Scarlet: Nova Iorque

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Hoje vou para Nova Iorque. Estou no avião, cheia de medo do que tenho pela frente e perfeitamente consciente de que não tenho controle nenhum sobre a situação, coisa que adoro ter. Quando o avião desloca, sinto-me insegura, mas ao mesmo tempo sinto que estou a fazer isto pela minha mãe. Sei que era isto que ela queria, por isso vou dar o meu melhor para estabelecer uma relação com o meu pai e ser a melhor bailarina que consigo ser.
Passado algum tempo cheguei a Nova Iorque. Não consigo articular sequer uma palavra! A cidade é delineada por edifícios altíssimos que alcançam o céu espelhados e muito modernos. Dou a morada do meu pai ao taxista, este extremamente mal educado e antipático, e vejo as ruas da minha nova cidade a passar por mim. Tento absorver o máximo que consigo ao passar pelas diferentes paisagens.
Após uma viagem de meia hora, chego a casa do meu pai: tem uma boa dimensão e é toda branca e com muitas janelas. Não tem nada que ver com a casa tradicional da minha mãe. Bato na porta de metal e tento equilibrar as malas de bagagem que trouxe, que são basicamente todos os meus pertences: duas malas enormes pretas. A porta abre-se e vejo o meu pai, um tanto mais velho do que me lembro desde que o vi da última vez com um sorriso de orelha a orelha e atrás dele uma mulher de tez branca e olhos verdes cintilantes. Os olhos do meu pai são tão azuis como o meu, mas o meu cabelo castanho caramelo é muito mais claro do que o seu castanho escuro. A sua mulher, Leah, é verdadeiramente bonita, o seu cabelo ruivo faz um maravilhoso contraste com os seus olhos. Estão ambos na porta com um sorriso estampado no rosto, porém sem saber o que dizer.
-Entra querida, espero que gostes da tua nova casa. Lamento imenso pelo que aconteceu! - diz por fim Leah e pega numa das minhas malas, ajudando-me a transportá-la.
-Olá Scarlet! Tive tantas saudades! Eu lamento imenso o que aconteceu à tua mãe, foi um choque para toda a gente. - diz o meu pai, atrapalhando-se. De certo que ele vai querer estabelecer uma relação comigo e eu quero mesmo tentar, mas também não me quero apressar, porque este homem abandonou-me quando era pequenina e vivi muitos terrores na minha infância por causa dele. Já o perdoei, como é óbvio, mas quero ir com calma.
-Olá, George, pai. - digo, atrapalhando-me. Não sei como lhe chamar, mas quero poder olhar para ele e dizer sem problemas que ele é meu pai.
-Entra querida, vou mostrar-te o teu quarto! George, podes ajudar aqui com as malas? - pergunta a Leah e conduz-me escadas acima, com o meu pai atrás de nós com as minhas malas. Isto está a ter o seu quê de constrangedor. Quando chegamos ao piso de cima, deparámo-nos com um corredor branco com três portas de madeira preta. Eles entram por uma delas e o meu pai pousa as minhas malas no chão ao pé da cama. Este é o meu quarto? Okay, é maior do que eu esperava e decididamente maior do que tinha em Washington. Uma pontada no meu coração aparece ao pensar na minha mãe, mas afasto-a é penso no presente. A cama de casal a meio do quarto é grande e ao lado há uma grande secretária de madeira com uma cadeira. O quarto é muito bonito, tal como a casa, mas ainda vou ter de me habituar a isto aqui. Tenho duas semanas para me ambientar em casa e depois devo estar pronta para começar a trabalhar no duro na universidade.
-Deixamos-te acomodar, quando estiveres pronta, vamos jantar lá em baixo. - diz-me a Leah amistosamente. Parece uma mulher muito simpática e amorosa, acho que vamos conseguir estabelecer uma boa relação.
-Okay, sim, obrigada. Quando o jantar estiver pronto podem chamar-me? - pergunto. Ainda quero desfazer as minhas malas e ainda são cinco da tarde, por isso ainda devo conseguir arrumar as minhas coisas até ao jantar.
-Às oito e meia deve estar pronto.  - diz-me a Leah e vai-se embora com um sorriso no rosto.
Quando ouço a porta do quarto a fechar começo a tirar a minha roupa de uma das malas e arrumar no armário de madeira enorme que há numa das pontas do quarto. Na outra mala também há roupa, mas muitos objetos e fotografias, sapatos, jóias e acessórios. Quando acabo tudo, já são oito e dez. Deito-me na cama e solto um suspiro. Estou muito cansada, penso que vou jantar e vir para o quarto de seguida para descansar. Tenho imensas saudades da minha mãe. Tenho saudades da sua voz, dos seus beijos e abraços, dos seus gestos e da maneira que me apoiava. Dou por mim a chorar no quarto desalmadamente, o meu peito a arder e o meu coração despedaçado. De repente, ouço um suave bater na porta. Passo as mãos nas minhas faces para secar as lágrimas e articulo um '' Entre'' numa voz rouca.
-Era só para avisar que quando quiseres descer, o jantar está pronto. - Diz o meu pai cautelosamente ao ver o meu estado. Aceno afirmativamente com a cabeça e digo que já desço. Vejo no espelho a minha aparência deplorável e Franz o o nariz. Estico a pele com as minhas mãos e seco melhor as lágrimas.
Ao chegar à sala, reparo que a mesa retangular está impecavelmente posta e vem da cozinha um cheiro delicioso.
-Cheira muitíssimo bem! - Elogio quando vejo a Leah a sair da cozinha com uma travessa cheia de carne assada com batatas e legumes.
-Obrigada! Adoro cozinhar, é uma das minhas paixões! - Diz-me ao pousar a enorme travessa no centro da mesa.
-Talvez um dia me possa juntar a si na cozinha...? Também gosto imenso de cozinhar. - digo com um sorriso e a expressão dela ilumina-se de tal maneira que é difícil conter um sorriso.
-Mas é claro que sim! Seria adorável ter uma ajudante! É não me trates pela terceira pessoa, pelo amor de Deus!
-Okay, então amanhã fazemos o jantar ou o almoço juntas. - Confirmo com um sorriso genuíno. Agora estou mais calma e descansada. Estou muito feliz por saber que não vou ter problemas nenhuns com a Leah, visto que é uma senhora realmente amorosa.
-Lamento imenso o que aconteceu com a tua mãe, e não quero de maneira alguma ocupar o seu lugar, mas fico muito feliz por saber que nos vamos dar bem. - Diz com um brilho de lágrimas nos olhos e puxa-me para um abraço. Sinto o calor dos seus braços e fico também muito contente e aliviada por ter não uma mãe, mas uma figura que posso passar a considerar maternal para mim com quem me sinta tão confortável.
-Mas devo avisar-te de que o meu filho, bem ele é um rapaz complicado... Chamá-lo Jake, e acho que vem jantar hoje a casa visto que não o faz há pelo menos uns cinco dias. Fico tristíssima por não ser... Aberto? Simpático? Bem, talvez lhe faça bem ter uma rapariga decente como tu a viver com ele, as amigas e amigos dele são deploráveis! - diz com uma nota genuína de tristeza na voz. - ele é só um ano e meio mais velho que tu, por isso talvez se dêem bem.
-Vou fazer por isso. Ele vem jantar cá hoje? - pergunto. Será assim tão antipático que nem a mãe o tente pintar melhor? Não posso esperar por descobrir!
Quando já estamos sentados na mesa e a começar a comer, ouve-se a porta da frente a bater com força e o andar pesado de alguém a aproximar-se. Entra de chofre um rapaz alto, com a tez branca ligeiramente queimada pelo sol dando-lhe um bronzeado estonteante, com o cabelo castanho despenteado e uns olhos verdes esmeralda lindíssimos. Okay, o Jake é aquele tipo de rapaz que entra e todas as raparigas ficam a olhar para ele. Quando se senta na mesa sem dirigir palavra o um olhar a ninguém percebo logo que é arrogante e antipático. Quando os seus olhos encontram o meu, ele apressa-se a desviar o olhar. Lindo!
-Jake, esta é a Scarlet, vai viver connosco, a filha do George. - A Leah tenta várias abordagens de apresentação mas ele nem sequer olha para mim, limitando-se a acenar com a cabeça e comer. Que mal educado! A sério, nem uma palavra articulada?!
-Então, estás entusiasmada com Julliard? - Pergunta a Leah, com intuito de quebrar o silêncio constrangedor causado pelo Jake.
-Claro! Ainda nem acredito que consegui entrar, ainda por cima com uma bolsa! É verdadeiramente incrível! - respondo entusiasmada.
-Estou muito orgulhoso de tu por teres conseguido entrar numa tão boa universidade. - Diz o meu pai com um sorriso e eu devolvo-lho.
-Eu também, eu e a mãe trabalhamos imenso para isto. - digo e uma emoção perspaça-me pelo coração, mas eu desvio-lha.
O jantar decorre com alguns momentos de conversa e imensos de silêncio. Ao acabar a refeição, pergunto onde fica a casa de banho para tomar um duche. Sinto-me cansada e tensa, a água escaldante do duche vai-me ajudar a relaxar depois deste dia longo. Sigo pelo corredor do meu quarto e pego numa camisa branca de algodão fina e umas calças de fato de treino pretas largas juntamente com uma toalha de banho e sigo para a casa be banho. Quando entro, choco com o Jake, que está só de toalha na cintura e tronco nu com o cabelo molhado. As tatuagens que antes tinha visto nos braços estendem-se para o peito é barriga e na verdade há muito pouco espaço de pele que não esteja tatuada. Os músculos abdominais dele são muito bem definidos, tal como os peitorais. Okay, ele pode ser arrogante e antipático, mas não se pode dizer que não é giro! Este rapaz é um deus da sensualidade!
-O que porra é que estás aqui a fazer? - dispara e estraga automaticamente tudo o que me passava pela cabeça.
-Ia tomar banho, não sabia que estavas aqui, podias ter trancado a porta ou assim! - respondo irritada. Tive um dia longo e tudo o que não preciso é deste malcriado a chatear-me.
-Devias ter batido, porra! Mas tudo bem, já estou de saída, podes tomar o teu banho de princesa. - Diz num tom seco e jocoso. Ai, se ele continua assim vamos ter sérios problemas! Espero que ele saia da casa de banho e ponho-me debaixo do chuveiro e da água fervente que me cai nas costas em cascata. Sinto a pressão de um longo dia esvair-se das minhas costas e ser puxada para o ralo juntamente com a água milagrosa.
Visto-me e sigo para o meu quarto. Quando me deito na cama, é numa questão de segundos em que adormeço.

STAY STRONGOnde histórias criam vida. Descubra agora