A jabuticabeira

Capítulo 6

Vitória POV

Acordei no dia seguinte com uma ressaca horrível e sem nem lembrar como eu tinha ido parar em casa. Quando olhei pro lado, vi Ana deitada de bruços e não pude evitar sorrir, mesmo com a dor de cabeça.

Logo me levantei e fui até a cozinha tomar um remédio e fazer um café. Sem açúcar, sempre. Sentei na mesa fazendo um esforço pra lembrar da noite anterior, mas tudo que consegui lembrar foi de Roberta me desafiando a virar as doses de tequila. Me condenei por ter bebido demais.

Terminei de tomar o café e fui tomar um banho gelado. Quando sai, Ana estava acordando. Ela sorriu pra mim e veio em minha direção "Tá tudo bem?"  Ela perguntou inclinando um pouco a cabeça "Eu tô, só não lembro de nada que fiz ontem, to com uma dor de cabeça enorme" eu respondi e Ana desfez o sorriso rapidamente. Senti que havia alguma coisa estranha e a perguntei se eu tinha feito alguma coisa ontem, ela me olhou e disse que não, mas eu não acreditei muito. "Ninha, eu fiz alguma besteira ontem?" Eu perguntei com medo da resposta "Porque eu realmente não lembro de nada nada, só lembro de eu virando umas doses de tequila lá" eu continuei, diante do silêncio dela. Ana ficou em silêncio por alguns segundos antes de me responder "Você chegou em casa e dormiu, Vi, pergunta pra Roberta se você aprontou alguma na tal balada" ela falou num tom sério demais pro meu gosto, e eu apenas assenti, porque não sabia se acreditava nela, levando em conta minha confiança e amor por ela, ou se duvidava diante das expressões estranhas e dos tons de voz diferentes.

"Hoje tem ensaio, né?" Aquele silêncio que tinha se formado depois da conversa estava me incomodando, então puxei assunto. "Tem sim, mas só a tarde, essa manhã a gente ta livre" ela respondeu, no mesmo tom sério de alguns minutos atrás. Eu não sabia se a pressionava para que me dissesse o que havia acontecido ou se deixava quieto. Havia dias que Ninha acordava estranha mesmo, às vezes eu nem fiz nada, mas essa dúvida estava me atormentando.

O silêncio ensurdecedor foi rompido pelo telefone de Ana tocando. "Oi, Mike"  ela respondeu a chamada, e o sorriso que tinha se formado nela ontem enquanto me falava dele, não se formou agora. "Hoje tem ensaio, não vai dar pra gente se ver" o tom dela ainda estava estranho, e eu apenas analisava pra ver se conseguia desvendar o que aqueles olhinhos pretos estavam querendo passar. "Vitória? Ta tudo bem?" Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Ana e só naquela hora percebi que a olhava fixamente, sem nem piscar. "Ta sim..." forcei uma risada, suspirei e torci pra ela não ter percebido meu nervosismo "...vamo almoçar fora hoje? A gente podia ir direto pro ensaio depois, que que cê acha?"  A olhei esperando uma resposta que veio logo em seguida "Vamo, você paga hoje" Ana respondeu num tom mais brincalhão pela primeira vez no dia e eu soltei uma gargalhada.