Capítulo 4

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Vallentina Borais

Não sei como ele conseguiu saber sobre meu envolvimento naquele sequestro que houve na cidade, o que marcou a história daqui, por sorte meu nome não é citado e somente minha altura e a cor de meus cabelos, que logicamente há muitas mulheres parecidas comigo.

Entrei em meu quarto e fechei a porta, deixei-o fazendo a janta, pela primeira vez comerei algum alimento feito nessa casa e na minha cozinha. Se não fosse pela minha mãe, eu nunca teria abastecido aquela parte da casa, nunca achei que um dia usaria aqueles utensílios, ou melhor, que seriam usados.

-Está pronto! - ouço sua voz junto a duas batidas na porta.

-Já estou indo! - respiro fundo abrindo a porta para me deparar com Carlos parado na minha frente me olhando por inteira. -O que houve? - da um passo na minha direção, então percebo como sua altura é realmente bem diferente a minha, meu olhar atinge seu peitoral se eu não olhar para cima.

-Perdão... - minha vontade é de abraçá-lo, uma vontade não muito comum em mim.

Um homem daquele tamanho pedindo desculpa para uma mulher tão pequena como eu, não deve ser fácil.

Quando ele chegou aqui, havia um ar de soberania nele, de um homem que está sob todas as ordens e ele da o veredito final, mas vendo-o ali, desse jeito, realmente minha vontade foi de abraçá-lo.

-Não precisa pedir perdão, mas já que sabe algo que escondo a sete chave, vai ficar me devendo um segredo seu... - então seus olhos negros ficam azuis como água, e seus músculos ficam rígidos.

-Você saberá na hora certa... - então volta ao normal e pisca algumas vezes trazendo a cor de sua iris ao normal. -Vamos comer? - assenti vendo-o dar passagem a mim.

Passo rapidamente entrando na cozinha e vejo que fez bife acebolado, sorte que pensei na cebola para trazer, arroz e feijão, tem salada e suco de maracujá.

-Pode se servir... - levo um susto, pois ele falou tão próximo a mim que nem senti sua aproximação.

-Você tem que parar de se aproximar feito uma raposa... - ele sorri de lado e cruza os braços enquanto eu pego um prato.

-Saiba que na minha profissão, se você não for como uma raposa que sabe como aparecer e sumir, nunca se dará bem... - balanço os ombros, faço um coque com meu cabelo rapidamente e me sirvo.

-No que trabalha? - me viro para ele, vendo-o rígido novamente. -Esquece, não me interessa... - ele franze o cenho.

-Qual é a razão de não querer saber de minha vida? Vou ficar aqui por muito tempo Vallentina... - então não sei o que dizer, não teria nada demais eu saber de sua vida.

-Ok, então me conte! - me sirvo e me sento a mesa no centro da cozinha. -Onde trabalha? - ele se vira de costas em silêncio e se serve lentamente, ele parece estar pensando como me contar.

-Você disse que é leal... - então vejo seus olhos parar em mim.

-Sim, mas o que isso tem haver? - coloco um garfo de comida na boca e me surpreendo, ele cozinha bem. -Está muito bom... - falo de boca cheia vendo-o dar uma risada contida. -Desculpa! - termino de engolir. -Você cozinha muito bem... Onde aprendeu? - ele sorri orgulhoso e se senta.

-Eu ajudava minha mãe... - assenti e voltei a comer.

-Ainda não me disse o que minha lealdade tem haver com o seu emprego! - então novamente o silêncio.

Então ele começou a comer, e nada de falar comigo, comecei a ficar intrigada.

-Há algo de errado com o que você trabalha Carlos? - vejo-o se arrepiar e continuar a comer.

-Não posso te contar no que trabalho para não te prejudicar... - paro de comer e fito-o.

-Se a polícia aparecer, é para eu não mentir? - ele fica rígido. -Então é... - volto a comer vendo-o me olhar sério.

-Você não vai me expulsar? - ele pergunta firme.

-Um precisa do outro, ou vai negar? - então estamos nós dois parados na cozinha com os pratos ainda cheios.

-Preciso do quarto para me esconder... - fico séria e resolvo não comentar.

Sempre fui contra pessoas que tinham ligação com algum bandido ou pessoa que andava fora da lei descaradamente - como roubo, assassinato etc - mas talvez ele possa trazer a segurança que eu precise.

-O que você trouxe para dentro de minha casa? - ele franze o cenho.

-Sou um ladrão, Vallentina! O que eu traria? - balanço os ombros.

-Nunca fui ladra, como posso saber? - ele respira fundo.

-Só trouxe algumas armas... - assenti e voltei a comer.

Ele fez o mesmo se concentrando no alimento a sua frente. Minha mente não parava, sempre fui certa, em todos os aspectos, e agora eu estava diante de um ladrão, ou talvez mais do que isso. Não tenho a mínima noção de quem seja ele, e pela primeira vez quero conhecê-lo.

Finalizamos o jantar, coloquei a louça suja dentro da pia e me levantei, mas sinto sua mão em meu pulso.

-Eu lavo... - foi taxativo, então somente assenti e voltei a me sentar enquanto observava-o.

Ele tinha delicadeza em lavar cada item, e eu mataria-o se não tivesse, demorei para comprar cada prato de porcelana que tenho e outras coisas caras mas que durariam minha vida inteira. Mas ele lavava tenso, talvez por eu não ter respondido-o sobre ele ser um ladrão.

-Vallentina... - ele finaliza me olhando. -Se quiser me mandar embora... eu... - me levanto e fico de frente a ele.

Sinto que cada vez que estou próxima, cada músculo de seu corpo fica rígido a ponto de quererem estourar, então sorrio.

-Pode ficar! - somente me afasto deixando-o parado no meio da cozinha.

Confesso que uma parte de mim está amando ele morar na mesma casa que a minha, mas minha consciência diz que para eu escondê-lo, não vai ser fácil, e desse mato ainda vai sair muito coelho.

-Espera... - ouço sua voz já no meu ouvido.

Levo um susto pois quase caio, mas sinto suas mãos em minha cintura me colando a ele, então sinto algo duro em minhas costas e fico tensa, ele só pode estar de brincadeira.

-Pode falar... - me afasto rapidamente não acreditando no que senti.

-Está tudo bem? - engulo seco.

-Sim...o que iria falar? - ele molha os lábios o que me faz lembrar inconscientemente do tamanho que senti em minhas costas.

-Você está mesmo bem? - ele pergunta tocando meu ombro e desvio fazendo-o franzir a testa.

-Estou ótima... só preciso dormir! - dou um passo para trás. -Boa noite Senhor Puertas... - seus olhos se tornam tristes e fecho a porta de meu quarto rapidamente.

Era só o que me faltava, eu estar excitada por ele.

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Hormônios à flor da pele...

Votem e comentem, não sejam leitores fantasmas.

Bjs

Aluguel - Coleção HerdeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora