Um passo de cada vez, não precisa ficar ansiosa, Diana.
O meu celular está tocando há horas.
Não vou atender.
São meus pais, meu ex-noivo e meu ex-irmão. Todos estão preocupados, arrependidos e pedindo para reconsiderar a minha decisão, não posso esquecer a cena que flagrei no apartamento do Bernardo, não consigo simplesmente esquecer a “curiosidade” do meu ex-noivo.
A minha família insiste em dizer que a minha decisão é totalmente precipitada, meus pais estão acobertando a traição do meu irmão, é claro que estamos cientes da orientação sexual do Tony, ele assumiu a sua sexualidade com 15 anos, mas não esperava encontrar o meu noivo com o pau do meu irmão na boca.
O gosto amargo da traição ainda está revirando o meu estômago, piorando os meus enjoos. Há dois dias estou viajando para o litoral do Paraná, dormindo em hotéis na estrada para fugir o mais longe possível da minha família e do Bernardo.
Eu planejei tudo… Cada detalhe da minha nova vida, vou recomeçar do zero. Não quero contato com a minha família, com a insistência dos meus pais, com as desculpas esfarrapadas do meu irmão e principalmente as explicações do Bernardo. Explicações que no meu ponto de vista são absurdas, ele está debochando da minha inteligência e zombando da minha percepção. Eu flagrei o Bernardo fazendo um boquete no meu irmão, não é algo banal ou um errinho comum que podemos relevar. Estamos juntos há anos, ele deveria saber que o meu perdão é extremamente raro, não tenho certa evolução espiritual para perdoar o imperdoável.
Os enjoos estavam piorando, para a minha sorte já estava passando pelo portal de boas-vindas da cidade, escolhi uma cidadezinha chamada “Antonina” para recomeçar a minha vida. A traição do homem que amo intensamente revirou o meu mundo, perdi a minha motivação de sempre, a minha ambição que me tornou uma gerente executiva na maior empresa de cosmético do País, perdi meu brilho astucioso e minha positividade. Quando penso nos anos que desperdicei com ele, no bebê que cresce no meu ventre e não faz ideia na traição horrenda do pai, sinto uma revolta inexplicável e uma vontade imensa de desistir.
O único inocente nesta história, é meu filho. Ele não tem culpa, ele não merece sentir esses sentimentos ruins que tem crescido dentro do meu coração, mas é inevitável… Eu sinto nojo do amor que ainda sinto pelo pai do meu filho.
— Você é forte, Diana. — sussurrei para mim mesma. — Chegou a hora de esquecer o passado e pensar no bebê.Kabum!
Só pode ser brincadeira…
O pneu do meu carro estourou.
Ah não, justo agora?
Parei o carro no encostamento.
Abri a porta, saindo para ver o estrago. Merda, eu não sei trocar um pneu.— Inferno; — chutei o pneu. — Seu desgraçado traidor. — chutei a porta do carro. — Maldição… — voltei a chutar o pneu. — É tudo a sua culpa… — chutei novamente… Plac!
Aí não!
O meu salto quebrou. Fala sério, era meu scarpin da Louis Vuitton.
Droga, não é possível.
O universo só pode estar agindo contra a minha vida, sento-me no chão, totalmente derrotada e desabei, chorando desvairadamente.
Estou tão cansada, só queria chegar até floricultura e dormir por horas.
Chorei até soluçar, feito uma criança perdida. E para ser honesta, estou perdida e sem saída.
Um carro buzinou, despertando o meu interesse, limpei as minhas lágrimas, reparando em uma caminhonete antiga que diminuiu a velocidade, estacionando no acostamento.
Fiquei em pé, limpando a minha bunda suja de poeira.
Um homem desceu da caminhonete, ele era assustador e, ao mesmo tempo fascinante.
Ele se aproximou, olhando-me com certa raiva. Engulo em seco quando o homem misterioso parou há três passos de distância.
— Qual é o problema? — Indagou ríspido.
— Você quer saber qual é o meu problema? — comecei a rir para não chorar novamente. — A porcaria do meu pneu furou, estou viajando há dois dias, a minha lombar está doendo, estou com fome e cansada, só quero chegar logo até o meu destino e para piorar completamente a minha situação, o meu salto quebrou; — apontei para o meu scarpin. — Paguei oito mil reais neste scarpin.O homem mediu o meu corpo com os olhos, expressando um desdém que fez as minhas entranhas revirar.
Ele girou pelos calcanhares, voltando em direção da caminhonete.
O quê? Ele não vai me ajudar?— Ei… você; — corri atrás dele, mancando feito uma louca que fugiu do hospício, maldito salto quebrado. — Eu preciso de ajuda!
Ele não me respondeu, seguindo até a traseira da caminhonete. O homem pegou algumas ferramentas, voltando-se na minha direção.
— Você pode sair da minha frente?
Oh!
Dou vários passos para trás.— Desculpa… Perdão; — sigo o homem até meu carro. — É muita gentileza, eu estava perdida e sem saída.
O homem ficou calado, não respondeu o meu agradecimento. Ele se abaixou e começou a trabalhar no meu pneu. Reparei em cada detalhe do homem, não controlando a minha curiosidade que só aumenta com a presença dele. Ele tinha uma beleza impactante, uma barba grossa que dominava seu maxilar, os olhos eram azuis-escuros, não eram azuis chamativos e cintilantes como os meus, era uma cor mais fria, lembrando a fúria de um mar em meio a uma tempestade. O homem arregaçou as mangas da camisa xadrez, revelando os braços fortes, e completamente tatuados.
Meu Deus, os desenhos são lindos. Uma mistura fantástica dos personagens do filme “O Estranho Mundo de Jack”, sou apaixonada pelas animações do Tim Burton. Fiquei analisando cada particularidade dos desenhos, eram perfeitos, com riscos finos e pinturas vivas, que destacava o mundo brilhante que Tim Burton criou.
Fascinante… Estou sem palavras para expressar a beleza das tatuagens e os bíceps fortes do homem.— Preciso do estepe! — Disse com a voz grossa. Ele ergueu o olhar, percebendo a minha curiosidade presa nas suas tatuagens.
— Desculpa; — Resmunguei, constrangida por ser pega no flagra. — Você gosta dos desenhos do Tim Burton?
O homem ficou em pé, imediatamente afasto-me. Céus, ele é muito alto e robusto. Fiquei imóvel por alguns segundos, sentindo um frio estranho na barriga. Ele era lindo… Quer dizer, ele era um Deus Nórdico!
— Preciso do pneu reserva, moça.
Molhei meus lábios com a língua, notei o seu olhar descendo até a minha boca.
— Certo, eu vou pegar…
Abri o porta malas do carro, quando tentei erguer o pneu, ouço um “crec” e depois uma dor chata no dedo. Ah não… Por favor, não!
Olhei para a minha unha.— DROGA! — Gritei, desabando em lágrimas novamente.
— O que está acontecendo?
O Deus Nórdico parou ao meu lado, franzindo a testa.
— Eu quebrei a minha unha…
— Pelo amor de Deus; — o homem pegou o pneu, empurrando-me para sair da sua frente. — Meu tempo é precioso, moça.
— As minhas unhas também são preciosas.
Ele rosnou, disparando um palavrão pesado que fez até à terra tremer.
O homem trocou o pneu com uma agilidade impressionante, as mãos fortes e rápidas fizeram um ótimo trabalho, fiquei imaginando as suas mãos percorrendo o corpo de uma mulher… O quê? Os meus pensamentos são totalmente incorretos, estou separada do meu noivo há duas semanas.
— Terminado! — comentou, limpando as mãos na calça jeans.— Obrigada; — Sorri, observando o pneu velho. — Acho que agora posso chegar até meu destino e descansar, meu nome é Diana… — estendi a mão para cumprimentá-lo de uma maneira educada, mas o homem olhou para a minha mão livre com o mesmo desdém.
— O meu trabalho custa duzentos reais, aceito cartão de crédito também.
Meu queixo caiu.
— Como?
— Duzentos reais, moça. É o preço que cobro para substituição, ainda tem que alinhar, balancear e possivelmente desempenar as rodas; — ele tirou do bolso um cartão. — Eu sou mecânico, você pode levar o seu carro amanhã na minha oficina.
— Alinhar? Desempenar? Meu carro é novinho. — recuso o cartão de visita, cruzando os braços. — Só vou pagar a substituição do pneu.
— Beleza, apenas cinquenta reais.
Bufei irritada, pegando minha carteira dentro da minha bolsa.
O homem aceitou a nota que ofereci, virando-se para ir embora, ele nem sequer olhou para trás para se despedir ou responder meu agradecimento.
Que ogro, mal-educado!
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A Patricinha e a Fera. ( DEGUSTAÇÃO)
RomanceUma narrativa dark da Bela e a Fera. Neste livro você encontra: drogas, violência, redenção, drama, romance, sexo. Aos vinte e quatro anos, Diana Bernardi tem uma vida maravilhosa, ela é amada por sua família e amigos, nunca ousou pensar negativo...