Adeus - Ethan

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Eu estava na estação de metrô, em São Paulo, iluminado pelas luzes fluorescentes, de frente pra... Ela. Sophie vestia um vestido cor de creme, feito de um tecido delicado que parecia tão leve quanto uma pena. Lá estava, seu rosto delicada, seu sorriso gentil e seus olhos castanhos. Ela se destacava na cena.

  -Oi, Ethan. -Ela cumprimentou, a voz suave e doce, acompanhado pelo gestos das mãos

Arregalei os olhos, cético, e senti meu peito bater ainda mais rápido. Aquilo nunca aconteceria, mas olhei para ela, e para as árvores ao nosso redor. Eu já tinha imaginado aquilo, reconhecida a cena em minha mente, nos meus sonhos.

  -Não é real, não é?

Ela me olhou com um sorriso triste.

  -Não, meu amor, não é. Sinto muito.

  -Sua voz...

  -Essa sou eu. De verdade.

Era como eu imaginava.

  -Sua voz é linda.

Seus olhos brilharam e seus lábios rosados se ergueram num sorriso.

  -A sua também. -Sophie respondeu.

A dor em meu peito se expandiu, terrível.

  -Me desculpa. -Pedi, desolado, balançando a cabeça.

  -Não se desculpe, Ethan. Você me deu os melhores dias da minha vida.

   -Não, Sophie, não era pra ser assim. Era pra você ser feliz por toda a sua vida, eu queria poder te fazer feliz. Ao invés disso eu... Eu... A perdi, tirei tudo de você...

  -Ethan. -Ela interrompeu. -Não quero e não posso deixar que pensei assim. -Ela disse, num gesto um pouco mais firme, a voz mais insistente.

  -Como posso não pensar assim?

  -Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Nenhuma decisão foi melhor do que te chamar pra tomar café.

Ela deu um passo em minha direção, e eu senti meu peito bater mais rápido. Sophie estendeu sua mão, mas fiquei hesitante antes de toca-la. E se ela simplesmente sumisse, virasse fumaça como nos meus pesadelos? Mas quando a toquei, era... Suave, cálida.

Não resisti. Puxei-a num abraço forte, beijando seu cabelo, que cheirava a morango e creme, sua cabeça encostada em meu peito.

  -Me perdoa... -Sussurrei.

  -Não há o que perdoar, querido.

  -Eu gostaria tanto que tudo fosse diferente. -Doía tanto. Meu peito ardia. -Gostaria de te levar pra tantos lugares, passar tantas noite ao teu lado, acordar tantas manhãs na nossa cama. Não era pra ter acontecido.

  -Não, mas aconteceu.

Ouvi um barulho estranho nos trilhos quando um metrô parou ao nosso lado.

  -Esse é o meu.

Eu sabia o que significava, mas não conseguia. Apertei-a mais em meu abraço.

  -Ethan, meu amor, você tem que me deixar ir.

  -Não posso.

  -Pode sim. Tem que me deixar seguir em frente, para que você possa seguir em frente também.

A dor ficou pior e eu a apertei mais, beijando seu cabelo, sussurrando seu nome.

  -Sophie, por favor, não me deixe.

  -Eu preciso ir. Você precisa me deixar ir.

Ela se afastou um pouco, olhando pro fundo dos meus olhos, tocou meu rosto com sua mão delicada, e eu me aproveitei do toque, inclinando a cabeça, beijando a palma de sua mão.

  -Eu nunca amei ou amarei alguém como amei você, minha doce Sophie.

   -Você foi tudo que eu sempre desejei para minha vida.

Sophie inclinou a cabeça para trás, me olhando no fundo dos olhos, e me beijou, no ápice de dor em meu peito. Um som sufocado saiu do fundo de minha garganta. Ela colocou meu rosto entre suas duas mãos, forçando mais o beijo, antes de se afastar um pouco e sussurrar pra mim.

  -Ethan, Ethan. Ah, meu Ethan querido. -Meu nome em seus lábios pareciam preces, pedidos desesperados aos céus.

  E então, ela tirou seus lábios dos meus, se afastando, e quando ela me soltou, senti a dor sumir de repente, deixando um leve rastro de saudade, tristeza, amor...

-Eu vou te ver de novo? -Perguntei, meio distante.

  -Creio que não. -Ela respondeu, com um sorriso triste. -Mas você vai sempre me ter contigo, não importa onde esteja.

Sophie me deu um último beijo cálido e se virou em direção ao metrô, passando pelas portas e segurando na alça acima da cabeça. Ela fez um última gesto com a mão, sorrindo, enquanto as portas se fechavam, e eu retribui o gesto. "Eu te amo."

As Crônicas dos Daren - Livro II Da Brisa à TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora