II. Marcado

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Sinto-me sufocado, tudo está escuro, tenho certeza que eu não escapei, a dor em meu pescoço me ajuda a lembrar o que aconteceu. Estou sendo levado a algum lugar, não posso enxergar, pois tem algo que está cobrindo minha cabeça, um pano ou algo do tipo. Sinto o sol queimar minha pele, forte e imponente como o deserto que nos circunda e vai até o além do horizonte, eu sinto um cheiro asqueroso, que vem acompanhado de uma voz familiar:

— Raio de Sol, você será a alegria da Legião nessa manhã gloriosa. O Grande Otelo espera que você saiba a importância de carregar a marca em seu peito... — eu conhecia Otelo, Nak era peixe pequeno, apenas seu cachorrinho, o grande general por sua vez, conhecido como Otelo, O Leão era assim chamado por seu comportamento sádico, pois estripava suas vítimas covardemente enquanto seus guerreiros se deleitavam com a carnificina de suas técnicas de tortura. Otelo, sorrindo, encontrava-se em uma cadeira de metal, cheia de espinhos, acima dos demais, em um altar feito de ossos e alguns corpos recentemente empilhados em sua homenagem, uma visão visceral do poder e loucura do Soberano da Guerra.  

Estávamos em algo que parecia as ruínas de uma Fábrica, rodeados por escombros e portões de metal, a luminosidade do dia ofusca minha visão, pelas minhas contas eu passei 3 dias preso naquele lugar infernal, eu tinha minha chance de tentar escapar dali, mas duvido que possa fazer isso sozinho. A cima de minha cabeça estava o Grande Sol, muito maior e mais forte do que os antigos contam, vaporizando cada gota de suor de minha pele. Eu observo a Legião, homens e mulheres dementes que dedicam suas vidas e corpos as batalhas dos Soberanos da Guerra, seja por prazer ou glória, a fim de subir em uma escalada a um monte imaginário de riquezas. A maioria encontrava-se alucinada pelas drogas feitas nos laboratórios da Estação Leste, algo que Otelo obrigava a todos os Legionários inalar, uma mistura insana de produtos químicos conhecida como Spartacus, que deixava seus subordinados ainda mais forte e violentos, ao pequeno custo de suas mentes, o que era ainda mais vantajoso ao Soberano, visto que mantê-los alienados ao que acontecia a sua volta os tornava ainda mais suscetíveis a suas ordens.

O urro daqueles animais, babando e gritando a minha volta se interrompe subitamente quando Otelo levanta-se de seu trono:

— Legião! — gritou ele, enquanto exibia sua bastilha, uma espingarda calibre 12, de cano serrado, o símbolo de sua força e virilidade — hoje este Rato da Areia, pagará pelo crime de mexer no que é meu! — mais gritos e exaltações em nome de Otelo — Sim, minhas abominações, esse verme pensou que poderia nos roubar, ele queria minhas balas! O idiota queria roubar a mim, o Grande Otelo, Soberano da Guerra! — o frenesi despertou-se de maneira geral na plateia odiosa que agora desejava com afinco ver meu corpo dilacerado fazer parte da pilha de outros tantos — Por isso, hoje teremos uma batalha, como de costume, se o desafiante sobreviver ganhará o direito de ser atirado na Vastidão com a vantagem de 3 dias, para que eu possa caçá-lo e estripá-lo como animal moribundo que é, ele carregará minha marca e será perseguido por todos os legionários — fez uma pausa dramática para acenar a todos — Pela honra de Xavier que comece a Batalha da Arena! - naquele momento fui empurrado para dentro da arena, onde armas improvisadas e pedaços de membros de outros lutadores, ornamentavam o local.

Rapidamente busquei abrigo me arrastando para trás de uma pilha de escombros, uma das portas se abriu vagarosamente com o ranger da ferrugem que encrostava suas paredes, 3 guerreiros legionários armados com lanças e bastões com pregos pisaram na areia fervente da arena.

Eu vou precisar mais do que sorte para sair vivo daqui.

Preciso de uma estratégia. Rápido.

SANGRANDO POEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora