Já se passara quase vinte dias após ter retornado à Suster, onde, embora em um mundo com bilhões de pessoas que diziam me amar como filho, me sentia sozinho em uma gigantesca mansão, sem ter muitas atividades dignas de uma criança aventureira.
Cheguei à cozinha e apesar de notar que Leandra estava atarefada, curioso lhe convidei:
— Leandra, brinque comigo.
— O quê? — Resmungou ela.
— Brinque um pouquinho comigo.
— Até parece que tenho tempo! Não vê que estou cheinha de serviços!?
Dei de ombros e saí em sentido ao grande pátio encontrando o senhor Tony no corredor.
— Oi Regis — cumprimentou-me, me abraçando com sorriso largo. — Quanto tempo!
— O senhor quer brincar comigo?
— Brincar!? De quê?
— Ah! Qualquer coisa! — Dei de ombros. — Pode ser na piscina.
— Infelizmente não vai dar. Estou cheio de compromissos pessoais.
— Só um pouquinho!
— Qualquer hora vou tirar uma folga pra passar um tempão contigo na piscina. Tudo bem?
— Tá — concordei triste. — Tchau!
Continuei caminhando para o pátio e em seguida até a piscina deserta, que também tinha um jeito triste e solitária, até parecendo que pedia para que eu pulasse gritando feliz em suas águas esverdeadas.
Acho que aceitei seu convite.
Despi-me, ficando apenas de cueca, deixei minhas vestes jogadas no piso seco e saltei em efeito bomba em suas águas mornas convidativas, passando a fazer grande algazarra e fingindo brincar com outro garoto de minha idade.
Os minutos passavam rápidos e até me sentia feliz, conversando sozinho, saindo e saltando de volta à piscina, como se tal garoto imaginário existisse mesmo e me compreendia sem ressalvas.
— Quem está aí com você, Regis? — Caçoou o senhor Rud que acabara de chegar, me surpreendendo. — Mira!
— Ninguém! — Neguei até vermelho de vergonha. — Sou só um moleque bobo falando sozinho memo.
Ele acabou de chegar, se posicionou de cócoras à margem da piscina, enquanto eu debruçava sobre seu peitoril.
— Que isso, garoto! — Riu ele — Você não é só um moleque bobo falando sozinho messsmo não! Você é um menino que está precisando de um amigo pra se divertir junto. Sabia que a diversão é obrigação da criança?
— O senhor quer se divertir junto comigo?
— Desculpe, mas não dá — levantou-se. — Estou saindo de viagens.
— O senhor diz que tenho que me divertir e não me ajuda. Brincar sozinho é muito chato!
— Pois continue brincando com seu amigo imaginário. Sabia que mesmo eu, apesar de ser um pouquinho mais velho do que você, às vezes também falo com meu amigo imaginário?
— Sério?! — Fiz careta. — E como ele é?
— Idêntico a você — riu ele. — Gosto mesmo de pensar que ele seja você.
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Regis um menino no espaço
Ficção AdolescenteEste é o penúltimo capítulo desta aventura.