Capítulo 8. - Parte I

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   Uma palavra.

   Álcool.

   Oh… tão doce, sem espinhas, sem ossos… é só deslizar pela garganta.

   E eu aprendi que fico um pouco descontrolada com ele dentro de mim.

   Porque sim. Eu já devo ter bebido umas duas garrafas inteiras, em duas horas, e até agora estou a aguentar-me bastante bem.

   Sem contar que vejo vários gémeos de pessoas que antes me pareciam únicos. Muito estranho…

   Sim. Passaram duas horas.

   E sim. Eu estou bêbada.

   Mas não fiquei bêbada por boas razões.

   Aconteceu mais ou menos assim…

  

   **

  

   - Eu era incapaz de me vestir assim! – eu gritei indignada, depois de ter visto uma rapariga com umas cuecas de ganga e um pano de lavar louça a tapar a pouca parte de cima.

   Gabriell gargalhou.

   - Ela também dizia isso antes. – ele explicou - E olha onde isso a levou!

   Eu olhei novamente para a rapariga de esguelha, e ela já não estava lá, mas sim à beira de um grupo de rapazes, a mostrar os seus atributos físicos.

   - Ela não podia ter mais respeito por ela própria? – olhei para Gabe – Quer dizer, estamos só numa discoteca, isto não é a praia nem um bordel.

   Gabe gargalhou com a minha escolha de palavras. Ou secalhar da minha maneira retardada de ver as coisas.

   - Ela já perdeu esse respeito à muito.

   Eu olhei em volta.

   Parece que muita gente neste sítio já perdeu esse seu respeito à muito, muito, mas mesmo muito tempo.

   Continuava a olhar para a rapariga, ainda a achar que ela devia engordar mais uns quilinhos. Esta gente de hoje em dia…

   Um braço puxou-me para fora dos meus pensamentos – e daquele sítio – em direção ao balcão das bebidas.

   A partir daí, seguiram-se umas quantas apostas entre mim e Gabriell, o que resultou na maneira que estou agora.

   Um autêntico caco.

   **

   Nas duas horas que se passaram, vi muita coisa que não queria:

  - Pessoas a fazerem figuras tristes;

   - Raparigas e rapazes quase nus;

   - Muita gente a abanar o que devia estar por dentro da roupa.  

   Mas isso agora já não me incomoda tanto. Quer dizer, eu estou a ver agora mesmo um gémeo do Gabriell. Isso não pode ser muito normal!

   - Tu estás podre de bêbada – ele riu e constatou um facto.

   Eu neguei com a cabeça.

   Ele meteu a cabeça de lado e cruzou os braços.

   - Okay… talvez só um pouquinho – fiz o sinal com o meu indicador e polegar a demonstrar o meu “pouquinho”.

   Ele riu levemente e pegou na minha mão. Arrastou-me até uma mesa com quatro cadeiras.

   Ou serão apenas duas cadeiras?

Grey Wings {Devagar. Muito, muito devagar}Onde histórias criam vida. Descubra agora