19º Capítulo

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Estava trancada no meu quarto enquanto meus pais estavam instalados na sala, provavelmente preocupados com meu bem-estar, embora não estivessem felizes com minha atitude. Já havia escutado um discurso sem fim sobre o erro que eu cometi, como se tudo que já tivesse acontecido não fosse suficiente. Além disso, eu já me via grandinha demais para receber sermão dos meus pais, uma pena que eles não pensassem da mesma forma.

Quando estava prestes a dormir, ouvi a voz de Matt se aproximando, e em seguida dois toquinhos na porta e logo o avistei entre o pequeno vão entre a porta semiaberta e a parede.

- Posso entrar? – Ele perguntou.

- É claro que sim.

Ele se sentou ao meu lado da cama, e em seguida deitou ao meu lado. Acariciou a minha face e em seguida deslizou os dedos entre os fios do meu cabelo.

- Falou com ele? – Perguntei.

- Sim.

- Como ele está?

- Bem, na medida do possível.

- E... ele falou de mim?

- Sim, ele mandou agradecer você pelos dias que passou lá. Soou mais como um “eu a amo” pra mim.

- Agradecer pela minha presença e dizer que me ama tem uma grande distância.

- Você precisava ver o jeito que ele falou de você.

- Provavelmente magoado.

- Sim, muito, mas eu ainda via carinho, compaixão talvez.

- É uma boa coisa.

- Ele perguntou sobre o bebê.

- Mesmo?

- Lucy... esse bebê é de quem afinal?

- Gostaria muito de poder te dar uma resposta certeira.

- Você deve ter pelo menos uma intuição.

- Benedict, eu acho.

- Acha mesmo ou quer muito que seja?

- Um pouco dos dois.

- Ah, prima... – Ele respirou fundo – Não entendo como foi se meter nisso.

- Se eu pudesse voltar atrás, eu mudaria tudo.

- Eu sei que mudaria, mas eu não tenho uma TARDIS de verdade.

- Seria ótimo se tivesse, Doutor.

- Vamos concertar tudo no presente, tudo bem?

- Estou totalmente sem fé de que ainda há concerto.

- Ao contrário de você, tenho certeza de que tudo vai voltar a ser como antes. Ou quase isso. Lucy, você precisa descansar um pouco, se desconectar de tudo isso e dar paz pro bebê.

- Eu sei, mas é difícil.

- Tenho uma ideia, se está sendo difícil pra Andressa, imagino pra você...

- Não deixa a Ands se preocupar com tudo isso.

- Eu não faço milagres. – Ele deu uma rápida risada.

Matt ficou algum tempo a mais comigo, e depois retornou a sua casa. Todos os dias ele fazia uma rápida visita, e as vezes trazia Andressa consigo, além das notícias sobre Benedict, que hora ou outra falava sobre mim. Andrew também estava muito presente, queria me animar e por alguns minutos ele até conseguia. Era importante aquele apoio todo, embora eu realmente não merecesse.

Os dias passaram realmente muito lentamente e os meses foram se formando. Benedict teve alta e eu me senti muito feliz por isso. Na verdade não só eu, como todos. A família de Ben havia arranjado uma nova casa para ele, e foi pra onde ele foi após tudo. Fiquei sabendo que ele ainda sentia falta da nossa casa e do conforto que tinha aqui, embora não o faltasse nada no novo lar. Exceto eu.

O tempo passava, e cada vez eu me via mais distante de Benedict. Matt e Andressa permaneceram visitando ele e não esconderam de mim que ele já não falava mais meu nome com tanta frequência, ficando cada vez mais raro uma conversa sobre mim. Não podia deixar de me sentir vazia por isso, já que não houvesse nem sequer um único dia em que eu não pensasse ou falasse dele, mesmo tendo tanto tempo sem ver o seu rosto pessoalmente.

Era uma manhã de domingo, eu acabava de tomar o meu café da manhã quando ouvir o meu celular tocando insistentemente. Me dirigi até ele com muita indisposição e atendi sem ao menos ver quem era.

- Lucy, é o Mark Gatiss! Estou atrapalhando? – Ele disse do outro lado da linha.

- Ah, Mark! De forma alguma. Posso ajudar em algo?

- Na verdade, pode sim. Você é minha Irene Adler!

- Com certeza. – Eu dei uma risada fraca.

- Vamos retomar as gravações. Os três primeiros episódios foram muito bem aceitos pelo público e, com tudo o que houve, achamos melhor adiantar essas cenas para tranquilizar os fãs que adquirimos.

- Por mim tudo bem, mas o Benedict está pronto pra isso?

- Não se preocupe com ele, já conversamos com os médicos e eles aprovaram e até pensam que pode ser bom para a recuperação dele.

- Ah, que bom. – Eu realmente estava feliz por aquilo – E quando começamos?

- Na semana que vem, te envio um e-mail com horário.

- Pode contar com minha presença.

Nos despedimos e eu desliguei o telefone mais feliz do que nunca. As gravações voltarem era sinal de que eu poderia rever Benedict e, por mais que isso também pudesse não ser saudável para nós dois, eu tinha que arriscar, vê-lo de novo, embora o fato de Martin também estar presente pudesse destruir tudo. Ainda assim, passei a semana toda com aquilo na cabeça, pensando em como o encontro seria e também me preparando para o papel, que mais tarde descobri que eu teria que ficar nua naquele episódio. Claro que eu fui consultada antes de tomarem essa decisão, mas eu achei interessante para a história uma Irene Adler mais provocante do que nos livros. 

Quando finalmente chegou o dia combinado, acordei bem cedo e tomei um longo banho, me vestindo bem e fazendo um café da manhã reforçado, tentando espantar de todas as maneiras o sono que me açombrava pelas manhãs. Dirigi até o estúdio, dei uma volta por lá dando um "olá" para toda a equipe, até chegar no corredor dos camarins, onde já poderia me preparar para o papel.

Mas então, parado alí, bem na frente da porta do camarim dele, estava Benedict, me olhando dos pés à cabeça, expressão séria, mas ao mesmo tempo surpresa. Seus olhos estavam firmes e fixos em mim, mas eu o conhecia bem o suficiente para perceber que ele não estava tão seguro de sí naquele momento. Um turbilhão de sentimentos me atingiu em cheio só de pôr os olhos nele e minha vontade foi de correr e abraçá-lo até que meus braços doessem. Mal havia saído de meus pensamentos, e Martin apareceu bem atrás de Benedict.

- Lucy! – Ele exclamou, parecendo feliz em me ver.

In My Life IIOnde histórias criam vida. Descubra agora