Eu andava de um lado para o outro, inquieta, nervosa, com a mente a mil. Depois que eu quase matei Lucas ele se afastou ao máximo. Eu sabia que mal fazia duas horas que estávamos presos, mas eu não conseguia ficar parada. Enjaulada com um animal. Tentei respirar fundo, mas as paredes pareciam se fechar cada vez mais.
-Amara, pare de andar de um lado para o outro. -Tio Ethan falou, calmo. -Você não vai gastar o chão e fazer uma saída.
-Não vou me sentar e ficar encarcerada sem fazer nada.
-Apenas sente-se, por favor. -Minha mãe pediu.
Parei, suspirando, e a olhei. Ela estava ao lado de tio Ethan, que a abraçava de modo protetor enquanto transferia um pouco da sua Essência para ela. Eles haviam conversado sobre o que tinha acontecido e nada que ela disse me acalmou. Algumas vezes, eu complementava o que meu tio contou, como quando falei sobre a visão que tive e das vezes que vi ela presa.
-Me perdoa, querida. -Ela disse, enquanto conversávamos. -Eu deveria ter te dito, mas... você sabe que só queria te proteger.
-Eu sei, mãe.
-E também sabe que seu pai te amava mais que tudo.
-É. -Respondi baixinho. -Eu sei.
Enquanto conversávamos, Lucas se manteve calado como se nem estivesse ali. Eu sentia minha raiva por ele exalar do meu corpo. Acho que nunca tinha sentido aquilo, nunca tinha me sentido tão traída em toda minha vida. Eu tinha me apaixonado por alguém que me enganou por meses e aquilo doía demais.
Por fim, sentei-me perto dela e segurei sua mão, que estava mais magra como nunca. Olhei em volta, para as grades, a procura de uma saída. Eu podia ouvir a eletricidade da barreira, zunindo dentro do meu cérebro. Tínhamos ido tão longe, passamos por tanto coisa apenas para sermos presos. Olhei pra minha mãe, fraca, magra e doente. Eu precisava tira-la dali, não importava o quanto custasse. Olhei para a porta. Não ouvia nenhuma barulho vindo do lado de fora. Eles confiavam demais naquela barreira e com razão. Eu ainda me lembrava das chaves derretidas depois do impacto.
Prestei mais atenção na sala fora da gaiola. Nada além da mesinha e da cadeira. Sem janelas, sem mais portas, nada além de paredes cinzas. A não ser por um quadro largo quase no canto da sala. Me concentrei mais nele, aguçando a visão. Não era simplesmente um quadrado, era uma tampa, um pedaço cortado do piso.
-Mãe. -Chamei, me levantando, e apontei. -Naquele canto. Você sabe o que é?
Ele levantou um pouco o corpo, tentando enxergar.
-Acho que a saída do esgoto. Não sei. Nunca os vi mexendo ali.
Uma saída do esgoto. Uma saída daquele lugar infernal. Conveniente. Eu precisava sair dali, todos nós precisávamos. Se mamãe não se cuidasse, se não saísse dali, ela poderia... Não. Eu já havia perdido demais. Observei mais a gaiola. Barras de ferro ficavam mais fracas quando submetidas a baixas temperaturas.
-Eu vou tirar a gente daqui. -Falei pra ela, me virando pra porta. -Não se preocupe.
Caminhei até a saída, sentindo cada vez mais o zunido elétrico e encarei a tranca. Não era algo complexo, aberta a chave, sem cadeados ou senhas. Eu só precisava quebra-la. Antes que qualquer um dissesse algo, forcei minhas mãos a liberarem frio e grudei as mãos na tranca. A dor do choque foi instantânea, mesmo que eu tenha segurado por alguns segundos, e eu gritei de dor, com as mãos queimadas, me dobrando pra frente.
-Amara! -Tio Ethan se levantou, correndo, assim como Lucas. Mas levantei a mão, barrando-os.
-PARA TRÁS. -Gritei, ainda sentindo a pele queimando.
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As Crônicas dos Daren - Livro II Da Brisa à Tempestade
AventuraDepois de fugir do carcere dos diurnos, Amara, Ethan e Lucas embarcam numa perigosa viagem para a Grécia a procura da próxima adaga elementar. Porém, apesar do curto trajeto, demônios e caçadores estarão a espreita. Em As Crônicas dos Daren - Livro...