Capítulo 8

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Uns dias depois...

Priscilla estava no seu quarto, olhando para o teto, com um olhar tão absorto na lâmpada do candeeiro que nem deu conta do celular tocando. O seu pensamento estava longe, ou melhor, estava precisamente divagando lá para os lados da Barra da Tijuca onde uma certa morena tinha o seu pouso. "Pára de enxergar cabelo em cabeça de ovo, Priscilla!", se repreendia mentalmente numa conversa mental que durava quase há uma hora. "É normal as pessoas marcarem esses encontros informais!", se forçava a aceitar.

O celular continuava tocando e a mulher nem aí. "Não seja besta Pri, não vê que ela está dando em cima de você bem na cara dura?", uma outra voz, de uma Priscilla mais maldosa, soava insistente. "E daí se ela estando em cima de mim? Eu só aceitei ir nesse encontro por questões de trabalho!", respondia a si mesma, naquele monólogo simulado de diálogo cada vez mais sem sentido. "Isso, negue, você é boa nisso!", outra voz, impertinente furando o seu tímpano.

_Já chega!_exclamou num grito, agarrando com brusquidão o celular._O que é?

_Credo, Pri!_respondeu do outro lado uma Júlia assustada._O que foi que eu te fiz, garota?

_Desculpa, Ju!_se apressou a falar amaciando o tom de voz._Eu estava aqui ..._fez uma pausa, pensando em qual desculpa dar à amiga._...ocupada._foi tudo que lhe saiu.

_Mas está tudo bem?_perguntou ainda preocupada.

_Sim, sim! Claro!_falava depressa demais, estava quase hiperventilando._Eu preciso ir agora!

_Ei, calma aí! Não ouse desligar!_revidou a outra morena._Você não está nada bem! Vamos, me conta. O que aconteceu com você?

_Ai Júlia, nada!

_Preciso ir aí arrancar de você à força?_ameaçou, sabendo muito bem que não era bom deixar o assunto por ali mesmo, não porque gostasse de se meter na vida da amiga, mas porque já a conhecia bem o suficiente para saber que tinha o hábito de se fechar quando tinha algum problema.

_Eu só estou preocupada com um encontro que eu marquei com a Natalie Smith._confessou, mas sem dar grandes detalhes.

_Um encontro?_repetiu em interrogação._Encontro... você quer dizer encontro encontro, tipo...

_Não!!! Não é um encontro!_retorquiu em pânico.

_Mas você falou encontro.

_Sim, eu sei o que eu falei!_respondeu bruscamente._Mas não esse tipo de encontro! É um encontro de trabalho!_esclareceu.

_Okay..._respondeu, sem saber muito bem qual a reação que devia expressar visto que a amiga não estava fazendo sentido nenhum.

_Júlia, é complicado... _ desabafou, levando a mão que estava livre à têmpora onde massageou.

_Porque é complicado?_tentava entender.

Teve de pensar durante um tempo, porque não sabia como colocar em palavras o que estava sentindo. Por um lado, sabia que estava sendo incoerente desde o começo com essa situação da Natalie, mas por outro lado, algo naquela mulher a fazia se sentir nervosa. E aquele olhar tão penetrante a fazia estremecer de um jeito que ela não sabia o que podia significar, ou talvez soubesse e só não queria admitir. Balançou a cabeça, tentando se desfazer daqueles pensamentos.

_Ah Ju ... ela é toda extrovertida, chega logo cheia de intimidades. Você sabe como eu sou! Gosto de ficar quietinha no meu canto._justificou-se com aquilo que não deixava de ser verdade.

_Eu sei Pri, mas é bom a gente se dar com pessoas diferentes da gente! E a Natalie é um amor de menina.

_Como assim um amor?_questionou com o semblante confuso._Você a conhece assim tão bem pra dizer isso?

Entre Tapas e BeijosOnde histórias criam vida. Descubra agora