12º Capítulo

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Acordei naquela manhã com o despertador do meu celular. Olhei para o lado e Benedict ainda permanecia em um sono profundo. Me sentei na beira da cama e estiquei meu braço até o aparelho, desligando totalmente o som e podendo me espreguiçar. Fui até o banheiro, tomei um longo banho e fiz minha higiene matinal, em seguida preparando o café da manhã e voltando até o quarto. Benedict permanecia imóvel, então resolvi acordá-lo.

- Ben? Ta na hora. – Eu o balancei levemente – Vamos, acorde.

- Lucy? – Ele colocou a grande mão contra a luz que estava em sua direção, me olhando com clareza e logo sorrindo – Bom dia.

- Bom dia, meu amor. Você não disse que teríamos que acordar cedo hoje?

- Sim, na verdade, a intenção era eu acordar na sua frente.

- Então vai se arrumar que o café está na mesa.

- Tudo bem, desço em cinco minutos.

Me dirigi de volta até a cozinha, e ele logo apareceu, se sentando à minha frente.

- Vamos viajar. – Ele disse – Para Manchester.

- O quê?! Assim, do nada?

- Não foi do nada, é que eu não me lembrei de falar antes.

- Mas hoje é o nosso aniversário de quinze anos de namoro!

- Mas Lucy, é importante. A Universidade pediu para que fizéssemos uma palestra lá e eu aceitei por nós dois. Vai ser legal, você sabe.

- Tudo bem, e que horas vamos?

- Agora mesmo.

- Nossa, sério?

- Sim, deixa essa preguicinha de lado e vamos, tá?

- Tudo bem, tudo bem.

Me rendi e me arrumei rapidamente para a viagem repentina, que eu achava muito estranha, por sinal. Arrumei uma bolsa comum e coloquei dentro do carro.

As horas de viagem foram realmente cansativas, mas ao passar pelo portão que indicava que havíamos chegado à cidade, senti um turbilhão de emoções e soube que Benedict sentiu o mesmo. Era como voltar ao passado, me senti de novo com dezoito anos, o que me levou a lembrar do real motivo para que Benedict ainda estivesse ao meu lado até hoje. Ele era o primeiro e o grande amor da minha vida, a pessoa mais importante da minha história. Não havia dia melhor para se recordar disso.

O carro estacionou na frente da Universidade de Manchester. Nós saímos e caminhamos de mãos dadas até o local, onde entramos e olhamos minuciosamente para cada canto daquele lugar. O primeiro lugar que eu avistei foi a árvore da lateral, onde nós costumávamos abusar da sombra que ela nos proporcionava. Sorri subitamente quando notei que Benedict olhava para o mesmo lugar. Ele avançou contra a árvore ainda de mãos dadas comigo, e se sentou à sua sombra. Eu fiz o mesmo.

- Que saudade disso. – Ele disse – Foram bons momentos aqui.

- É, foram mesmo. – Eu recostei minha cabeça sobre seu ombro.

- Que bom que vieram! – A atual diretora nos abordou – Os nossos universitários estão ansiosos para a palestra. A viagem foi boa?

- Foi sim e, a propósito, desculpe o atraso. – Benedict se levantou imediatamente – Acabamos perdendo muito tempo na estrada.

- Sem problema, vocês já podem se dirigirem ao auditório?

- Claro. – Ele sorriu.

A senhora gordinha de pernas curtas nos direcionou até o auditório. Os universitários estavam mesmo animados com a nossa presença e todos eles mantiveram os olhos fixos em nós durante o tempo todo. Embora tenha sido tudo muito inesperado por mim, eu gostei muito da experiência de estar com aqueles jovens que ambicionavam por uma carreira bem sucedida, bem como eu era naquela idade. Benedict estava animado e quase não parava de falar, o que me fez rir algumas vezes. No fim da palestra, estávamos esgotados e fomos caminhando em passos bem lentos pela Universidade, sendo algumas vezes abordados por alguns estudantes que passavam corridos pelos corredores.

- Não mudou nada. – Eu observei – Está tudo do mesmo jeitinho.

- Isso é ótimo, não? Foi aqui que tudo começou.

- Exatamente aqui. – Eu ri.

- É, eu sei, nesse corredor eu falei com você pela primeira vez.

- No meu primeiro dia.

- Foi muito bem recepcionada.

- Com certeza. – Eu ri – Que abuso da sua parte tentar chance com uma caloura.

 - Deu certo.

- Você deu sorte.

Depois de espiar cada cantinho da Universidade e recordar de cada momento vivido lá, resolvemos passar no Hotel para descansar, afinal, não havíamos parado desde que chegamos de viagem.

Benedict estava dirigindo e eu estava quase cochilando no banco da frente, mas ao mesmo tempo, lutava contra meu sono para poder rever aquela cidade que foi o meu lar durante os primeiros melhores e mais problemáticos anos da minha vida.

Passamos em frente de um posto de gasolina, e mais a frente havia uma lanchonete. Eu reconheci no mesmo momento. Foi ali que eu havia lanchado com Andrew quando nos perdemos no passeio de carro, e aquele posto tinha nos trazido de volta para casa. Eu tentei disfarçar a vontade de rir, para que Benedict não ficasse perguntando o motivo. Mais adiante era um lugar completamente deserto e eu também o conhecia. Aquele era o caminho que tínhamos que tomar para chegar até o teatro abandonado que Benedict cuidava.

- Ben, certeza de que é esse o caminho?

- Vamos fazer uma parada antes.

- Onde?

- Você sabe.

- Posso imaginar, mas...

- Chegamos. – Ele me cortou, estacionando o carro e saindo logo.

Paramos na frente do teatro, que tinha uma aparência bem mais conservada do que naqueles anos, o que me surpreendeu.

- Vamos entrar. – Ele disse.

- Ben, tá louco?! Olha como está bem conservado! Alguém deve estar cuidando daqui.

- Eu estou. – Ele riu – O dono desse teatro era um senhorzinho e ele me deixava tomar conta das coisas por aqui naquela época. Quando estava na fase terminal, ele deixou que eu comprasse o teatro e desde então eu o mantenho bem conservado, mas sem mudar as coisas de antes.

- Como você nunca me contou isso antes?!

- Eu estava esperando o momento certo. – Ele piscou e me puxou para dentro do teatro.

Estava mesmo tudo da mesma forma, os objetos nos mesmos lugares. A única diferença eram os lustres grandes que traziam uma iluminação bem melhor ao local, que me permitia olhar com mais clareza para todos os cantos que se passaram despercebidos por mim durante todo aquele tempo.

Ele pegou minha mão delicadamente e me levou até o centro do palco, ficando à minha frente.

- Eu pensei em te levar à Liverpool, onde te pedi em namoro. – Ele disse – Mas então a diretora da Universidade me ligou e disse sobre a palestra. O que logo me veio na cabeça foi que não haveria lugar melhor do que esse, já que tudo começou aqui. Eu me lembro de tudo com tanta clareza que nem parece que hoje se completam quinze anos desde o dia em que eu te vi. Ei, Lucy, eu estava certo quando pensei que você era a garota mais linda de toda a Universidade e a melhor coisa que fiz na minha vida foi ter vindo atrás de você. Eu te amo, e quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado. Então, eu queria saber se...

Eu já sentia meus olhos marejados quando ele deu essa pequena pausa, abrindo um pouco o casaco, de onde tirou uma pequena caixinha de veludo. Ele a abriu, e tinha um anel dentro.

- Quer se casar comigo?

In My Life IIOnde histórias criam vida. Descubra agora