Grey Wings {Devagar. Muito, muito devagar}

Prólogo

   Quartel-general, 16 Agosto 2015

   Um calor enorme assentava por todo o Quartel-general. No céu a ausência de nuvens era bastante visível, já que estávamos em pleno Verão.

    Ninguém falava, era demasiado óbvio que para gastarmos menos energia, o melhor era estarmos calados, e tentarmos concentrar-nos no trabalho que fora programado para nós ao longo das Décadas, para não dizer Milénios.

   Quando ouvimos alguém falar em Quartel-general, normalmente associamos de imediato os diferentes tipos de Quartéis dos pobres mortais terrestres. Quarteis de Bombeiros, da Polícia e outros afins demasiado vulgares para aquelas criaturas invejosas e arrogantes.

   Felizmente, nem todos são assim. Normalmente os invejosos e arrogantes são aqueles que se podem considerar almas perdidas. Que pensam que a sua vida é demasiado estúpida e insignificante para terem de fazer algo de grandioso para poderem ser adorados por todos e venerados pelos que já os rebaixaram. Mas claro que há também aqueles que pretendem deixar uma marca, por mais pequena que seja, na mente das pessoas ou até mesmo no seu planeta.

   Mal eles sabem que tudo o que eles adoram, pode ser destruído num abrir e fechar de olhos.

   Mas o melhor para o ser humano, é mantê-los ingénuos. Não podemos entrar nos seus pensamentos e dizer sem mais nem menos "Sou o teu Anjo da Guarda e estou aqui para te ajudar a encontrares o teu caminho para a felicidade". Claro que o mais provável seria o internamento imediato por pensarem estar a ouvir vozes. Mas o que eu quero dizer, não é isso. O que eu quero dizer, é que os Anjos da Guarda tem um papel fundamental para que todos os seres ainda se encontrem vivos. Porque senão existíssemos, o mais provável seriam as Trevas dominarem toda a Terra. E eu não estou a falar da escuridão. Eu estou a falar dos Anjos das Trevas. Aqueles que fazem frente aos Anjos da Guarda desde que me lembro. E podem apostar que isso já vem de à muitos, mas mesmo muitos anos atrás.

   O meu nome foi chamado pelo intercomunicador para me dirigir até ao gabinete do Chefe. Sim, porque apesar de para nós ser bastante fácil comunicarmos pelo pensamento, é muito mais normal se fazer pelo intercomunicador, porque sabemos que a partir do momento em que alguém passa mais de uns puros dez minutos dentro daquele gabinete, alguém irá sofrer consequências. 

   Levantei-me do meu posto e dirigi-me pelos corredores bem iluminados, pintados de branco. Ao olhar em meu redor, muitas das pessoas olhavam-me com respeito e outras com pena. Pena por ter sido chamada. E todos os presentes naquela sala estariam bastante orgulhosos de mim, se eu voltasse inteira, e com todas as minhas penas das minhas asas de veludo brancas. 

   O caminho até ao gabinete eram apenas uns cinco metros, mas com todos os meus nervos, a ansiedade transformou o percurso como se este fosse um caminho de quase quatrocentos metros. 

   "Imediatamente!" ouvi dentro da minha cabeça e percebi que o Chefe já estava a ficar demasiado impaciente, e o próximo passo seria certamente sair por aquela porta e arrastar-me até dentro daquelas quatro paredes.

   Apressei o meu passo e bati à porta quando a alcancei, com apenas dois toques silenciosos, mas que foram bem ouvidos no outro lado.

   Um "Entre" foi pronunciado, e eu respirei fundo antes de abrir a porta para mostrar um homem bem conservado, para a idade que realmente tem. Aparentava ter uns quarenta anos terrestres, mas todos sabiam que este tinha uns bons setecentos tatuados na testa. A idade não perdoa, meu querido , pensei.

   Os seus olhos verdes claros, demasiado claros, levantaram-se do papel incrivelmente interessante que este estaria anteriormente a ler. O seu cabelo loiro estava cortado como que este se parecesse um Chefe Militar. Não estava muito longe de o ser. Afinal, ele controla tudo e todos. Ser um Chefe Militar é só uma simples expressão. Usava um fato branco, sem gravata. Todo ele estava vestido de branco, e era mais que visível que este tinha orgulho de fazer o que faz.