Prólogo

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"Quando as cortinas se fecharem

Vai ser pela última vez

Quando as luzes se apagarem

Todos os pecadores rastejarão"

Demons • Imagine Dragons

Califórnia, 2012.

Na casa da família Cohen tudo estava um caos, como sempre. O primogênito da família estava emburrado em seu quarto, que ficava no segundo andar da casa, ouvindo rock no último volume, com fones de ouvido. Fazia isso sempre que estava cheio de seu pai e seus sermões.

Mais uma vez havia saído com o carro dos Cohen, mas dessa vez ele o bateu após ter bebido muito na festa de um dos seus amigos. Não chegou a se ferir, só alguns arranhões no rosto, nada grave.

E mais uma vez teve que ouvir seu pai dizer que era um irresponsável, que poderia ter ferido alguém com suas brincadeiras infantis. Para Taylor, não tinha nada de mais, estava na idade de curtir o quanto pudesse, sem se importar com o amanhã. Nem mesmo se importava se alguém saísse ferido.

Sentia ódio de seu pai por dizer aquelas coisas e o tratar da pior maneira possível. Senhor Cohen tinha um temperamento forte, e isso se via no que fez para crescer tanto na vida, não se importando com quem tivesse que passar por cima para conseguir o que queria. Talvez Taylor fosse igual a ele?

Já era madrugada na casa, e se podia ouvir vozes de seu pai no andar de baixo, gritando pela casa como faria o Cohen mais novo ser responsável. Sua mãe tentava acalmá-lo, pedindo para falar com ele no dia seguinte, quando estivessem mais calmos.

Algo não sairia como ela queria no dia seguinte. Alguém ali perto, que observava a hora certa de agir, queria acabar com a vida da família que tentava passar uma imagem de "família feliz". Mas ninguém sabia os podres por trás dos sorrisos brancos e alinhados. Taylor odiava isso, era esse o motivo das desavenças com seu pai.

Em questão de segundos, a luz apagou. Taylor, que estava deitado em sua cama, olhando para o teto, estranhou. Pensou que poderia ser só um apagão e a luz voltaria em seguida. Esperou, mas nada aconteceu, tirou os fones do ouvido para se levantar e ver o que havia acontecido. Assim que se levantou e foi em direção à janela para ver se só a sua casa estava sem eletricidade, ouviu pancadas e gritos no andar de baixo. Antes que pudesse chegar à porta e ver o que estava acontecendo, sentiu um impacto forte que o jogou contra algo.

Suas costas doeram com o impacto, sua cabeça rodava e não conseguia abrir os olhos. Mas ouvia a gritaria ao longe. Era sua mãe? Não sabia dizer.

Tentou se levantar, mas tudo doía, como se tivesse levado uma surra e quebrado algumas costelas. Meio desnorteado, ele conseguiu se levantar e viu o que realmente estava acontecendo. A casa estava pegando fogo. Chamas alaranjadas saíam pelas janelas altas, sem ninguém para contê-las. Foi aí que percebeu que a explosão o tinha arremessado para fora da casa pela janela.

Sem saber o que fazer e desesperado, correu para a porta dos fundos e tentou abri-la, mas estava trancada. Taylor se jogou algumas vezes contra ela, sem ligar para seu ombro, que só reclamaria mais tarde, depois que a adrenalina diminuísse. Conseguiu quebrar o trinco, então abriu a porta sem esperar mais um segundo. Ele olhou para dentro, mas não se via mais nada, só fumaça e chamas que pareciam crescer cada vez mais. Taylor queria que tudo não passasse de um pesadelo e esperava acordar a qualquer momento. Mas estava longe de serem apenas imagens de sua cabeça.

Colocou um pano qualquer que havia encontrado no nariz para se proteger um pouco da fumaça e começou a gritar pelo nome de seus pais, tentando, de alguma forma, ser útil naquele inferno quente.

Desviando de alguns móveis que já estavam em chamas, encontrou dois corpos no chão, imóveis. Ele correu para ajudá-los, mas viu algo que o deixou horrorizado. Seus pais estavam feridos, com cortes pelo corpo todo, sem vida.

Ainda sem acreditar no que via, ele se abaixou perto deles e os chamou, passando as mãos em seus rostos. Era tarde, não havia mais vida e nem esperança.

Alguns vidros quebraram ao seu lado, fazendo-o se assustar e proteger o rosto, mas assim que se virou, viu a criaturinha frágil caída ao pé da escada, desacordada, sem demonstrar estar respirando.

Correu até ela e a pegou nos braços, percebendo que ainda respirava, mas estava fraca. Taylor se levantou com ela em seus braços, mesmo que suas costas protestassem pela queda. Com o coração apertado, teve que tomar a decisão mais difícil da sua vida — deixar seus pais para trás e salvar sua irmã, que dali em diante dependeria dele.

Ele saiu às pressas de dentro da casa e se sentou a uma distância segura, vendo o lugar que cresceu e passou a infância, em momentos felizes e tristes com a família, ser destruído pelas labaredas, sem nenhuma piedade.

Taylor abraçou a irmã com mais força e apertou a cabeça dela em seu peito, prometendo que daria a vida para proteger a única parte existente que ainda estava com ele. Não teria piedade de ninguém, descobriria quem havia feito aquilo e se vingaria do mesmo jeito, ou pior.

Com lágrimas nos olhos, jurou em voz alta aquilo que mais crescia em seu coração:

― Eu vou descobrir quem fez isso, e me vingarei por vocês, nem que seja a última coisa que eu faça.

Tudo da sua vida seria apagado, dali em diante seria outra vida, outro objetivo e uma vingança a ser cumprida.

― Adeus, Taylor Cohen.

Por trás da mentira (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora