- Maria?- chamou Eric.
A mulher veio ao seu encontro.
- Pois não, senhor.
- Vou sair. As crianças já estão dormindo?
- Sim.
- Bom, não vou demorar.
- Tudo bem, senhor. Pode ir sossegado.
Eric sorriu para a mulher. Maria era uma senhora de cinquenta anos, viúvae sem filhos, Sofia a tinha contratado como babá de Pedro ainda em Fortaleza, e quando disseram que viriam para Campinas ela se prontificou a vir com eles. Eric agradecia e muito a ajuda daquela mulher. Ela tinha liberdade total em sua casa, era ela quem escolhia a diarista, quem fazia o mercado, quem cuidava das crianças, quem ia ao banco pagar as contas da casa quando ele não podia. Tinha total confiança nela. Desde que Sofia tinha morrido ao dar a luz Helena, Maria tinha se tornado seu braço direito. Lembrou-se que Sofia tinha passado muito mal a gravidez toda, e quando entrou no nono mês sua pressão arterial estava oscilando demais. Tivera que fazer uma cesariana de emergência, mas mesmo assim os médicos não conseguiram salva-lá. Eric ficou perdido por algum tempo, sem saber o que fazer com duas crianças pequenas, sendo uma recém nascida. Os pais de Sofia quiseram levar as crianças, alegando que ele teria muito pouco tempo para elas, mas ele se recusou terminantemente a passar a guarda dos filhos para os sogros. Sabia que não seria fácil adaptar -se à sua nova situação e não estava sendo, mas sua mãe o apoiara, passando os sete primeiros meses de Helena ali com eles. Hoje a filha já estava com onze meses, era uma criança adorável, não tinha quem não se encantasse por ela. Ele vivia para aquelas crianças, deixando até de viver sua vida. Depois da morte de Sofia se envolvera apenas com uma pessoa, a qual estava agora. Michele se esforçava para agradar-lhe, mas não tinha certeza se deveria levar esse romance adiante. Na verdade não tinha esquecido Rebeca e a prova disso era a foto que tinha dela no aparador do hall de sua casa. Sabia que ela estava noiva e torcia para que ela fosse feliz, mas mesmo assim guardava uma ponta de esperança de que um dia ainda a veria, pois ela estava guardada pra sempre em seu coração e por mais que ele se esforçasse em querer se apaixonar por outro alguém, não conseguia, pois sempre se via comparando as outras a ela. Isso o injuriava sobremaneira, ainda mais quando sabia que conhecia a família dela. Tinha conhecido Ricardo assim que se instalara na cidade e tinham começado uma amizade verdadeira. Ricardo pouco falava da irmã, só dizendo que tinha uma irmã que também era tenente do exército, Ele logo ligara o sobrenome do amigo ao da mulher amada. Não dissera que a conhecia, pois não queria dar detalhes de sua vida. Não queria que Rebeca soubesse da morte de Sofia.
Baniu esses pensamentos e saiu, hoje não iria sair com Michele, precisava ficar sozinho.Rebeca teve que concordar com o irmão, a festa estava boa. Reencontrara alguns amigos, conhecera outros tantos amigos dos amigos. Percebeu que estava mesmo precisando de um pouco de diversão. Dançava na pista com algumas amigas quando sentiu o cheiro do perfume de Eric. Olhou depressa ao seu redor, mas não avistou ninguém parecido com ele.
- Já volto, Rebeca.- falou o irmão.
Rebeca apenas concordou com a cabeça.- Eric? - chamou Ricardo.
Eric se virou ao reconhecer a voz do amigo.
- Ô cara como vai?- falou Eric apertando a mão do outro.
- Que bom que veio.
- Estou precisando me distrair um pouco.
- Está sozinho ou está com a Michele?
- Estou sozinho. Você sabe que não tenho nada sério com Michele, apenas saímos de vez em quando.- respondeu Eric.
- Quero que conheça uma pessoa. Mas já vou avisando, não vai brincar com ela, hein.
- Quem ouve você falar pensa que sou um cafajeste.- falou Eric rindo.
- É que você com essa pinta de galã pode traçar qualquer uma.
- E essa não é para eu traçar? - perguntou Eric se fazendo de inocente.
- Não, essa não. Essa é para compromisso sério.
- Não vai me por em uma enrascada hein. Depois eu vou ter que despensa-lá aí você vai brigar comigo.- brincou Eric.
- Essa eu garanto que você vai ter que pastar para conquista-lá.- brincou Ricardo.
Eric acompanhou o amigo. Seu coração deu um salto ao ver o amigo chamar a irmã.
- Rebeca? Quero que conheça um amigo.- falou Ricardo sorrindo.
- Eu já disse que não quero conhecer ninguém. - gritou ela para que o irmão pudesse ouvi-lá.- Se vai me encher o saco com essa historia, eu vou embora.- Nem a mim?- perguntou Eric, chegando por detrás dela.
Rebeca virou-se. Era como se não existisse mais ninguém ali, nem musicas, nem risadas, somente aqueles olhos castanhos nos seus. O coração batia forte, como se fosse saltar pela boca, e as borboletas a tanto tempo adormecidas voltaram numa alegria total, fazendo o frio no estômago a deixar paralisada. Sentiu que estava tremendo toda, enquanto lagrimas brotavam em seus olhos. Ansiara por esse momento a tanto tempo, fizera tantos planos de qual seria sua reação, do que falaria, do que gostaria de ouvir, que agora ali vivendo esse momento, não sabia o que dizer.
Eric sentia a mesma emoção, mas ao invés das lagrimas um sorriso se formou em seus lábios. Sua vontade era vencer a distancia que os separava e toma-la nos braços num forte e caloroso abraço. Seria possível que depois de tanto tempo ainda a amasse com a mesma intensidade?
- Eric, essa é minha irmã...
- Rebeca.- cortou-o Eric.
Ricardo ficou confuso.
Rebeca ao ouvir seu nome saiu correndo.
- Rebeca?- gritou o irmão.
- Deixa.- falou Eric segurando o outro pelo braço e foi atrás dela.
- Rebeca?- chamou ele, alcançando-a e a pegando por um dos braços, puxando-a para si.
Rebeca desatou a chorar, recostando-se naquele corpo forte.
Eric a abraçou enquanto a beijava no alto da cabeça.
- Pequena! Minha pequena!- murmurou ele.
Rebeca se recuperou e se afastou para desferir-lhe uma bofetada no rosto.
Eric a fitou sem entender o por que daquela bofetada, mas antes dele expressar qualquer reação ela o enlaçou pelo pescoço e o beijou ardentemente, ao qual ele correspondeu com muito desejo. A quanto tempo esperava por esse reencontro? Perdera as contas de quantas vezes viu aqueles olhos esverdeados nos copos de cerveja que tomava, revivendo cada momento que passaram juntos. Agora era difícil descrever o que estava sentindo. Só sabia de uma coisa, nenhuma das bocas que beijara tinha o sabor dos lábios dela.
- Pequena!- murmurou ele escondendo o rosto nos cabelos dela.
- Eric!- Rebeca deixou-se reconfortar naqueles braços.
- Vocês são rápidos, hein. - brincou Ricardo se aproximando.
Rebeca se afastou, o rosto em chamas.
- Quero ir embora.- falou ela.
- Quero conversar com você, pequena.
- Pequena? O que esta acontecendo aqui? - perguntou o outro, ainda confuso.
- Cale a boca, Ricardo.- exasperou-se ela.- Eu não tenho nada pra falar com você. - completou dando as costas para Eric, mas ele a deteve por um dos braços.
- Vocês se conhecem de onde?- perguntou o irmão.
- Trabalhamos juntos em Fortaleza.- respondeu Eric os olhos fixos em Rebeca.
- Entendi.- respondeu Ricardo se afastando.
Rebeca fitou aquele homem, uma confusão de sentimentos dentro de si.
- O que significa isso, Eric?- perguntou Rebeca, luvrandi- se da mão dele.
- Por que tanta hostilidade, Rebeca?- perguntou ele visivelmente chateado.
Rebeca abaixou os olhos sentindo- se culpada.
- Eu não sei. Deixe-me ir, por favor. - pediu ela, no entanto sua vontade era de se aninhar naqueles braços e apaziguar se coração ali.
- Não posso.- disse ele, aproximando- se os olhos cheios de amor. - Não quero.
Rebeca viu aquela boca se aproximar da sua e não fugiu, mesmo porque suas pernas não obedeceriam. Enlaçou-o pelo pescoço e o beijou com a mesma intensidade que ele a beijava.
- O que faz aqui, Eric? - perguntou ela quando o beijo acabou.
- Por favor, não vamos falar do passado agora.- pediu ele mordiscando os lábios dela. Vamos fingir que acabamos de nos conhecer. Amanhã, Se você quiser a gente senta e conversa.
Rebeca não teve coragem de matar aquele pediu. Também não queria falar do passado, embora uma parte dele estivesse ali, mas era a parte que ela mais amava.
- Então estava disposto a conhecer alguém hoje?- perguntou ela sorrindo, enquanto caminhavam para o salão novamente.
- Está com ciúmes de si mesma?- brincou ele.
- Não sou ciumenta.- respondeu ela fazendo biquinho.
- Então, muito prazer, Eric.- falou ele sorrindo e pegando a mão dele para beijar.
Rebeca sentiu aquela corrente elétrica percorrer todo seu corpo, como da primeira vez.
- Muito prazer, Rebeca.
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Indiscutivelmente, Amor!!( Concluído)
Romance- Pare de falar besteiras, pequena. - Não sou mais a sua pequena. - Você sempre será minha pequena! Um homem casado, uma colega de trabalho e um amor capaz de superar uma traição. Assim é a história de Eric e Rebeca.