Vou desmoronando aos poucos

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Narrado por José

Saio da casa da Bianca, e nem sei o que eu vou fazer, e nem sei para onde ir. Só sei que eu estou me odiando por dentro, eu sou um fraco.
minha mente vagueia em vários pensamentos, e todos eles chegam a mesma conclusão de que nunca derrotariamos  Marina.
Entro na avenida Filadélfia, a principal de Araguaína, e vou em frente sem rumo.
Como fui parar nisso? Tudo era mais fácil quando eu só era o garoto novato que trocava de colégio todo ano, quando eu era o isolado da sala, nunca pensei que fazer amigos faria isso comigo, não me arrependo de ter me tornado amigo deles, mas só queria saber por que eu nessa maldição? Eu não vi a foto junto com eles, e a Marina ter morado na minha casa não quer dizer nada, então por que eu?
Cheguei na antiga fazenda do meu pai, agora o novo dono é amigo da minha mãe e do meu pai.
Desci do carro abri a porteira e voltei ao carro, entrei na fazenda e fui direto na antiga casa em que eu conhecia tão bem.
Antes do meu pai separar da minha mãe, passavamos todo final de semana aqui.
Estacionei o carro em frente a casa que continua do mesmo jeito dez anos depois e desci.
- Senhor Francisco - Eu chamei e um velho de bengala saiu da casa.
- Olha rapaz  - Sr. Francisco sorriu quando me viu - o moleque cresceu.
- Como vai? - Forcei um sorriso.
- Vou bem - Ele respondeu - qual o motivo ilustre da sua visita.
- Preciso andar - Eu disse - espairecer.
- Pois bem meu garoto, entre aqui e pegue uma bota.
Subi a escada de cinco degraus que levava a área da casa, uma nostalgia me invade, passei minha infância naquele lugar e eu amava tudo isso.
Sr. Francisco me levou até a casa, pelo pouco que eu me lembro ele conservou as paredes amarelo-terra, mas os moveis agora estão mais modernos.
Ele pegou um chapéu de couro bege e um par de botas marrom e me entregou.
- E meu filho como vai sua mãe e seu pai? - Ele pergunta e senta ao meu lado.
- Meu pai esta em Minas e minha mãe esta trabalhando lá na padaria - Respondo.
- Sua mãe é a mulher mais trabalhadeira que eu conheço - Ele disse - agora vai lá andar e se quiser andar em cavalo e só falar, Marta está lá cavalgando também.
Marta foi uma amiga de infância, ela é neta do Sr. Francisco e em todas as vezes que ele vinha aqui ela vinha juntos e brincávamos juntos de pega-pega, pique-esconde, e andávamos a cavalo  junto, eu sempre a carregava já que ela não cavalgava bem na época.
Fui caminhando, tudo era a mesma coisa, o pé de jabuticabeira que eu e meu irmão vivíamos em baixo catando as jabuticabas e comendo-as, as centenas de  pés de coco que meu pai cultivava e o cheiro maravilhoso de fazenda que fazia tempo que não sentia.
Caminhei até o estábulo agora reformado, entrei lá dentro e uma linda menina de cabelos pretos estava lá acariciando um dos cavalos.
- Marta? - Eu a chamo.
- Meu pai - Ela vira e sorri para mim - José.
Ela corre em minha direção e me abraça.
- Que saudade - Eu digo - você esta linda.
- E você também - Ela me soltou - andou malhando, se eu soubesse que ia ficar tão lindo assim não perderia o contato.
- Não queria ter perdido o contato - Eu disse e tirei o chapéu -  você foi minha única amiga até os meus quinze anos.
- Então você passou dos sete aos quinze anos sem amigos? - Ela pergunta e eu afirmo com a cabeça - como um gato feito você não teve amigos?
- Mudava de colégio todo ano - Eu respondo - por isso evitava fazer amizades.
- Isso é ruim - Ela disse - lembro quando estudávamos juntos no pequeno príncipe - Ela sorriu.
- Sua maria chiquinha era lindas - Brinquei e nós dois sorrimos.
- Vem aqui - Ela disse e me puxou - tenho uma surpresa.
Ela me puxou até o final do estabulo, onde me deparei com um cavalo que eu conhecia tão bem, meu cavalo de infância.
- Relampim esta vivo - Eu digo passando a mão em seu rosto.
- Sim - Ela sorri e começa a acariciar ele também - meu vô não deixa ninguém cavalgar nele, ele fala que é só seu.
- Que saudade amigão - Eu coloco minha testa nele e fico com vontade de chorar.
- Você não vai chorar né? - Ela brinca.
- Estou passando por um momento difícil - Por isso vim aqui, para esfriar a cabeça.
- Quer me contar? - Ela diz - ainda pode contar comigo.
Do nada veio uma vontade de contar tudo a ela, sobre os espiritos e a maldição, então simplismente disse:
- Eu vejo espíritos.
- Fala serio José - Ela brinca e bate de leve no meu ombro - depois você me conta, mas por agora vamos cavalgar, não tem coisa melhor que galopar.
Ela abriu a porta e entramos, ela pegou a sela pendurada na parede e colocou em cima do cavalo.
- Prende aí - Ela me passou a faixa e fiquei sem saber o que fazer.
- Marta faz muito tempo que não faço isso - Eu digo e ela vem para o meu lado.
- Meu amigo perdeu o jeito da coisa - Ela brinca e começa a prender a sela habilmente.
- Tem coisas que eu aprendi muito bem - Eu brinco e ela me encara sorrindo - e não me zoa, eu que carregava você em cima do cavalo.
- Posso te zoar sim, agora sou bem melhor que você - Ela me desafia.
- Esta desafiando eu e o relampim? - Eu pergunto encarando ela nos olhos.
- Estou - Ela me olha seria - e seu cavalo esta pronto.
Dessamarro ele e puxo acorda até o lado de fora do estábulo, onde esta a égua da Marta já pronta.
Eu monto no relampim ao mesmo tempo que Marta monta em sua égua.
- Até o topo do morro? - Ela pergunta.
- Ok - Eu digo.
Bati o calcanhar no cavalo e ele começou andar, fui mexendo nas rédeas e cada vez Relanpim ia mais rápido, eu e a Marta  estávamos lado a lado, no meio dos coqueiros e com o vento batendo no rosto, era uma sensação incrível de liberdade que infelizmente eu não sentia a muito tempo, Relanpim era habilidoso e ágil, mas eu me distrai e quase batemos em uma árvore, o que deu uma boa vantagem a Marta.
Relanpim galopava muito rápido, mas mesmo assim no final Marta chegou primeiro.
- Comeu poeira - Ela brincou e desceu da égua.
- Não foi justo - Brinquei - ali em baixo fica a bica né?
- Sim, vamos nadar? - Ela perguntou.
- Sim, mas primeiro vou amarrar Relanpim lá perto para ele matar a sede.
Desci do cavalo e puxei Relanpim pela corda até uma árvore perto da agua. A Marta fez o mesmo.
Marta seguiu por uma ponte feita de saco de areia que atravesareiaa bica.
Ela começou a desabotoar a camiseta que estava vestindo e a tirou ficando com o sutiã vermelho a mostra.
- Vai tomar banho de roupa? - Ela perguntou desabotoando a calça.
- Eu não trouxe outra roupa - Eu disse.
Tirei a camisa e quando olhei para ela de novo ela estava tirando o sutiã e então pulou na agua.
- Nada pelado então - Ela disse quando ssubmergiu eu jogou a calcinha perto de mim.
- Tenho namorada Marta - Eu disse - eu a amo.
- Nós vamos nadar e não tranzar - Ela sorriu - apesar de você ser gostoso.
Eu sorri e tirei a calça e pulei na água de cueca mesmo. Nadei um pouco e submergir na parte mais funda da bica.
Marta estava no outro lado ela me viu e sorriu e logo depois nadou até ficar em minha frente, ela foi aproximando seu rosto do meu até eu me afastar.
- Marta eu tenho namorada - Eu disse - eu e você é só na amizade.
Nadei até os sacos de areia e sai da agua, Marta veio atrás de mim.
- Marta você esta nua - Eu disse - serio já esta sem graça, se veste.
- Afs - Ela murmurou - tudo bem.
Nos vestimos e voltamos para o estábulo, onde deixamos os cavalos.
Me despedi do Sr Francisco e da Marta e voltei pra minha casa, subi direto para o meu quarto.
Esse dia me fez bss, eu precisava daquilo mais que tudo, precisava de um momento de paz, eu deitei na cama e dormi.

Acordei e ainda estava escuro, peguei meu caderno de poemas na cabeceira da minha cama e comecei a escrever.

Dentro de mim existe várias versões
Versões que se importa
Versões que estão nem ai
Versões de amor
Versões de ódio
Versões capazes de fazer o melhor
Versões capazes de fazer coisas horríveis
Mas não tenho medo de mostrar as versões ruins
Elas fazem de mim quem eu sou
E se me compararem um demônio
Não me importo
O demônio um dia já foi um anjo.  

Guardo o caderno de volta do lugar,  peguei o livro " Coroa da Meia noite " da Sarah J. Maas e comecei a ler, essa serie é fantastica, o que me faz lembrar que a dois anos atrás meu sonho é viver uma história de livros e hoje que estou vivendo, parece meu pior pesadelo.
Cada vez mais a historia do livro me envolve e me faz esquecer a droga do mundo real, mas logo o despertador toca me mostrando que já são seis e meia.
Levanto da cama coloco o livro na bolsa e vou no banheiro, em meia hora desço as escadas com a bolsa nas costas e vejo que a Aurineide já tinha deixado o café pronto e meu irmão Denison  já estava comendo e Scott meu cachorro estava do seu lado.
- Oi Scott - Me abaixo e ele vem na minha direção, começo a brincar com ele - desculpe estar tão sumido.
- Se não fosse por mim esse cachorro já estaria morto - Denison disse.
- Estou ocupado - Eu digo - estou estudando muito.
Sento na mesa e começo a comer, ignorando completamente meu irmão. Termino o café e vou direto para o colégio.
Entro na sala e só a Rose que tinha chegado. Sento no meu lugar e ela logo senta ao meu lado.
- Que é Rose? - Eu digo com ignorância.
- Eu sei que tem algo de errado com você e seus amigos - Ela olhou nos meus olhos - e meu amor eu vou descobrir.
- Sua obsessão por mim é muito grande em - Eu levanto da cadeira - se eu soubesse que eu era tão gostoso assim teria tranzado comigo mesmo.
Saio da sala sem nem olhar para trás, saio do bloco dois e vou direto para o bloco um, vou direto para o corredor do meio.
Escuto pessoas gritando e logo percebo a voz da Alice e da Bianca, elas estão discutindo com a Diretora Marta.
Paro na porta ao escutar meu nome.
- Marta - Bianca gritou - você não pode mais esconder a verdade do José. Você tem que falar que é mãe dele.
Foi como o chão tivesse desmoronado aos meus pés, tudo que restou girava e nada tinha forma, tudo era um negrume esmagador.
Aos poucos o choque foi passando e ia sendo substituído pela raiva, Marta mentiu pra mim, mas o pior foi minha mãe - - Ou sei lá o o que -, Bianca e Alice terem mentido para mim.
- Me diz que isso não é verdade - Eu bato a porta - me diz que você não mentiu para mim Bianca.
As três me encaram como se não estivesse acreditando que eu estava lá.
- Me responde porra - Eu grito e começo a chorar de raiva - me diz que ela não é minha mãe, me diz que você não escondeu isso de mim.
Ela começa a chorar, mas não sinto pena, eu sinto raiva e nojo, pela primeira vez olhei para a Bianca e não fiquei feliz.
Ninguém me responde e começo a surtar, pego uma foto da Marta da mesa e jogo na parede, as três se assustam.
- Dá para alguém responder - Eu grito mais alto.
- Calma meu filho - Marta fala calmamente.
- Não me chama de filho - Começo  a sentir o gosto salgado das lágrimas que vão descendo.
- Bianca e... Alice - Eu comecei a soluçar - por que? Eu confiava em vocês.
- José - Bianca começou a falar -não sabia como te dizer.
- Com a boca caralho - Sei que estava sendo ignorante, mas não me importa -  eu iria acreditar em você.
- José - Marta disse chamando minha atenção - eu que pedi.
- Foda-se - Eu olhava da Alice para a Bianca - eu confiava em vocês duas,  eu no lugar de vocês contaria, mas que saber, Bianca acabou, acabou tudo, para alegria da Marina, né Marta, já que herdei essa maravilha de maldição de você - Falei com sarcasmo e sai da diretoria sem rumo.

Série Cemitério: Eles Continuam Aqui. Volume 3Onde histórias criam vida. Descubra agora