Capítulo 1.

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 Quartel-general, 15 Setembro 2015

   Passaram-se exatamente dois meses desde que fui proclamada oficialmente um dos Guardiões - ao chamar-me assim, torna-me numa pessoa muito mais protetora. Desde esse dia, aprendi com outros Guardiões algumas técnicas que pensei nunca serem possíveis de existir. E uma delas foi a aprender a detetar outras espécies de criaturas sobrenaturais, só com apenas um olhar, o que eu pensava que teríamos de provavelmente obrigar essa pessoa a confessar seja o que for.

   Sinto-me orgulhosa de mim mesma. Ainda não sei qual vai ser a minha primeira missão como Guardiã, porque só me irá ser entregue quando já tiver tudo que seja meu empacotado e pronto para ser transferido para a Terra. Assim como eu.

   Todos já me alertaram para os perigos que possam existir naquele outro Mundo e para eu ser forte e nunca me esquecer que a ajuda pode chegar imediatamente, eu preciso apenas de dizer umas incríveis palavras, cujas eu acho mais que desnecessárias.

   Um barulho de alguém bater a porta faz-me virar para a mesma e pronunciar um "Entre" para revelar do outro lado, a minha grande amiga, Ever - pronuncia-se louca - com o seu grande sorriso, os seus cabelos loiros e olhos verdes. Só ela sabe por tudo o que passei durante uma grande parte da minha vida, todas as tristezas e amarguras, mas também todas as minhas paixões impossíveis - como o Leonardo DiCaprio - e as minhas fascinações.

   E la estava ela. Toda serena, encostada na entrada da porta, como se fosse um gnomo de jardim a olhar para mim com aquele seu sorriso tao próprio, que significava que ela tinha uma ideia bastante louca para a minha despedida - não de solteira, mas sim do meu cubículo em que outrora trabalhava.

   E por momentos tive a sensação de ver um sorriso malicioso nos seus lábios, mas esta minha visão foi de imediato abolida quando ela me saltou, literalmente, em cima de mim.

   - Acalma-te Ever. Eu só vou fazer uma missão, a minha primeira missão. Não vou propriamente fugir para nunca mais te ver - disse enquanto fazia equilíbrio com uma Ever, uns cinco livros e as minhas pernas desequilibradas, tudo a ajudar para eu me estatelar no chão e beijá-lo, como nunca tinha feito - porque eu nunca beijei ninguém, a não ser um poster daquele Veterano, o Diego, mas isso não me parece contar.

   Ela largou finalmente o meu pescoço, ao que eu agradeci mentalmente, pois sabia que ela me poderia ler os pensamentos. Encarou os meus olhos e fez-me prometer que nunca me iria esquecer dela. Ah! E claro que eu tinha de ficar de olho naqueles rapazes terrestres, caso ela lhes quisesse dar uma lição sobre "Como beijar a Ever" em que ela os obrigaria a repetir o beijo ate este lhe parecer perfeito. E acreditem, ela costuma aproveitar-se - eles também.

   - Quando partes? - perguntou-me com os olhos já marejados de lagrimas. Não Ever! Não chores, sabes perfeitamente que eu sou uma fraca e vou fazer o mesmo, pensei.

   - Amanhã - respondi, enquanto baixava a cabeça e a levantava, piscando variadas vezes os olhos para não chorar.

   - Então hoje vai ser noite de raparigas, certo? - olhei para ela, como a repreende-la, mas esta ignorou-me - Não quero saber se estas doente, se estas cansada ou se não te apetece. É a tradição, e não vais ser tu a quebrá-la - ela avisou.

   Bufei. 

   - Pode ser - rendi-me depois de uns cinco minutos termos feito um jogo de olhares, em que a primeira que o desviasse, perdia consideravelmente a sua dignidade - dignidade não, mas o seu orgulho ficava magoado. 

   - Sim! Também não podias recusar. Sabes perfeitamente que da maneira que eu sou, arranjaria facilmente uma maneira para te arrastar para a festa que se esta a realizar, neste momento, na grande sala de convívio em tua honra.

Grey Wings {Devagar. Muito, muito devagar}Onde histórias criam vida. Descubra agora