Escuridão

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 Abri meus olhos, sentindo uma dor de cabeça insuportável. O que me acordou? Um estrondo. Uma das paredes desceram. Peguei a lanterna, testando-a, e ela enviou luz para o chão. Havia uma forma grande e encolhida a poucos metros, encostada na parede. Joguei a luz da lanterna. Tio Ethan. Ele olhava para a parede a sua frente, perturbado, o rosto era angustia e frieza. Seu rosto estava marcado de lágrimas secas e sujeira. Ele parecia... destroçado.

  -Tio Ethan. -Chamei, mas ele nem se moveu. 

 Fiz força para me levantar e senti uma imensa vontade de gritar. Minhas unhas estavam quebradas, imundas de terra e sangue, na carne viva. Tentei me levantar sem usar as mãos, quase caindo por causa da mochila, mas consegui ir até tio Ethan. 

 De perto, ele parecia ainda pior. Seus olhos estavam vermelhos, sérios, tristes. Era difícil olhar para ele daquele jeito, me apertava o peito. Ele ainda poderia estar numa daquelas visões. 

  -Tio Ethan... -Chamei com cuidado. -Você pode me ouvir? 

 Ele não respondeu. Me aproximei mais, tocando de leve em seu braço que estava cruzado sobre os joelhos, colados no peito na altura do rosto, como um garoto. 

  -Tio Ethan? -Minha voz minguou um pouco. -Tio Ethan, você consegue... 

  -Estou bem, pequena. -Ele colocou a mão sobre a minha, mas ainda não me olhava. Sua voz era baixa, rouca e pesarosa. -Eu... Vou ficar bem. 

 Abaixei a cabeça, pousando-a em seu braço, e ele acariciou minha cabeça, mas ainda estava distante e muito abalado. O que ele viu? Lembrei-me de papai, olhando triste para mamãe, antes de me alertar, já prevendo o pior. Eles tinham algo em comum. Não foi algo que ele viu, foi alguém, o que tornava tudo pior. 

  -Deixe-me ver suas mãos. -Ele falou, preocupado, tirando coisas da mochila. 

  -Mas Lucas... 

  -Vamos achar um jeito. -Respondeu, determinado. 

 Ele lavou meus dedos com soro e antibactericida, me fazendo ter vontade de gritar, mas me segurei, enquanto ela passava pomada. Eu nunca teria unhas bonitas se continuasse quebrando-as daquele jeito. Ethan enfaixou meus dedos com algumas gazes e  esparadrapo. Ele parecia meio concentrado no que fazia, mas eu sabia que sua mente não estava ali. Eu queria perguntar, mas nunca teria coragem de fazer aquilo.

 Mais um barulho estrondoso e nossas cabeças se viraram na direção que as ultimas paredes desceram. Lucas estavam curvado, de joelhos, a face voltada pro chão, respiração meio ruidosa, o corpo tremendo. O que aconteceu? Olhei para tio Ethan, meio desesperada, mas ele assentiu, me permitindo cambalear até Lucas. 

 -Lucas. -Toquei suas costas e ele grunhiu de dor, então tirei-a, assustada. -Lucas?

 Segurei seu rosto de leve, com cuidado por causa do meus dedos, e ele encobriu minhas mãos com as próprias, mesmo que sem apertá-las. 

  -Am? -Ele mantinha os olhos fechados, com uma expressão dolorosa. 

  -Meu Deus, fiquei com tanto medo. -Sussurrei, colocando minha testa na sua e beijando seu rosto. -Como se sente? Deixe-me vê-lo. 

  -Não. -Ele recusou quando fiz menção de tirar minha mão de seu rosto. -É um alivio ouvir sua voz, Am. 

 O que? 

  -É um alivio ouvir a sua também. -Por que ele não abria os olhos? -Está tudo bem mesmo? 

  -É tudo tão escuro. 

  -Abra os olhos, Lucas. -Isso é porque você está com os olhos fechados, eu queria murmurar, mas me detive. -Deixe-me ver seus olhos. 

 Seus olhos verdes, minha paz e tranquilidade dentro daqueles olhos.  

As Crônicas dos Daren - Livro II Da Brisa à TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora