A dor em meu pescoço subia até minha cabeça, causando queimação e enjôo. Eu não me lembrava de ter dormido, mas sentia o gosto de sono na boca. Abri meus olhos aos poucos, me acostumando com a luz do quarto do barco.
Gemi de dor, colocando a mão em meu pescoço, estralando as costas. Por que eu sinto tanta sede? Comecei a me sentar, até sentir que alguém me observava. Olhei ao redor. Amara me encarava na cama ao lado, com os cotovelos apoiados no joelho. Ela tinha um rosto cansado, sua roupa estava rasgada e com marcas de sangue, e areia no cabelo. Ethan estava numa cadeira ao pé da minha cama.
-Olha só. -Ela disse, meio aliviada, mas não parecia tão animada. -Finalmente acordou.
-O que aconteceu? -Perguntei, minha voz rouca.
-Nada demais. -Falou, dando os ombros, mas parecia abalada. -Vou tomar um banho.
E saiu, sem mais nem menos, me deixando na cama sem respostas.
-O que aconteceu? -Voltei a perguntar para Ethan.
-Do que se lembra?
-Estávamos numa tempestade. -Esfreguei os olhos. -Tinhamos abatido um ventus, eu acho. Acho que encontramos uma ilha. E depois? Eu caí no sono?
-Não. Encontramos, sim, uma ilha. Não me lembro de muita coisa, Amara também não quis me contar. Me lembro de chegarmos lá, você estava muito animado pra descer. Eu não fazia ideia por que estava indo com você. Amara estava brava porque tínhamos deixado-a pra trás, eu acho.
-Faz quantas horas que estou apagado?
-Umas três horas. Fora os últimos dois dias e meio que estivemos fora do ar.
Conforme Ethan ia me contando os poucos detalhes dos quais ele se lembrava, mais eu me recordava aos poucos. Tinha mesmo uma garota chamada Helena, não sei porque, mas ela era muito gentil e morava sozinha. Me lembrei que ela me chamava pra ajudar ela na horta, acho, e numa noite, quando fomos colher nabos, ela...
-Espera! Aquela... Aquela moça, a tal de Helena, ela estava chupando meu sangue! Fez isso várias vezes. Merda, por que você deixou?
-Eu não tinha controle, tá legal? -Ethan falou, com os olhos arregalados. -Amara disse que estava nos controlando desde que chegamos naquele lugar. Ela sabia que tinha algo estranho, mas não dávamos ouvidos para o que ela falava.
-Ela sabia que tinha algo errado... -Vagas lembranças de gritos e xingamentos passaram por minha mente. -Eu briguei com ela?
-Foi naquela noite que a ficha caiu, e percebi que realmente tinha algo errado. Mas não consegui sair pra procurá-la, só pela manhã, quando eu criei a desculpa de que pegaria minhas coisas no barco e Helena saiu, arrastando você.
Forcei minha mente. Lembrava de Amara ter gritado, não lembro o que, mas me lembrei de ter chamado-a de estúpida e gritado "qual é o seu problema?", ou algo do tipo, e depois, Amara saiu correndo, dizendo que eu deveria ficar, chorando. Além de tudo, ainda me lembrava de um beijo. Um não. Vários. Dos quais nenhum deles era da Amara.
-Droga! -Falei, ríspido, com a cabeça entre as mãos.
-Relaxa, garoto. Ela sabe que nada do que você falou era realmente seu.
-Então porque ela estava me encarando daquele jeito quando acordei?
-Eu falei pra ela ir te buscar quando consegui arrumar o barco. Demorou um pouco, mas ela voltou, te arrastando, com os braços e a clavícula cortada, um pouco a mais de sangue na roupa, até ela dizer que o sangue era seu. -Ethan saiu da cadeira e se sentou na cama ao lado, suspirando. -Ela curou a mordida em seu pescoço, estava bem feia, e depois, repôs quase todo seu sangue. Estava muito preocupada, e falou que não ia sair até você acordar e ela ter certeza de que estivesse bem.
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As Crônicas dos Daren - Livro II Da Brisa à Tempestade
AventuraDepois de fugir do carcere dos diurnos, Amara, Ethan e Lucas embarcam numa perigosa viagem para a Grécia a procura da próxima adaga elementar. Porém, apesar do curto trajeto, demônios e caçadores estarão a espreita. Em As Crônicas dos Daren - Livro...