Capítulo 5.

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   A brisa de Verão enchia todos os espaços vazios, enquanto o cantar dos pássaros misturava todos os sons existentes. As crianças jogavam à bola por entre as casas já velhas e castanhas, feitas de barro e xisto, dando à aldeia um aspeto deveras sinistro.

   Ainda não havia saído do centro de Bourtange, e já havia ficado apaixonada por tudo aquilo. As cores, os cheiros, os sons. Tudo. Nunca havia visto tal beleza.

   Por entre as pequenas casas, diversos caminhos de granito e calcário escuro conduziam-me para o exterior da aldeia. Queria ver os campos, os hectares de verdes e grandes campos, compostos por vinhas, pomares e animais. Animais selvagens. Como os cavalos e as raposas.

   Á medida que caminhava, ia passando por diversos vasos com as mais variadas flores.

   Aproximei-me de umas Violetas que me chamaram à atenção. Toquei-lhes e pude sentir toda a sua textura. Suave e fina. Cheirava a pólen, e eram várias abelhas que pousavam nas Violetas mais próximas. Violetas fazem-me lembrar das poções utilizadas pelos bruxos, as Violetas são sem dúvida a base de uma poção de amor.

   E foi então que ouvi. O bater das ondas. Estava tão perto. Diria uns duzentos metros, não muito mais. As gaivotas com os seus típicos sons sobrevoavam perto da minha localização, fazendo-me abandonar de imediato o apelativo vaso de Violetas e seguir os sons das gaivotas.

   Nunca havia estado à beira-mar, isto iria ser uma grande experiência para mim. Outrora, apenas via imagens panorâmicas do mar e dos oceanos, mas nunca tive a grande oportunidade de poder ver e tocar nas grandes ondas e passear entre elas.

   Comecei a dar passadas mais longas e rápidas, encontrando depressa um pequeno rio que, pelo que dava para perceber, rodeava toda a aldeia.

   A minha felicidade foi por água abaixo – literalmente – assim que vi que todo aquele barulho não passava de uma simples fantasia da minha cabeça. É verdade. Eu estava ansiosa para ver o pôr-do-sol à beira mar e puder dar longas passadas pela areia fina e leve. E a única coisa que vejo, é um pequeno barco com sementes a dar a volta.

   Olhei então para lá do pequeno rio. Poucas eram as casas e como eu esperava, os terrenos de erva e terra batida estavam presentes. Pelo menos nem tudo foi perdido. O cheiro a terra molhada era simplesmente uma sensação que me agradava as narinas, apesar de às vezes o cheiro de estrume de cavalo se intrometer e obrigar-me a respirar pela boca

   Olhei então para a esquerda e pude ver uma pequena e estreita ponte de pedra que presumo que faça a travessia para o outro lado. Tentei ser o mais normal possível e andei descontraidamente até à ponte, de modo a conseguir finalmente correr por entre os campos verdes.

   Durante o pequeno caminho, pessoas das mais diversas idades passavam por mim, mandando-me olhares de soslaio e cochichavam entre eles - provavelmente a falarem de mim, por nunca me terem visto nesta Aldeia.

   No entanto, eu no meu modo de bem-educada e alegre, retribuía a todos com um sorriso e as “Boas Tardes” tão conhecidas.

   Do outro lado da ponte, um pequeno jardim de forma quase triangular, formava diversos lugares para que os pescadores possam repousar durante o tempo que estão à espera que os peixes deem sinais de vida. Desse jardim, havia uma outra ponte que dava desta vez passagem para os campos verdes.

   O cheiro a terra molhada e a malmequeres invadiu-me as narinas, fazendo-me inspirar longamente para conseguir absorver mais deste cheiro magnífico.

   As minhas sapatilhas, que outrora foram brancas, estavam agora com tons de castanho pela zona um pouco acima da sua sola. Resolvi ficar descalça e tirar as meias, igualmente brancas, enquanto deixava tudo em cima de algumas pedras, onde seria impossível elas se sujarem ainda mais.

Grey Wings {Devagar. Muito, muito devagar}Onde histórias criam vida. Descubra agora