Ausência vazia

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 Acordei sentindo um arrepio delicado e gostoso no pescoço, perto da orelha. Abri meus olhos devagar, dando de cara com Lucas, com um sorriso torto e bobo no rosto. Sua mão acariciou minha nuca e eu fechei os olhos novamente, suspirando fundo. 

  -Desculpa. -Ele disse, sorrindo meio sem graça. -Não queria te acordar, mas está na hora de irmos. 

 Lucas ainda estava dentro do saco de dormir, mas parecia descansado. Me levantei meio grogue, e comecei a arrumar minhas coisa. Ethan já tinha três garrafas de água e algumas barras de cereais prontas para serem devoradas. Eu detesto barras de cereal, mas não havia mais nada além de barras, bolachas de água e sal quebradas e frutas secas para o café da manhã.

Tio Ethan nos disse que já eram duas e meia da tarde. Eu não me preocupava tanto com horário. Me preocupava com nossos amigos que também estavam no labirinto.

  -Acho que vou tentar ver alguma coisa. -Falei, respirando fundo, colocando a mochila nas costas.

  -Boa ideia. -Tio Ethan disse. -Talvez até dê pra ver qual o caminho.

  -Certo, vou tentar.

Fechei meus olhos, me concentrando, expandindo meus sentidos a procura da Essência. A imagem foi se apagando ao meu redor e vi corredores, delimitados em tom púrpura brilhando, seguindo rastros. Eu estava próximo de algo. De alguém. Me concentrei mais. Mas o próprio labirinto de fechou contra mim. Enquanto minha mente vagava, paredes me cercaram, impedindo minha visão, apertando meu corpo. As cenas vieram de uma vez. A princípio estavamos presos, depois correndo, e por fim, me vi chorando desconsolada num canto. Tudo ao mesmo tempo numa mistura caótica sob minhas pálpebras.

Me encolhi, como se alguém estivesse perto de me golpear, e abri os olhos, sentindo uma dor terrível de cabeça.

  -Amara, tudo bem? -Tio Ethan perguntou, preocupado, colocando a mão em meu ombro.

  -Não sei. -Admiti, fechando os olhos de novo, massageando as têmporas.

  -O que você viu?

Suspirei, aborrecida .

  -Nada de importante. Vamos embora.


Meus pés doíam. Eu sentia minha panturrilha reclamar, queimar. Apesar de tudo, pelo menos estávamos jogando conversa fora.

  -Qual adaga vocês acham que é? -Lucas perguntou.

  -Não sei. Mas eu espero conseguir a de fogo. -Comentei, excitada com a ideia de controlar as chamas.

  -Não sei se seria algo muito seguro. -Ethan falou, brincando.

  -Por que não?

  -Am, você tem alguns problemas de controle de raiva.

  -Que mentira! -Exclamei, indignada.

  -Meu maxilar discorda de você, Am. -Lucas disse, sério, mas com uma sombra de sorriso.

  -Não foi minha intenção... Foi... Oh, mais ou menos.

  -Você queria me machucar de verdade? -Seus olhos se arregalaram.

  -Bom... Só na segunda vez. - Admiti baixo, encolhendo os ombros.

  -Ah... Bem, eu mereci, não é mesmo. -Ele sorriu, mostrando todos os dentes, e eu não pude evitar sorrir também.

  -Mereceu.

  -Mas da próxima vez que formos pra Roma, vamos pra nos divertir.

Meu sorriso sumiu momentaneamente do rosto, mas depois voltou, forçado.

As Crônicas dos Daren - Livro II Da Brisa à TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora