Capítulo 22 ~ A sala precisa

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— Uma... Uma nova maldição? — gaguejou Ron. — Como assim uma nova maldição?

Eles estavam no salão comunal da Grifinoria; Harry, Ron, Hermione e Draco.

A professora dispensou os quatro sem dar mais nenhuma explicação sobre a tal maldição ou sobre o julgamento de Hermione.

A bruxa parecia cansada, e estava com um semblante triste e o olhar fora de foco.

— Serverus, — começou Hermione, a voz soando tão baixa que foi preciso que os três garotos chegassem mais perto, seu maxilar retardando, o rosto contraindo como se estivesse sentindo dor; — é o nome da maldição. — Mas a voz não estava baixa porque Hermione não queria que escutassem, e sim porque estava fraca demais até mesmo pra se esforçar em falar mais alto um pouco. — É como a maldição Império, você faz tudo o que seu mestre lhe obrigar; Mas ao contrário dela, você esquece tudo o que fez depois que termina. E se por algum motivo; seja uma pequena falha que te traga uma memória, uma pergunta qualquer ou uma pergunta sob efeito da poção da verdade, como aconteceu comigo, ou qualquer outra situação que você tente falar sobre os atos cometidos; o feitiço te tortura... como a maldição Crucio.

— Então você sentiu dor agora? — peguntou o namorado da garota, preocupado.

— Não muita. Porque eu não estou falando sobre o que fiz sob efeito do feitiço, e sim sobre o que a maldição faz. Mas enfim... o julgamento me deixou muito cansada — os olhos de Hermione brilharam.

— Se vocês descobriram isso no julgamento... Então você foi torturada? — foi Draco quem percebeu.

— Sim — então uma lágrima desceu pelo canto do olho da bruxa, enquanto ela se lembrava da dor. — Foi horrível. Como se eu fosse morrer de tanta agonia e sofrimento. Mas eles não sabiam, o ministro, o interrogador, professora McGonagall; ninguém sabia que aquilo ia acontecer. Então não os culpo por isso. Mas eu já estou bem. Já passou — ela enxugou a lágrima e se levantou devagar. — Só preciso descansar.

— Você está fraca, vem, eu te ajudo a subir a escada — se ofereceu Harry.

— Não Harry, eu ajudo ela — interveio Ron. — Você vai levar o cara de... Draco de volta pro salão dele porque já está quase dando a hora do toque de recolher e as pessoas não vão gostar muito de ver um sonserino no nosso salão comunal.

Harry olhou para o amigo, mas sabia que era verdade.

— Tá bom, tá bom — ele se virou para Hermione; — melhoras Mione.

Potter pegou a mão do namorado e saiu do salão comunal da Grifinoria.

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— Você não tá com medo? — perguntou Draco para o namorado enquanto andavam pelo corredor ladeado de pinturas vivas.

— Do quê? — quis saber Harry, a mão dos dois entrelaçadas logo baixo.

— Você ainda pergunta? Tem alguém nessa escola que foi capaz de criar uma nova maldição imperdoável e você ainda pergunta "do quê"? — Draco alternava o olhar entre Harry e o caminho a frente. — Ou você é muito corajoso e já tá tão sem medo de morrer depois de tudo que houve nos anos anteriores que nem liga mais pra nada.

— Mas não ter medo não significa ser corajoso?

— Nem sempre, Cicatriz. Quem não tem medo de algo, só não tem medo daquilo. Quem é corajoso enfrente aquela coisa mesmo tendo medo. Notou a diferença?

— Notei, Doninha. Notei tbm que você me chamou de cicatriz! — Harry abriu a boca e semicerrou os olhos, fingindo estar ofendido.

— Força do hábito — sorriu Malfoy, parando momentaneamente de caminhar pra abraçar o namorado e lhe dar um beijo. — E você me chamou de Doninha! — disse ele, a boca dele ainda grudada na de Harry.

— Força do hábito — repetiu as palavras ditas anteriormente pelo namorado, e sorriu.

— Besta — Draco voltou a caminhar de mãos dadas com Harry, os dois sorrindo.

— Eu não queria ter que ficar trancado no salão comunal tão cedo. Ainda por cima longe de você.

— Eu também não. Mas é o jeito. Não tem o que fazer...

Harry olhou de soslaio para o namorado, um sorriso travesso tomando conta de sua expressão.

— Não me diga que você tá pensando em desobedecer de novo as ordens da professora...

— Eu não sabia que um garoto que já chegou a ser um quase comensal da morte tem medo de quebrar uma regrinha boba dessa.

— Nem me lembre dessas coisas que fiz na vida.

— Vem, vamo.

— Pra onde Harry?

— Não sei, pra torre de astronomia, pro corredor proibido do terceiro andar, pra sala precisa. Não sei, só não quero ter que te dar tchau agora.

— As coisas que fazemos por am... — Draco se interrompeu antes de terminar a frase. — Tá bom, vamos. Mas nada de corredor proibido.

— Então vamos pra sala precisa, ela está mais perto daqui. Se é que vai se abrir pra gente.

— Não custa tentar.

E juntos, de mãos dadas os dois correram até o sétimo andar, uma porta se formando assim que se aproximaram da parede onde antes não tinha nada.

Eles entraram na sala, a porta se fechando atrás deles, e sumindo pra quem quer que aparecesse do lado de fora.

As bocas dos dois estavam meio abertas pelo choque do que viram.

A sala precisa tinha se transformado em um quarto, um teto como o do grande salão tinha surgido ali, imitando o céu de quase noite do lado de fora, onde a luz do dia começava a se esvair, e a luz e poucas estrelas já podiam ser vistas.

Em um dos lados uma pequena janela mostrava um pedaço do verdadeiro céu lá fora.

Várias velas pendiam espalhadas pela sala, sustentadas por uma força invisível.

Na parede oposta a da janela alguns quadros completavam a decoração, exibindo algumas fotos que se moviam para lá e para cá.

Fotos de Harry e Draco em momentos que se quer existiram. Os dois voando juntos por cima do lago, montados no hipogrifo Bicuço; os dois sendo carregados pela fênix Fawks em meio aos escombros da entrada da câmara secreta; os dois tomando banho na enorme banheira do banheiro feminino da murta, um ovo de ouro deixado de lado; Harry erguendo o braço e apertando com força a mão de Draco no primeiro ano. Momentos que a sala precisa resgatou do recôncavo de suas almas, momentos que ambos queriam ter vividos juntos, mas que não foi possível.

No centro do quarto uma cama tomava conta do ambiente, e de baixo dela dois brilhos prateados se libertaram e ganharam vida, brincando pelo quarto. Um cervo e um leão. Os animais que formavam os patronos dos dois namorados.

A sala precisa sempre se transformava no que a pessoa mais precisa naquele momento, e quando ambos entraram e viram que a sala era no momento um quarto feito para eles dois, ambos souberam o que aquilo queria dizer.

Draco apertou com mais força a mão de Harry e o puxou para um beijo feroz.

O moreno se soltou momentaneamente do beijo do loiro para caminhar até a cama, puxando o namorado atrás de si.

— Tem certeza? — quis saber o sonserino.

— Absoluta — respondeu Harry, puxando Draco para a cama de lençóis brancos.

Harry Potter e o beijo das sombras | DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora