Finalmente entendi os baixos ruídos, e a visão me causou arrepios. Um mar de ratos se estendiam a nossa frente e transbordaram pela porta recém descida. Baixei o arco e suprimi um grito quando eles avançaram, chegando aos nossas pés. Aquelas coisinhas malditas corriam em nossa direção, alcançando nossas pernas e tentando subir vez ou outra.
-Como vamos avançar nesse... Mar? -Lucas perguntou, com aparente incomodo.
Meu corpo arrepiava, aflito. No fundo, eu estava me controlando muito para não gritar. Eu nunca tive problemas com ratos ou nenhum outro tipo de roedor, mas eles eram como formigas: quando só, mal causavam incomodo, mas imagine um verdadeiro oceano de animaizinhos, correndo uns por cima dos outros. Olhei em volta, tentando de qualquer forma achar algo para espanta-los. Talvez uma tocha. Desencaixei a tocha da parede e aproximei-a do chão, abrindo um pequeno caminho entre os roedores.
Cada um de nós estava com um tocha, afastando os ratos. Querendo ou não, vez ou outra pisei em alguns, me encolhendo por dentro.
O corredor era muito extenso e parecia não ter fim, as paredes iluminadas pela chama vindo do lado esquerdo. Até que senti uma sensação estranha me incomodando, um calafrio terrível na base da coluna. Alguém me observava. Franzi as sobrancelhas com essa idéia. Pare com isso, pensei, sentindo o calafrio mais forte.
Continuamos andando. Essa droga nunca acaba. Olhei para mais além dos ratos... Uma curva, finalmente algo diferente. Meu ânimo se renovou, mas durou pouco. Algo ressoou no fundo da minha mente. Amara.... Um sussurro, quase uma ameaça. Meu sangue congelou. Amara.... Algum ponto atrás de mim. Meus olhos se arregalaram e eu me virei com tudo, a procura da voz, meu peito acelerando.
-Am, o que foi? -Lucas perguntou ao meu lado.
Amara... Algum lugar a minhas costas de novo. Virei bruscamente a procura da voz, mas meus pés se atrapalharam com o movimento e eu me vi caindo de lado, meu corpo indo de encontro ao chão, enquanto aqueles milhares de ratinhos avançavam em minha direção, fazendo seus barulhinhos irritantes. Soltei um grito de súbito desespero, balançando os braços, tentando proteger o rosto. A sensação de estar no chão com aqueles animais era horrível. Eu sentia as patinhas correndo em meu corpo e pior, eu sentia alguns debaixo do meu corpo. Dei mais um grito histérico antes de sentir duas mãos segurando meus pulsos e me levantar de uma vez.
-Calma, está tudo bem! -Ouvi Lucas dizer a minha frente, tentando me acalmar, enquanto ele batia de raspão em minha pernas e na mochila.
Mantive meus olhos bem fechados, meu corpo arrepiando sem parar.
-Pronto, está tudo bem? -Lucas perguntou, e senti tio Ethan mais ao meu lado.
Assenti, esfregando os braços, olhando ao redor.
-Vamos. Precisamos sair daqui. -Ethan disse, tão incomodado quanto nós.
Eu já estava exausta. Depois de alguns bons metros, os ratos começaram a sumir, ficando poucos e depois desaparecendo, mas eu ainda sentia as patinhas em meus braços e meu estômago embrulhava. Olhei nas paredes. Sulcos de arranhões me chamaram a atenção, assim como os arranhões na parede de pedra que deixamos para trás. De repente, me senti oprimida, mesmo sem saber o porque.
Ao meu lado, Lucas não parecia mais tão alerta. Suas pálpebras baixavam lentamente, e todos nós estávamos, praticamente, nos arrastando.
-Acho melhor nós pararmos pra descansar. -Sugeri, parando de andar.
-Concordo. -Tio Ethan disse, tirando a mochila das costas.
Antes de sentar-nos, Lucas me puxou num canto, acariciando meus braços e me encarando com preocupação.
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As Crônicas dos Daren - Livro II Da Brisa à Tempestade
AventuraDepois de fugir do carcere dos diurnos, Amara, Ethan e Lucas embarcam numa perigosa viagem para a Grécia a procura da próxima adaga elementar. Porém, apesar do curto trajeto, demônios e caçadores estarão a espreita. Em As Crônicas dos Daren - Livro...