- Você vai para Fortaleza, Dolabella.
Rebeca recebeu a notícia com alegria. Estava no exército a sete anos, carreira da qual se orgulhava muito. Filha de um major aposentado, se inscrevera no concurso para cursar engenharia quando completara dezoito anos. A maratona fora cansativa, pois foi preciso muita dedicação aos estudos, enquanto seus amigos estavam passeando e se divertindo, ela estava compenetrada nos livros. Mas hoje via que valera a pena, amava fazer parte do exército brasileiro. Acabara bem dizer de se formar, e receber uma transferência provava que era uma boa oficial. Rebeca bateu continência a seu superior e se retirou da sala. Essa lembrança era constante para a moça, que agora se via sozinha naquela cidade. Já havia feito boas amizades no quartel e Amanda era uma delas, em pouco tempo haviam se tornado amigas inseparáveis, porém, havia um tenente que a injuriava, não sabia dizer o por que, pois ele nunca lhe fizera nada. "O homenzinho arrogante", pensava ela toda vez que o via, " mas é bonito e atraente que chega a doer", completava logo em seguida. Não sabia nada sobre o colega de profissão, apenas que morava próximo ao quartel e que todos falavam muito bem dele. Não haviam tido muitas oportunidades de conversarem, pois quando se reuniam no barzinho do seu Afonso, ele ficava de lado e não se misturava com os demais. Ela ficava na dela, apenas o cumprimentando com um gesto de cabeça ou brindando como gostavam de fazer. A reunião no barzinho era sagrada as quartas feiras, era um dia que todos gostavam de curtir e os homens se distraiam assistindo ao futebol.
- Hoje vamos fazer um brinde ao tenente Drumond, que completa mais um ano aqui conosco.- disse o sargento Frias. - Saúde!
- Saúde! - brindaram todos em uníssono, batendo as latinhas de cerveja.
Rebeca acompanhou Amanda, que se dirigiu ao homem para cumprimentá-lo.
- Parabéns tenente, que fique mais uns dez anos.- falou a jovem, sorrindo.
- Ora, Amanda, estamos fora do quartel e a quanto tempo a conheço? Me chame de Eric, por favor.- falou o tenente sorrindo e olhando para Rebeca.
Rebeca sentiu que borboletas voavam em seu estômago ao cruzar com os olhos castanhos, sorriu sem que percebesse e recebeu um sorriso maravilhoso de volta com incríveis dentes brancos e perfeitos. " Meu Deus, que homem é esse?" indagou-se ela tomando um grande gole de sua cerveja. Ele era maravilhoso! Alto, moreno, de ombros largos e firmes mãos, ela pode constatar quando ele apertou a sua.
- Muito prazer, Rebeca.
Ela abriu a boca para pronunciar alguma coisa, mas não saiu nada de sua garganta. "Quando Amanda os apresentou?"
- Me desculpe.- pediu ela, balançando a cabeça, envergonhada, apertando a mão que ele oferecia.- Prazer, Eric.- era a primeira vez que o via de tão perto. Ele era bonito mesmo!
- Venha meninas, vamos dançar. -- gritou Evelin por cima do som alto, puxando as duas moças pelas mãos.
Eric sorriu para as moças, voltando a se sentar, observando aquela que acabara de conhecer informalmente. Era uma moça muito bonita, de cabelos castanhos claros e olhos esverdeados, não muito alta, de estatura mediana, de corpo esbelto e pernas esguias. Vestia um short amarelo, blusinha branca e sandálias pretas, era como as moças se vestiam para sair. Devia ter no máximo uns vinte e cinco anos, levando-se em conta que Amanda tinha vinte e nove, deviam ser mais ou menos da mesma idade. Sorriu por cima do copo, que levava a boca, quando Rebeca cruzou o olhar com o seu. Sentiu uma sensação diferente. A muito tempo que não paquerava uma mulher.
- E ai, meu amigo, como vão as coisas?- perguntou Barcellos, sentando-se a seu lado.
- Vamos indo. Acho que estou ficando velho - falou rindo - já estou pensando em ir embora.
- Ah! Mal chegamos. Hoje a coisa tá animada, veja. - brincou Barcellos, fazendo um gesto com a cabeça para as moças que dançavam na pista.- Fala que não é uma beleza?!
- É sim, Gabriel.- respondeu Eric sem tirar os olhos de Rebeca, que dançava remexendo os quadris e os braços para o alto com um sorriso na boca bem feita.- Você conhece a tenente Dolabella, Barcellos?
- Não tive um contato direto com ela ainda, sei que é de São Paulo, do interior me parece.- respondeu o amigo, beliscando o salame. - Elas ficam diferentes quando estão sem a farda.
- É uma moça interessante. - falou Eric mais para si.- Cruzei com ela poucas vezes.
- É amigo, - falou o outro batendo nas costas do companheiro - até que enfim se interessou por alguém.
- Pare de falar besteira. - rosnou Eric - Só falei por falar. - e se levantou para ir embora. Virou o resto da cerveja que estava em seu corpo e se despediu do amigo. - Bom divertimento, já estou indo.
- Vai velho! Vai dormir! - berrou o outro rindo.
Eric sorriu para o amigo e saiu do barzinho. Será que estava ficando velho? Tinha apenas trinta e três anos...que nada, estava apenas cansado.- Amanda, já vou embora. - falou Rebeca dando um beijo no rosto da amiga. - Amanhã nos falamos.
- Não se esqueça que amanhã temos festa, hein!- falou a outra rindo.
- Essa vida vai acabar comigo.- falou Rebeca revirando os olhos.- Vou pagar uma parte da comanda e a outra dica pra você.
- Beleza, vai nessa.
Rebeca deixou a pista e se dirigiu ao caixa, porém, antes olhou para a mesa onde Eric estivera e não o viu. "Nossa foi embora e nem o vi sair", pensou ela.
Na sua vida nunca tivera muito espaço para romances, pois desde cedo sabia o que queria. Duas experiências sexuais eram quase zero. Perderá a virgindade com dezoito anos, com seu primeiro namorado. Ele fora um sacana, pois quando conseguiu o que queria largou dela. Não sofrera com isso, pois era algo que queria que acontecesse, se entregara a ele porque assim quisera. Depois disso não tivera nenhum relacionamento sério, sairia com um ou dois rapazes do exército, mas só com um fizera sexo. Isso já fazia quanto tempo? Três, quatro anos?! Sabia que era bonita, vários rapazes do batalhão tentavam conquista-la, mas até então não se interessara por ninguém. Até então!!
- Quer uma carona?
Rebeca voltou a realidade quando ouviu a pergunta. Ia recusar a oferta, mas só ver os olhos castanhos sobre ela, sentiu as borboletas voando em seu estômago. O que era aquilo?
- Não vou tira-lo do seu caminho?
- Não sei. - respondeu Eric, sorrindo.
- Não quero incomodar, Tenente.
- Pare com isso, vamos.
- Já que insiste. - disse ela sorrindo e abrindo a porta do carro.
Eric respirou fundo ao sentir o cheiro dela. Era um cheiro bom!
- Moro próximo só quartel. - falou ela, cruzando as mãos sobre o colo.
- Ok.
- Tem certeza que quer me dar uma carona? - perguntou ela, encarando-o.
- Sim. - respondeu ele, sorrindo.
Rebeca sorriu de volta, sem saber o que falar. O que conversaria com um homem daqueles? É casado? Tem filhos? " Por favor, Rebeca, fica caladinha" seu inconsciente gritou.
- De onde você é, Rebeca? - perguntou ele.
- Sou do interior de São Paulo. - respondeu ela, adorando o timbre da voz dele. - Não reconheceu o sotaque? Co-ber-tor.- brincou ela, puxando os erres da palavra, rindo.
- É...bem típico. - concordou ele, rindo.
- E você? - perguntou ela, olhando-o, admirando as mãos dele no volante. Tudo era bonito naquele homem.
- Nasci em São Paulo, fui criado em Porto Alegre e faz seis anos que moro aqui.
- Nossa!
- O que a fez entrar para o exército?- i falou ele, fitando-a.
- Meu pai é major aposentado, tenho dois irmãos na marinha, o que eu poderia ser?
- Mas você é bem nova, não?
- É... acho que sim, tenho vinte e cinco.
Eric apenas sorriu.
Seguiram o restante do caminho calados, cada um com seus pensamentos.
- Pode virar a próxima, no meio do quarteirão. - falou ela. - A casa amarela.
- Não fica assim tão perto do quartel. - falou ele parando o carro e sorrindo.
- Mas também não é tão longe. - redarguiu ela, acalorando-se com aquele sorriso. - Obrigada Drumond.
- Me chame de Eric. - pediu ele descendo do carro e a acompanhou até o portão.
Rebeca sentiu-se atrapalhada na companhia dele e deixou a chave cair no chão ao tirá-la da bolsa. Os dois se agacharam ao mesmo tempo para pegar o objeto e bateram as cabeças. Riram.
- Desculpe. - pediu ela.
- Está entregue. Boa noite. - falou ele lhe oferecendo a mão.
Rebeca olhou aquela mão de dedos longos e a imaginou em seu corpo. " Estou ficando louca, é?!" Apertou a mão estendida e foi como se uma corrente elétrica percorresse todo seu corpo e fosse parar lá em sua virilha. " Estou maluca"
- Boa noite...Eric.
Eric também sentiu a mesma corrente o percorrer. " Estou precisando namorar", pensou ele frustrado. A quanto tempo estava sem uma mulher? Cinco, seis meses? Nem se lembrava mais.
- Tchau!
- Tchau!
Eric entrou no carro e passou as mãos pela cabeça. Ligou o carro e saiu.
Era casado. Mas até quando? Sua esposa voltara para Porto Alegre, pois não gostava dessa cidade. Ele lhe avisará, que se ela fosse embora eles se divorciaram, mas ela pouco se importou e voltou para a casa dos pais. Estavam juntos havia quinze anos e ele já não sentia o mesmo amor por ela, é essa separação só ajudara a ter mais certeza de que não a amava mais, que queria mesmo o divórcio. Respeitara-a todo esse tempo em que estavam separados. Não se envolvera com ninguém, e não era por falta de oportunidades. Ele sabia que as mulheres o paquerava, que o desejava, mas não era de seu caráter trair. Mas não sabia até quando aguentaria.
- Mereço um prêmio. - zombou de si mesmo. O jeito era chegar em casa e tomar um banho frio.
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Indiscutivelmente, Amor!!( Concluído)
Romance- Pare de falar besteiras, pequena. - Não sou mais a sua pequena. - Você sempre será minha pequena! Um homem casado, uma colega de trabalho e um amor capaz de superar uma traição. Assim é a história de Eric e Rebeca.