Entre Tapas e Beijos

Capítulo 10

É curioso pensar que a vida prega peças e nos coloca em situações que fugiríamos se tivéssemos prévio conhecimento do que nos espera, mas o que torna a existência singular são, justamente, esses acasos a que somos expostos.

Priscilla não conseguia processar muito bem os turbilhões de ideias que lhe bombardeavam a mente, o que havia acontecido entre ela e Natalie, jamais lhe passara algum dia pela cabeça. "Um beijo. Um beijo... Eu beijei uma garota" era o pensamento que teimava em se repetir, a produtora estava em conflito com os próprios sentimentos. "Natalie teria planejado tudo aquilo?... eu não suporto aquela sem noção... que beijo...". Passou a mão no contorno dos lábio como se tocasse também os lábios de Natalie. "quem ela pensa que é?... os lábios dela são tão macios...". Esses pensamentos não a deixam um instante, seu coração acelerado parecia que saltaria pela boca a qualquer momento, no entanto ela não sabia distinguir se era raiva ou outra coisa que não ousaria pronunciar.

Tentava se concentrar na papelada em cima da mesa, mas não funcionou porque suas reflexões estavam em outro local, ou melhor, em uma determinada pessoa. Levantou-se caminhou até o sofá, sentou-se, ajeitou o notebook nas pernas e recomeçou todo o trabalho na vã tentativa de afugentar todas aquelas ideias, acabou por lembrar do que acontecera horas antes naquele sofá. Ali não seria um bom local para trabalhar, pois rememorava tudo o que deseja esquecer.

Queria falar com alguém, precisava de um conselho, de um ombro amigo que pudesse lhe dar apoio sem julgar aquele acontecimento. Pensou em Júlia, ela seria a pessoa certa para desabafar, a amiga que já ouviu tantas vezes os desabafos da produtora, teria conhecimento também deste. Priscilla decidiu ir para casa, aquele dia já tinha rendido tudo que podia e mais um pouco. Pegou a bolsa, desligou os aparelhos eletrônicos, fechou a Ponto Ação e foi a casa, precisava de um banho relaxante para organizar as ideias e criar coragem para conversar com Júlia.

A sócia de Rodrigo após chegar em casa e refrescar-se com o merecido banho, resolveu ligar para a melhor amiga.

__ Oi Júlia, você está ocupada? __ perguntou a produtora com uma voz quase inaudível.

__ Pri, aconteceu alguma coisa? __ questionou Júlia do outro lado da linha preocupada. __ você está com uma voz estranha. __ continuou percebendo o tom da melhor amiga.

__ É... mais ou menos. __ disse duvidosa. __ queria que você desse uma passada aqui em casa. __ pediu.

__ Não deu certo a reunião com a Natalie? __ interrogou a fim de descobrir o motivo da amiga estar estranha.

__ Aqui a gente conversa, pode ser?! __ respondeu séria.

__ ok, vou passar ai com você! __ respondeu e desligou o celular.

Júlia chegou ao apartamento de Priscilla,mais ou menos uma hora depois de ter falado com ela pelo celular, deu boa noite ao porteiro, logo foi notificada de que seu acesso estava liberado. A assessora chegou ao apartamento, tocou a campainha e não demorou muito para ser atendida por uma amiga que aparentava não estar nenhum pouco feliz.

__ Amiga, o que houve, você está bem? __ interrogou Júlia.

Priscilla deu espaço para que a morena entrasse e mal fechou a porta, voltou-se para a jovem a sua frente e a abraçou. Não disseram nada apenas ficaram ali abraçadas.

Já dizia Shakespeare "amigos são irmãos que nos permitiram escolher". Diante do abraço sincero de um amigo, temos a certeza de que não estamos sozinhos, de que nossos medos podem ser enfrentados, pois contamos com aquele que está ao nosso lado para rir e chorar; elogiar e criticar, se for necessário, porque um verdadeiro amigo é para todas as horas.

__ Pri, você está me assustando! __ confessou júlia. __ O que houve me conta? Você não é assim. __ continuou.

A produtora levou júlia para sentarem no sofá da sala, estavam frente a frente. Júlia olhava para Priscilla sem entender o porquê do comportamento da amiga, a produtora queria despejar de uma vez tudo que estava preso, mas tinha medo.