Acordo bruscamente com Raja me sacudindo — Belo vigia, você vovô — olho ela diretamente nos olhos — Não me chame assim - digo grunhindo ranzinza enquanto me levanto e observo as chamas mortas a minha frente, agora um cinzel, sinto o ar fresco da manhã — Bom, precisamos chamar você de alguma coisa — disse ela — Chame-me do que você quiser, apenas não perca mais tempo... — ela começa a olhar em sua volta, encontrei algumas pessoas na Vastidão, a maioria não sabia ler como eu, os Símbolos Antigos, porém eu não sabia como fazia aquilo, pois minha memória se estende muito pouco além do que estive vivendo nos últimos tempos, subitamente ela diz — Marlboro! O que acha? Seu nome será Marlboro! — ela pode ler também? Interessante, olho uma antiga propaganda de cigarros gravada em uma placa de metal com a tinta porosa, na parede da oficina, apenas ignoro ela enquanto me preparo, apesar de ser habilidosa e ter bons conhecimentos de sobrevivência e luta, Raja era nitidamente uma adolescente. A dor havia desaparecido quase por completo, eu me recuperava mais rapidamente que as outras pessoas, isso geralmente assustava que estava ao meu redor... — Suas feridas — exclama a caçadora — como você recuperou tão rápido? — respondi com um movimento de cabeça indicando para sairmos logo daquele lugar.
De volta a nossa caminhada na Vastidão, andamos nas dunas por algumas horas, apertamos o passo, pois aquele era o melhor horário para viajar, a areia ainda estava gelada da noite anterior. Raja rompe o silêncio — E agora Marlboro, para onde? — olhei ao redor, já havia estado por ali antes, avistei ao longe a Torre de Wal, um enorme galpão que abrigava todos mercadores do ermo, uma espécie de cidade-mercado, onde você deveria pagar por sua entrada. Pertencia um dos jovens Senhores da Poeira que eu havia conhecido em outra ocasião. Raja impaciente me pergunta — Vamos passar muito tempo no sol? — eu olho para ela e digo — Eu agradeço o que fez por mim, depois dessa parada, seguiremos caminhos diferentes — ela me olha friamente e diz — OK, sem problemas, afinal não é como se você devesse a MERDA DA SUA VIDA para mim, não é mesmo? — levantando o tom de voz, eu a agarro pelos braços e aproximo meu rosto— Escute aqui, sua pirralha, não sei de onde você veio com essa história, mas eu não lhe pedi favor algum, então... — ela me olhou, e disse calmamente, mudando completamente de humor — Minha irmã, estava presa na jaula abaixo do trono de Otelo na arena, eu ia tentar salvá-la, mas os Caçadores disseram que não se arriscariam, que Katia e outras mulheres foram "dadas" como oferenda a Otelo, em troca da paz para nossa cidade - fez uma pausa, para continuar o raciocínio - Eu vi como você luta, vi que odeia a Legião — interrompendo seu discurso eu disse — Eu não escolho lados, Legião ou Caçadores, Cruz Eterna ou Carniceiros, para mim são todos farinha do mesmo saco... — ela me olha atenta, e em seguida me diz — Sua dívida é comigo, não com minha tribo — eu a olho, levando a mão ao rosto, completo — Está bem, ajudo você a resgatar sua irmã e depois disso... — ela me interrompe — Depois disso cada um pelo seu caminho... OK eu já entendi, Marlboro... — disse ela. Continuamos até o armazém.
Marlboro, eu odeio cigarros, uma lembrança vaga em minha mente, "Que diabos é um cigarro" penso eu, meu passado é misterioso para mim, as vezes sei coisas, palavras, símbolos, números, nomes e muitas outras informações sobre o Mundo Anterior a Guerra do Cataclismo, nos livros que eu leio, revistas todas apontam datas que precedem o ano 2010, mas quando falo com os Anciões eu sei coisas que eles não sabem, homens e mulheres que são nitidamente mais velhos que eu. Como aquilo era possível? Perdido em meus pensamentos não percebo que chegamos aos portões de entrada da cidade, Raja me olha e diz — Então, como vamos entrar nesse lugar?
Eu peço para que Raja deixe-me ver o que ela trazia em sua mochila, relutante ela tira de suas costas e me entrega. Havia dentre outras coisas, pão, uma garrafa de plástico 600 ml pela metade - aquilo era valioso demais, melhor não expor na frente dos guardas - uma lâmina reserva, balas de 9mm, 10 cartuchos no total, 2 estavam deflagrados, "aonde ela arranjou munição?", e 4 cápsulas de Spartacus, perfeito! Entreguei as cápsulas para os guardas, que torceram os narizes — Onde é que está a Agulha disso aqui - Agulha é como eles chamam a pistola que injeta a droga nos usuários — eu respondo os guardas rispidamente — Vale pela entrada de duas pessoas, agora deixem-nos entrar.
O guarda fez um sinal com a cabeça e logo um homem do alto de uma torre começou a girar uma manivela que abriu, com vários rangidos, o portão a nossa frente — Aquilo era meu sabia... — disse Raja um pouco mal humorada pela venda dos narcóticos que ela havia surrupiado dos Legionários dias atrás — Você não precisa daquilo, atrapalha seu raciocínio — repondo.
Raja passa olhando os guardas dos pés à cabeça, com desprezo — Deixa eu lhe mostrar o que é um homem de verdade caçadora... — diz um dos guardas pegando-a rispidamente pelo braço, meus olhos acompanham o movimento da mão da caçadora indo diretamente a lâmina em sua cintura, interrompo a cena — Ela está comigo, não queremos confusão, apenas mercadores nômades... — o guarda tenta me intimidar, sem sucesso e por fim, solta o braço de Raja dizendo — Leve essa vadia com você forasteiro, ela deve estar cheia de doenças! — os outros guardas riem da cara do companheiro, puxo Raja para perto de mim — Você quer tanto assim nos matar? — cochicho em seu ouvido, enquanto tento me misturar, não havia muitas pessoas, maioria estava comprando ou vendendo alguma coisa. Raja me pergunta, se poderíamos encontrar alguma informação do paradeiro de Otelo e sua irmã, eu a respondo — Aqui não, mas sei quem pode.
Andamos adentrando os enormes corredores de prateleiras que iam até o teto da estrutura, uma faixa enorme dizia "AQUI É MAIS BARATO!" e a frente um símbolo gigante feito de metal enferrujado escrito " BEM VINDO AO WAL" faltando o restante. Raja para em frente a uma tenda. Ela me faz um sinal com a mão.
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SANGRANDO POEIRA
Science Fiction1° LUGAR - No Concurso SELLERS em FICÇÃO CIENTÍFICA 5° LUGAR - No Concurso SAKURA em FICCÃO CIENTÍFICA "Tudo e todos se dirigem para o mesmo fim: Tudo vem do pó e tudo ao pó retorna" - Eclesiastes 3:20 *** Em mundo devastado pela Guerra do Cata...