Labirinto

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Três sentinelas no topo de destroços das ruínas rondavam o lugar, mais dois caminhavam entre as escadas de pedra mais ao norte, fora alguns vultos que vi vagando pelo canto do olho, e mais dois aguardavam nas colunas vermelhas.

Fui contando e cheguei a conclusão de que deveriam ter pouco mais, pouco menos de quinze homens, todos mercenários armados com lâminas e lanças. Segui observando, buscando algo que pudesse nos indicar a entrada do labirinto, ao, pelo menos, algumas delas. Até encontrar algo ligeiramente suspeito. 

  -Não acham que possuem sentinelas demais ali? -Perguntei, apontando para, o que, me parecia um toca, guardada por quatro homens que não saiam do lugar. 

  -Pode ser uma entrada, mesmo que seja um pouco pequena. -Tio Ethan concordou. 

  -Certo. Eu vou até lá, vou abate-los e vocês correm assim que eu conferir e der o sinal. 

  -O que? -Lucas se voltou para mim com os olhos arregalados.

Rápida, antes que minha crise de loucura pudesse fugir das minhas mãos, tornei-me uma coruja. Era estranho ser uma ave, e a experiência me fez lembrar as visões com minha mãe. Sobrevoei o grupo de sentinelas, baixando cada vez mais, e, quando me encontrei numa boa posição, voltei a minha forma normal, ainda no ar. Caí bem atrás deles, surpreendendo-os, e, logo, todos estavam desacordados depois de alguns poucos golpes. Acenei para Lucas e Ethan, indicando para que eles seguissem, porém, assim que começaram a descer o barranco, flechas atravessaram o céu. 

  -Abaixem-se! -Alertei alto, me abaixando ao sentir as flechas por perto.

  -Corre! -Escutei Ethan gritar, agarrando o braço de Lucas, acelerando a descida.

As flechas vinham do nada, do meio das sombras. Nos esquivávamos por poucos centímetros, enquanto o rapazes desciam o mais rápido possível, agachados, e, quando se aproximara, finalmente e olhei a pequena passagem, engolindo seco, dando-me conta de seu tamanho diminuto. Tão pequeno... Todos nós teríamos que ir engatinhando, e tio Ethan, que era maior, provavelmente iria esfregar as costas no teto. Minha respiração começou a descompassada. Muito pequenos. Eu odiava lugares apertados, não aguentava respirar e tinha medo de ficar presa.

  -Vamos, Amara. -Lucas disse, já a minha frente.

Abri a boca para dizer que não conseguia, mas resolvi arriscar um plano. Fiz que sim com a cabeça e me transformei em gato, sabendo que o espaço seria maior. Tio Ethan olhou para a entrada, nervoso, e depois pra mim.

  -Não deveria ir assim, vai se esgotar.

Olhei-o, teimosa, sabendo que se dissesse o porque ele só ouviria meu miado, e não tinhamos tempo, estávamos sendo atacados. Pulei para dentro do pequeno túnel de outras sombras e os outros vieram atrás, com pressa.

Eu dava passinhos rápidos, me afastando o quanto antes da entrada. Estava muito escuro, mas meus olhos de gato enxergavam bem, além dos meus bigodinhos que sentia as correntes de ar vindo do fundo. O cheiro de terra molhada era forte, sob minhas patas eu sentia a poeira, terra, tudo junto, subindo aos poucos.

Atrás de mim, Lucas e tio Ethan se esforçavam para seguir rápido, enquanto Lucas segurava a lanterna que iluminava a passagem. Ambos estavam bem ofegantes, desconfortáveis, fora as mochilas que eles eram obrigados a arrastar, fazendo-os demorar mais ainda.

  -Não acaba nunca. -Ethan reclamou, irritado.

Depois de alguns metros as paredes foram ficando mais largas, o teto subindo, até que eles começara a andar com as colunas envergadas. Me transformei novamente apenas quando tio Ethan andava completamente ereto e ainda havia havia mais um metro de sobra. Me estiquei, estralando as costas, sentindo novamente o peso da mochila em minhas costas, ofegante pelo esforço.

As Crônicas dos Daren - Livro II Da Brisa à TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora