Acordo na manhã seguinte às dez da manhã. Estava mesmo cansada para dormir tanto!
Desço para a cozinha e vejo o Jake lá sentado ao pé da bancada preta de pedra. Bela forma de começar o dia, que paciência para sofrer a má educação dele.
-Bom dia. - Murmuro baixinho só mesmo por cortesia. Como já esperava, ele ignora-me completamente e continua a comer.
Preparo uma taça de cereais e sento-me na bancada o mais possível longe dele. Está vestido todo de preto, tal como ontem, com uma t-shirt preta de algodão e umas calças de ganga pretas justas. Brinca com o piercing da sobrancelha com os dedos e com a língua mexe no que tem no lábio. Que cena para furar a cara e encher o corpo de tinta preta! Na verdade, a maior das tatuagens são muito bonitas, tem um enorme anjo negro tatuado no antebraço e uma rosa negra mais a cima. Não tem resquícios de pele intacta. Nos braços e no peito, porém depois do incidente da casa de banho de ontem, reparei que não tinha tatuagens nas costas. A sua cabeça levanta-se ligeiramente e os seus olhos verdes fitam-me com irritação e gozo:
-Já não achas que olhaste o suficiente, foda-se?
Sobressalto-me e fico ligeiramente envergonhada. Que mal educado! Okay, talvez eu estivesse a olhar para ele com alguma atenção, mas chegar ao ponto de me dizer isto tão vociferado é dilacerante.
Acabo a minha taça de cereais e levanto-me bruscamente.
-Sabes, eu nunca te fiz nada e se vamos viver juntos podias tentar ser mais simpático! - Disparo e ele fica com uma cara de surpreso no início e depois começa a romper-se em gargalhadas.
-Meu Deus, podias ser mais mal educado?! - Digo exasperada ante a atitude dele.
-Eu não sou mal educado contigo. - Diz, arqueado as sobrancelhas. O seu sotaque britânico acentuado é lindíssimo e muito suave. - Nem sequer falo contigo!
-Por essa mesma razão é que és malcriado. - Digo, atirando os braços para a frente, com efeito a enfatizar a minha opinião.
-Oh, por amor de deus eu não fui mal educado contigo! É para além disso, não quero saber puto se nos damos ou não bem. Os nossos pais nem sequer são casados, e mesmo que fossem, não quero saber de miúdas como tu. Olha lamento o que aconteceu com a tua mãe, mas isso não quer dizer que vá estar com falinhas mansas. - Diz e mordo a língua para não lhe dar um estalo. No entanto fico estaca da com a audácia dele e sinto uma facada no coração ao pensar na minha mãe. Saio da cozinha a correr antes que comece a chorar em frente a este rapaz.
Choco com o meu pai na sala e sobressalto-me. Ele fica com uma cara de surpresa ao ver as lágrimas quase a cair dos meus olhos e Franz e o sobrolho com um olhar condescendente.
-Não sei se vai ajudar, mas nós temos um pequeno ginásio do jardim de trás e tem espaço suficiente para treinares ballet. - Diz o meu pai passados uns segundos. A melhor notícia que podia receber!
-A sério? Sim seria ótimo! - exclamo, muito entusiasmada. Dançar é tudo o que preciso agora. Ouvir a música e entrar no ritmo. A música transporta-me de uma forma surreal e faz-e esquecer qualquer coisa.
-Segues por aqui e ao fim do corredor encontras uma porta de acesso ao jardim. Quando estiveres aí, encontras perfeitamente o ginásio. - Indica o meu pai e eu aquiesço com um aceno.
Primeiro viu aí meu quarto vestir-me para treinar durante umas horas. Quando lá chego, visto uma saia curta com umas meias por baixo e o body que uso para praticar. Calço as minhas sabrinas e verifico que as tenho de queimar para endurecer as pontas, mas por ora estão bem.
Desço as escadas e sigo entre o corredor branco estreito até dar com uma porta dupla de vidro. O jardim é grande, mas está quase todo ocupado por um complexo. Entro pela porta de metal pesada e encontro-me no ginásio. Bem, se está é a definição de pequeno para o meu pai... O ginásio tem num canto máquinas e pesos ao longo de uma parede. Mais afastado há um colchão alto vermelho e azul com um saco de boxe pendurado no teto por uma corrente grossa. Do outro lado do ginásio há apenas muito espaço vazio, com uma barra de alongamentos numa das paredes. O meu pai pensou mesmo em mim quando vez isto. Ponho a minha coluna ligada ao meu telemóvel e começo a pôr música. A minha preferida para dançar é, sem dúvida, Moonlight Sonata de Beethoven. É uma música cheia de emoção e lindíssima para dançar. Foi com ela que fiz a minha prova de admissão para Julliard. Faço alongamentos básicos e quando acho que estou aquecida o suficiente começo a dançar. Deixo-me completamente pela música. Nunca me tinha sentido tão triste antes como nestas duas semanas e não é fácil lidar com tudo. Acho que eu e o meu pai podemos fazer um laço e isso, e a Leah é adorável. Porém, o seu filho, o Jake, ainda não parou de ser rude comigo desde que nos conhecemos. A sério, o que é que eu lhe fiz para ser assim comigo. Ele não tinha direito de falar assim da minha mãe. É demasiado recente e a única menção do assunto magoa-me imenso.
Porém, quando me envolvo na música só consigo esperar que fique tudo melhor, tenho de dar tempo ao tempo e esperar pelo melhor. Eu nunca vou conseguir ultrapassar por completo a perda da minha mãe, mas sei que com o tempo, vai ficar tudo melhor. Estou anciosa por começar as aulas, já faltam menos de duas semanas e ando a contar is minutos agora que sei que estar em casa significa dar de caras com o mal educado do Jake.
Continuo a dançar incansavelmente e dou saltos de metros de altura que me surpreendem. É mesmo bom que o meu pai tenha um ginásio com tanto espaço onde possa praticar, porque senão tinha de encontrar um pavilhão ou complexo onde pudesse treinar.
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STAY STRONG
RomanceScarlet é uma rapariga tradicional, criada pela mãe e muito contida. Ela é um anjo, uma bailarina que ia concretizar o seu sonho em Nova Iorque em Julliard. Porém, tudo muda quando a sua mãe morre num acidente de carro e tem de ir viver com o pai e...