Capítulo 6.

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   Universidade de Groningen, 24 de Setembro 2015

    - Sai da frente, idiota! – um veterano cornudo rosnou para Melinda.

    A rapariga encolheu-se e colou-se ainda mais a mim – como se isso fosse possível.

   Conheci Melinda nos primeiros dias em que vim para a universidade. Ela estava um pouco perdida, o que despertou a minha atenção. Ela é uma rapariga bastante simples e um pouco tímida. Mas bastante simpática.

   Óbvio que ela não sabe o que eu sou, senão já se teria internado no melhor hospital psiquiátrico do país.

   A universidade é significativamente grande. Uma grande parte dos locais já é conhecido por mim, já que aqui estou à quase uma semana.

   Por sorte, os dormitórios não são mistos, senão iria ser muito desconfortável dividir um quarto com o sexo oposto. Nada contra, apenas não gosto de me humilhar por deixar itens femininos por todo o lado – já me bastou o incidente na Central, e não tenho vontade nenhuma de o repetir.

   A minha colega de quarto ainda não chegou, por isso presumo que virá apenas daqui a alguns dias, já que falta apenas uma semana para começarem as aulas – a sério e a doer. Claro que para mim não vai ser muito difícil, já que tenho uma grande capacidade de memória, o que é bastante útil.

   A verdade é que não aguentei muitos dias em Bourtange, por ser demasiado calma – e por haverem demasiados rumores estranhos acerca da minha pessoa.

   No entanto, irei para lá em todas as minhas férias e talvez num ou noutro fim-de-semana.

   Melinda recebe o seu famoso pedido – bolachas de água e sal e um Ice Tea – e ambas recomeçamos a andar para fora do buffet, de momento apinhado, para fugir à multidão de pessoas que se formaram por causa da hora.

   Nos corredores da universidade, a facilidade com que uma pessoa se perde é enorme, o que não é muito bom se não tiveres um mapa ou alguém amigo para te ajudar nesse assunto.

   Lembro-me que foi num destes corredores que avistei Leo – Leonnard. Talvez tenha sido no meu primeiro dia aqui, por isso aproveitei a desculpa que era nova na universidade e que precisava de ajuda para não me perder. Ao inicio, ele não foi a melhor pessoa do mundo, tenho que admitir isso, mas quando passamos à conversa de assuntos banais, ele mostrou-se bastante mais à vontade e colaborou com a conversa. Claro que um sorriso meu também ajudou. Vá-se lá intender estes rapazes mortais.

   Mas, apesar de Leo sofrer interiormente, ele não o demonstra. Talvez porque não têm amigos ou porque iria estar a ser demasiado aborrecido com os seus assuntos para com as pessoas ao seu redor.

   Mas eu não sou uma pessoa qualquer, por isso no final da minha visita guiada, deixei bem clara a frase: “podes contar comigo para tudo, és uma boa pessoa” e acho que ele percebeu a que me referi. Pelo menos acho que foi isso a razão do seu sorriso. Bem, eu frisei bem a frase, se ele não percebeu é sinal que vou ter de lhe fazer um raio de um desenho. Também pode ser sinal de que eu estava a ser demasiado chata ou que ele não percebeu o que lhe disse.

   O tempo estava tão cinzento, como se se tratasse de uma má energia, já que todos à minha volta eram portadores de caras tristes, cansadas e quase depressivas.

   Avistei Leo algures no meio do corredor e acenei-lhe. Ele fez sinal para nos aproximarmos o que me fez rir, pelos meus pensamentos anteriores sobre eu ser uma grande chata.

   Durante o percurso, senti novamente uma má energia. Uma péssima energia. Por isso, decidi respirar fundo, e “ativar” uma parte de mim que consegue perceber quais as pessoas que pertenciam ao mundo sobrenatural, que por acaso não são assim tão poucas. Por isso, quando olhei pelo meu ombro, tinha umas enormes asas brancas que posso dizer que são quase o dobro de mim.

Grey Wings {Devagar. Muito, muito devagar}Onde histórias criam vida. Descubra agora