Entre Tapas e Beijos

Capítulo 14

Apartamento da Natalie

4 e meia da manhã

Priscilla observava o rosto da morena mais velha adormecido à sua frente. Ela aparentava estar tão tranquila, tão plena, tão em paz. Observou os seus lábios relaxados, entreabertos, que pareciam fazer-lhe um convite silencioso na penumbra da noite. A produtora soltou um pequeno suspiro, baixo, desviando o olhar para o teto do quarto. Estava ficando louca e não sabia como recuar nessa loucura toda. Natalie não tinha feito nenhuma outra tentativa de a beijar, se mantendo muito cuidadosa ao lidar com a mais nova, sendo prestativa e atenciosa durante toda a noite. Tinha cuidado do seu machucado e preparado uma omelete com presunto para elas, porque segundo a empresária "Ovo é tudo, Pri! Você come uma meia dúzia e fica pronta pra outra! Mas hein, não vai me fazer outra dessa tão cedo, hein marrentinha?!".

Priscilla riu baixinho ao recordar as palavras de Natalie; ela era tão engraçada! Claro que no início a produtora não havia lhe achado a menor graça, muito pelo contrário, mas a questão é que "aquilo" era Natalie Smith; não era personagem, não era fachada ou teatro. A Natalie que ela estava aprendendo a conhecer era legitimamente palhaça, mas não era uma faceta ruim, era apenas a faceta que a deixava na maior parte das vezes sem jeito por não estar na sua zona de conforto. No entanto, a outra, aos poucos, estava conseguindo fazê-la descontrair, pois ao final da noite Priscilla já havia gargalhado tanto ao ponto de lhe doer a barriga. Ela soltou mais uma risada ao relembrar da resposta da mais velha a isso: "Já pode dispensar a academia! Isso é como malhar os abdominais!"

Priscilla levou o braço à fronte, relaxando a mão sobre a testa. Ela estava louca e a verdade é que talvez não quisesse recuar nessa loucura toda.

_Pri?_uma Nati adormecida murmurou._Você está bem?_ entreabriu um olho para observá-la.

_Volte a dormir._murmurou de volta._Está tudo bem.

Natalie sorriu, voltou a fechar o olho e abraçou-se ao unicórnio no meio delas. Priscilla sorriu para a cena e não se conteve, tocando ao de leve o rosto da morena adormecida. Natalie soltou um barulhinho como o de um gato manhoso, mas não abriu os olhos, apenas sorriu.

_Você é linda, sabia?_sussurrou, abandonando qualquer medo que ainda restasse dentro dela.

_Sabia, mas escutar você dizer é como um sonho._respondeu, continuando de olhos fechados.

_E convencida, você também já sabia que era?_atirou com os moldes de um sorriso no tom de voz.

_Eu prefiro realista na verdade.

_Boba!_exclamou, retirando a mão do rosto da morena.

Natalie abriu os olhos de forma repentina. Encarou Priscilla ainda sonolenta, mas não deixou de sorrir.

_Não pára, por favor._pediu, procurando a mão da mais nova e trazendo-a de novo para o seu rosto._Estava tão gostoso esse carinho.

Priscilla sorriu timidamente, se sentindo ruborizar, mas assentiu ao pedido, continuando as carícias, desta vez descendo até à orelha da outra mulher, massageando o lóbulo com o indicador e o polegar. Natalie tornou a fechar os olhos, toda manhosa.

_Obrigada._sussurrou em um suspiro.

O quarto não estava totalmente escuro, até porque as cortinas estavam abertas e a luz da lua banhava parte do quarto, o que permitia à morena mais nova ver as linhas de expressão do rosto da outra suavizar mais ainda à medida que continuava as carícias. Natalie soltou um suspiro sonoro, mas não se moveu, aparentando estar desfrutando muito do carinho. Na realidade, a vontade dela era puxar Priscilla para si e tascar-lhe um beijo, mas não ia fazer nada; tinha se mentalizado, por mais que lhe custasse, que não ia forçar a barra. Não queria que a produtora se sentisse obrigada a nada ou que se sentisse constrangida com alguma coisa, portanto se fosse para elas serem somente amigas, Natalie teria de aceitar.