CAPÍTULO 10 - DIANA

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O que diabos estou fazendo? 
Richard está parado no centro da minha sala, não sei o que dizer ou como iniciar uma conversa educada depois da minha humilhação em público. Richard colocou um pote plástico em cima do balcão, observando cada detalhe do cômodo. O homem suspirou fundo, parecendo entristecido. Olhei para ele, admirando os gestos cautelosos para não me assustar.

— Você tem um prato? — Indagou sem olhar diretamente na minha direção.

— É claro, vou devolver o pote.

Caminhei até a cozinha, esbarrando sem querer o meu corpo no dele. Richard ficou inerte com nosso contato físico.

— Desculpa, não queria causar incômodo; — Não sei qual é o problema do Richard, não entendo o seu ódio gratuito ou por que me detesta tanto, mas não quero prolongar a sua visita no meu apartamento, peguei um prato de porcelana dentro do armário. — Eu vou colocar os espetinhos no prato e…

Simplesmente congelei, a forma que Richard está me encarando faz meu coração disparar. 
Ele está me olhando… Na verdade, ele está me devorando!

— Perdão; — disse com intensidade. — Não queria magoá-la ou humilhá-la em público. É difícil explicar, mas não combinamos…

— O quê? — estou tão ofegante, nervosa, que mal notei quando Richard se aproximou.

— Eu percebo a maneira como você me olha, patricinha. Não sou idiota, consigo identificar a curiosidade… — ele deu um passo à frente, não tinha como recuar, estou presa entre o armário da cozinha e o Deus Nórdico. — A cobiça e principalmente a carência que você sente todos os dias. Não posso preencher o vazio que se encontra na sua vida, não sou o cara certo, sinto muito!

— É apenas curiosidade; — defendo-me rapidamente, posso sentir uma leve atração por ele, mas nunca vou admitir com total sinceridade — Você tem um passado que aguça a minha imaginação.

Richard franziu a testa, ganhando um brilho astucioso nos olhos azuis-escuros.
 
— Que aguça a sua imaginação? — ele se afastou, sentando em um dos bancos próximo do balcão. — Agora quem está curioso sou eu.
 
Peguei um garfo e uma faca para comer as carnes assadas, antes de começar relatar o que fiquei sabendo nos poucos dias morando em Antonina.
Richard ficou avaliando meus movimentos. Puxei o banco ao seu lado, sentando-me.

— Os boatos nesta cidade se espalham rápido.

— As fofocas são as pragas de Antonina, é uma cidade pequena, mas alguns moradores têm a língua grande.

Sorri, concordando com seu argumento.

— É verdade que você já foi preso? — Perguntei meio sem graça. Eu conhecia a história, poderia evitar a postura defensiva do Richard neste instante. No entanto, quero ouvir a história do homem que está conquistando o meu interesse.

— Então, você ouviu os boatos?

— Ouvi vários boatos sobre você, principalmente no dia em que seu amigo me seguiu até o mercado.

Richard assentiu, passando a mão na barba. Percebi que ele faz esse gesto quando fica nervoso ou intrigado.

— Desculpe, não estou agindo com coerência, não deveria tê-la insultado aquele dia. Roberto, é um filho de uma puta, fiquei cego de raiva e acabei descontando as minhas frustrações em você, não foi certo… eu sei!

— Uau. Você sempre assume seus erros?
 
— Sempre, prefiro assumir meus erros. E não tenho tratado você com educação e respeito, sinto muito mesmo. É que… — hesitou, observando o horário no celular.

— É que? — instiguei.

— Você é uma jovem fascinante, muito perfeita, não faz parte do meu mundo, nunca vai fazer. E mesmo assim, você está interessada em mim; — abro a boca, sem saber o que dizer. — Diana, você não vai querer entrar na minha vida!

— Calma, você pensa que estou afim de você?

Ele ergueu a mão, os dedos acariciam o meu rosto, seguindo até meu queixo. Prendi a minha respiração quando ele moveu meu rosto com delicadeza para encará-lo nos olhos. Acho que vou desmaiar, não vou aguentar os toques excitantes do homem. 
Acredito que a minha reação foi óbvia demais, meu corpo inteiro está tremendo na presença dele, minha pele está sentindo aqueles calafrios estranhos que sempre surgem quando Richard está por perto, não consigo compreender minha ansiedade ou as borboletas no meu estômago. 
Ele arrastou o seu banco para mais perto do meu, diminuindo os poucos centímetros que separam nossos corpos, os seus olhos focam nos meus lábios, em seguida um sorriso maroto iluminou o rosto. Santo Deus, o homem sorrindo era uma pintura feita pelos próprios anjos… ou demônios! 
Acho que me esqueci como respirar, como pronunciar as palavras e agir feito uma mulher adulta e centrada.

— Todas as manhãs você sai na sacada e fica quase duas horas observando a minha Oficina Mecânica…

— Eu tenho uma paixão estranha pela mecânica automotiva, sempre assisto o Globo esporte!

Richard gargalhou… Sim, ele gargalhou!
Gostei do som da sua risada, gostei mais do que deveria, não posso ficar admirando as características dele.

— Você quer dizer AutoEsporte?

Cacete, eu odeio qualquer programa, revista ou sei lá o que for que tenha “esporte” no meio.

— Eu… Eu… — pense Diana. — Você não me contou o porquê foi preso.

Richard ficou na defensiva novamente.

— Não sou um assassino, não sou um estuprador ou um pedófilo, como algumas pessoas falam na cidade. Apenas tomei algumas decisões erradas na vida, mas nunca machuquei ninguém. — Havia muita dor nas suas palavras e mesmo imerso em um sofrimento que consigo compreender, não paro de admirá-lo, Richard tem um porte viril, bonito e excitante.

— Vamos começar de novo? — estendi a mão. — O meu nome é Diana Bernardi, sou a nova proprietária da Floricultura.

O homem encarou meus dedos, aceitando meu cumprimento.

— O meu nome é Richard Duarte, sou o proprietário da Oficina Mecânica que fica do outro lado da rua.

— É um prazer conhecer o verdadeiro Richard, aquele que sabe ser gentil e educado. — Respondi sorridente.

— Você quer jantar comigo?

E novamente aquele calafrio fez os pelos do meu braço eriçar.

— Desculpa, jantar? Como assim?

— Amanhã, em um bar noturno de um amigo que fica próximo do Fórum. Quero recompensar a minha grosseria, expulsei você do churrasco, acabei exagerando.

— A onde foi parar a parte em que não devo entrar na sua vida?

Richard balançou a cabeça.

— É apenas um jantar, Diana. Não vamos casar no outro dia, é um jantar para consolidar uma boa amizade.

— Certo, vamos jantar.

Ele tem razão não combinamos, somos incompatíveis. Richard não é um homem exemplar, que está na minha lista de “bons partidos”. Ele é um ex-presidiário, que ficou dois anos em uma prisão por tráfico de drogas, mas é apenas um jantar… Não vamos viver um amor arrebatador ou intenso, algumas pessoas merecem uma segunda chance. Richard foi sincero com seus pedidos de desculpas, posso mostrar que não sou uma patricinha fútil, como muitos me julgam. 

A Patricinha e a Fera. ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora