Capítulo 2.

609 66 21
                                    

   À minha frente, tinha as grandes portas da sala do convívio. Grandes e castanhas e polidas. Muito bem polidas, quase que se via o meu reflexo.

   Pode-se dizer que os meus pés ficaram colados – plantados – no chão, e eu não os queria descolar. Porque por muito importante que esta festa fosse, eu não a quero e sei perfeitamente que não me vou divertir, porque por muito que a minha parceira se tenha esforçado, eu não consigo enfrentar talvez umas dezenas de olhares em mim ao mesmo tempo e depois há espera que eu ainda faça um discurso sobre a minha vida até agora.

   - Noemi, tens de enfrentar o teu medo –Ever disse, obviamente divertida pelo meu pânico surreal.

   Suspirei – Prometes que não me largas? – perguntei.

   Ela assentiu. Ergueu o mindinho para que eu fizesse o mesmo, fazendo assim a nossa “Promessa de Anjo”.

   - Muito bem. É só uma festa. Manter a calma e a compostura. – respirei fundo, que pensei ter aspirado uma mosca qualquer.

   - Tem calma. Vai correr tudo bem. Só convidei as pessoas que te deixam confortável – a loira tentou acalmar-me.

   Então não convidas-te ninguém, pensei.

   Ever deu-me a mão, transmitindo segurança. Avançamos e eu tornei a respirar fundo.

   Ela abriu a porta, revelando uma sala escura e do nada alguém acendeu a luz e gritaram todos “SURPRESA!”.

   Tu não sabias de nada disto, okay Noemi?, Ever disse

   Okay, posso fazer um esforço, respondi.

   Voltei a sorrir, a tentar fazer um sorriso genuíno, enquanto via uma multidão a saltar para cima de mim, a dar-me felicitações por finalmente conseguir dar o passo seguinte.

   **

   Tinham-se passado duas horas desde que entrei na festa e a verdade é que até me estava a divertir com todos aqueles jogos malucos e tradicionais que todos faziam. A grande verdade é que eu não conheço ninguém daqui, mas não deixa de ser divertido fazer novas amizades e adquirir novos conhecimentos sobre todos os cidadãos.

   Olhei para o relógio. 23:30 ele mostrava. Esta é a altura da festa, em que o “aniversariante” tem a sua dança com alguém – rapaz – na pista de dança. Já me tinham arrastado para um sítio qualquer, e vestiram-me um vestido que me pareceu um pouco longo, mas bonito. Um vestido branco de alças que chegava até aos pés, e que na parte de trás do vestido, tinha bordados de renda com marcas específicas e simbólicas.

   - Estás tão linda Noemi! – disse Ever, com os seus olhos a brilharem

   - Oh, vem cá – chamei e abri os braços para lhe dar um grande abraço de urso.

   Ela fungou – Promete que não te esqueces de mim – ela pediu.

   - Acho que já fiz isso hoje. Mas eu prometo Ever. Promete-me que me vais visitar – foi a minha vez de pedir.

   - Eu prometo – afastou-se e deu para perceber que ela estava a fazer um grande esforço para não se quebrar na “minha” festa.

   Fui com o meu polegar até às suas bochechas e limpei as lágrimas que se tinham escapado.

   - Vou dançar com quem? – perguntei tentando esquecer este momento com demasiado mel.

   Ever parou de chorar e olhou-me com um sorriso travesso nos lábios, o que indicava que o que me esperava não ia ser boa coisa.

Grey Wings {Devagar. Muito, muito devagar}Onde histórias criam vida. Descubra agora