Capítulo 4.

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   - Tem a certeza que não há nenhuma reserva no nome Noemi White? – perguntei à senhora de avançada idade.

   - Tenho a certeza menina, agora se não se importa, tenho trabalhos para fazer – disse já sem paciência e deixou-me naquela espécie de receção, a falar para as paredes de madeira escura.

   Comecei a entrar em pânico. Isto não devia estar a acontecer.

   Desvio o meu olhar para a velha rabugenta, e consigo perceber que o seu corpo está frágil. Há medida que dá passos, consigo ouvir nos seus pensamentos que as dores na perna direita são imensas, o que está a dificultar o seu deslocamento.

   E então ouvi um estalido. E foi como um impulso nervoso.

   Usei uma parte da minha velocidade, e tentai amparar a queda da velha – que provavelmente me vai enxotar com uma vassoura -, enquanto esta gemia pela sua perna.

   - OhDeus está bem? – perguntei à senhora, enquanto esta se contorcia por baixo de mim com as dores.

   - A-A p-per-na…. – disse entre gemidos de dor.

   Eu já tinha percebido que era a perna, deve achar que eu sou uma burra e que não sabe que os mortais caem quase por dores de dentes.

   Coloquei-a no chão cuidadosamente, enquanto me preparava para arregaçar uma das mangas das calças, para ver o que fora o resultado daquele estalido.

   Só espero que não tenha partido um osso e que este não tenha furado a sua pele … Sou péssima com sangue!

   Comecei a levantar devagar a manga inferior, enquanto ouvia os seus pensamentos, que apenas diziam “ E o que vou fazer da minha vida agora?” e “ Estou perdida, se esta cachopa me rasga as calças, vou ter de ir de cuecas para a missa”.

   Logicamente que não vou rasgar as calças a ninguém, vou apenas baixá-las, porque já percebi que ao levantar nem irá passar pelo joelho.

   - Levante as costas – pedi, enquanto ela imitava o gesto, quase como se eu lhe estivesse a mudar a fralda, sempre com as dores e a fazer caras feias.

   Ri mentalmente com todos estes pensamentos, mas externamente, não poderia falhar na minha expressão, senão esta mulher com cabelos castanho-prateados metia-me logo fora desta pensão.

   Ao começar a baixar-lhe as calças, começo a reparar que a sua perna direita está envolvida num arroxeado, o que me deixa com fortes expectativas de que esta seja, provavelmente uma das Maldições dos Trevans.

   Faço má cara, enquanto me preparo e me encorajo, e me relembro como se deve fazer isto. Afinal, eu sou uma Guardiã!

   E foi com toda essa coragem, que quando cheguei ao joelho da senhora e lhe toquei de leve, percebi que apenas a rótula tinha sido deslocada. Num só movimento, coloquei a rótula no seu devido lugar, com ambas as minhas mãos, enquanto a senhora se remexia com dores por baixo do meu corpo.

   O que faço agora acerca da maldição?

   - Quer levantar-se – pergunto, e sou respondida por um abanar negativo de cabeça, enquanto me apontava para a pequena sala improvisada, para que eu a deitasse num dos sofás.

   Agarrei-a com os meus dois braços, enquanto a sentia amolecer contra mim. Não me acredito que vai desmaiar! Mortais sensíveis….

   Deitei-a rapidamente num sofá aleatório e reparei de imediato que os seus olhos haviam fechado. Em pânico pela segunda vez consecutiva, coloquei a minha mão na sua testa, enquanto absorvia todos os seus pensamentos, um dos quais que o seu corpo estava demasiado frágil e cansado. E havia outra coisa… um outro pensamento, mas estava ocultado para mim… Estranho.

Grey Wings {Devagar. Muito, muito devagar}Onde histórias criam vida. Descubra agora