo. Meus cabelos presos, termino passando um perfume. Pego apenas minha bolsa e saio de casa indo para o tribunal.

Como cheguei muito tarde ontem, optei por deixar meu celular da mesma forma em que estava quando viajei.

Assim que entro no serviço sou cumprimentada por todos que passam por mim, alguns me param perguntando como foram as férias e só resumo como boa. Ninguém sábia do que houve e ficaram sem saber, assuntos particulares permanecem em particular.

Com sorte no caminho não esbarrei com nenhum deles, mas sei que em breve saberiam que eu estava de volta. Mesmo amando meu irmão eu não consigo o perdoar por todo o drama que ele fez em cima disso, ele agiu sem pensar e isso eu recrimino, por que desde sempre aprendemos que devemos ter controle sobre nossas ações e como falamos com as pessoas no nosso momento de raiva.

Sentada novamente na sala em que está uma grande parte da minha vida, observo o que se passou e percebo que estarei o dia completo de advogados para ser avaliados.

Uma grande parte do que sou se deve a essas pessoas que passam em minha sala, saber que eu ajudo de alguma forma não tem preço.

O dia se passou rapidamente que nem vi que já era meu horário de ir embora, pego minha bolsa e passo pela porta da sala e vejo no início do corredor as pessoas que foram motivo de minhas férias. Santiago e Ricardo sorriem de algo que Bianca disse. No olhar deles em minha direção vejo apenas uma coisa, dor, mas não sei definir o motivo, ando para ir embora, cumprimento Bianca e quando tento sair dali, sinto duas mãos segurando meu braço.

- Precisamos conversar. - Assim os dois falam juntos e sei que não vou conseguir fugir deles por muito tempo.

- Deixe-me ir, eu não quero falar agora, quero descansar.

Psicóloga Onde histórias criam vida. Descubra agora