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"Eu não gosto dos seus joguinhos

Não gosto desse seu palco inclinado

O papel que você me fez interpretar

De tola, não, eu não gosto de você"

Look What You Made Me Do • Taylor Swift

Liz

Pela milésima vez, suspiro e olho para a mesa lotada de livros sobre direito. Faz um bom tempo que estou sentada, revisando constituição atrás de constituição, anotações e mais anotações, e com um caderno todo cheio de marcações e post-it de diversas cores.

Ouço um pigarreio, então paro de prestar atenção nas anotações e olho para cima, em busca da dona ou dono do som. Uma mulher me encara com tédio estampado na seu rosto.

― Moça, já estamos fechando a biblioteca.

Pego meu celular e vejo as horas. Oito da noite. Arregalo meus olhos, pego minha bolsa e meus materiais antes de pedir desculpas pela demora. Assim que passo pela porta dupla da biblioteca, sou recebida pelo vento gélido em meu rosto. Não tenho nem como comparar Kingston com a Califórnia, mas admito que estou ansiosa pelo inverno daqui. Entramos no mês de outubro, quer dizer que faz um mês que moro aqui.

Começo a fazer minha caminhada de aproximadamente meia hora até o apartamento, preciso comprar um carro logo. Nina nem sempre pode me dar carona, como hoje, que ela foi se encontrar com o Matt. Ao ouvir o ronco de uma moto atrás de mim, eu me viro e sou atingida pela luz do farol no meu rosto, então, automaticamente, minha mão cobre meus olhos. A moto para ao meu lado, então sei que é Davon.

Ele me olha, mas não sorri, não há resquício algum do seu sorriso debochado ou sacana, o que me faz estranhar.

― Quer carona? Daqui até o seu apartamento é uma longa caminhada.

Olho para ele como se estivesse louco.

― Qual é a pegadinha desta vez, Davon? ­― Ele me olha e solta um suspiro impaciente. ― O que aconteceu com você? ― pergunto, estranhando.

­ ― Vai querer a carona ou não? ― diz, ignorando a minha pergunta.

Não quero discutir no meio da rua com ele. Minhas pernas reclamam de dor por tem caminhado um bocado, e ainda falta muito até o apartamento. Sem contar que é raro ver Davon não sendo um babaca em tempo integral.

― Ok. ― Ele me entrega o capacete que segundos atrás usava.

Monto na garupa da moto e apoio as mãos atrás, para não ter que segurar nele.

― Assim você vai cair, Elizabeth. Eu não mordo ― diz Davon, virando a cabeça para me encarar.

Por mais que eu odeie concordar com ele, está certo. Passo meus braços ao redor da sua cintura e, então, ele acelera. Quando sinto sua barriga por cima da blusa, preciso admitir que é bem definida. Paro de focar nele, sinto o vento bater contra o meu corpo e fecho os olhos até chegar ao apartamento.

Sinto a moto parar, me fazendo abrir os olhos. Desço e retiro o capacete, entregando a ele enquanto o encaro e vejo a preocupação invadir seu rosto. Não pergunto nada, não é da minha conta, e nunca será.

― Hum, obrigada pela carona.

Ele me olha e assente com a cabeça, colocando o capacete e acelerando, sumindo na rua. Assim que entro no apartamento, procuro por Alex, mas não a encontro, então jogo minha bolsa no sofá e caminho até o quarto. Estou cansada, preciso de uma boa noite de sono. Agora que conheço um pouco Kingston, é hora de focar nos estudos ― de casa para a faculdade, da faculdade para a biblioteca, da biblioteca para a casa ―, e assim vai ser meu novo cronograma, com exceção dos fins de semana, que serão reservados por algumas horas para séries. O resto será estudar, estudar e estudar.

Por trás da mentira (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora