Capítulo 9

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O meu coração nunca bateu tão acelerado. Nem quando falei com o Wesley pela primeira vez, nem quando tive aquela conversa séria com a minha mãe, nem mesmo quando a minha avó morreu. Nunca me senti assim. Estou assustada, não sei o que fazer. O telemóvel continua a tocar mas tenho medo. Será que devo chamar a minha mãe? Não. Fá-lo-ei sozinha. Num impulso pego no telemóvel para o atender, mas em vão. Desligaram. Olho fixamente para um ponto indefinido, com os olhos bem abertos, como se tivesse acabado de ver um fantasma. Tento perceber o que acabara de acontecer mas apenas consigo pensar no nome que lá aparecia. "Avó Diana". Não consigo tirar essa imagem da cabeça. Porque é que isto me está a acontecer?! Logo agora que já tinha quase ultrapassado esta fase... *trim trim* dou um salto na cama e ponho a mão no meu peito, na esperança de me acalmar. Pego no telemóvel e atendo.

-Estou? Estou?! Quem está aí? - digo irritada e espero uma resposta - Fale!! 

Desligaram. Mas que porcaria é esta? Será que está alguém a gozar comigo? 

*trim trim* outra vez? Pego de imediato no telemóvel e deslizo o ecrã para atender. Desta vez era apenas o despertador. Dou um suspiro de alívio e levanto-me da cama. Vou até ao espelho e olho para o meu reflexo, tentando acalmar-me e colocar as ideias em dia. Lavo a cara e visto-me de imediato, com pressa, na esperança de ainda conseguir encontrar a minha mãe no andar de baixo. Desço as escadas e passo o corredor em direcção à cozinha. A casa estava um pouco escura, apesar das janelas estarem abertas, o dia estava enublado. Sinto uma ligeira brisa proveniente das janelas e arrepio-me, fechando os olhos e aproveitando aquilo que mais parecia um leve carinho na minha face. Pego na minha chávena e começo a tomar o pequeno-almoço, ainda em pé. Uma brisa mais forte faz com que as cortinas se levantem, lembrando-me uma cena de um filme de terror. Com isso, dou um passo atrás e tropeço em alguém, deixando cair a chávena. 

-Charlotte? Estás bem? 

-P-pai? Pai! - abraço-o com uma expressão preocupada.

-Passa-se alguma coisa? 

-Pensava que já tinhas ido de viagem...

-Não, hoje só vou logo à noite. Pareces-me um pouco perturbada.

-Passou-se algo que me deixou um pouco assustada... 

-O que foi?

-A avó Diana ligou-me. Quer dizer, alguém me ligou do número dela.

-Como é possível? Nem sequer tinha conhecimento de que ela tinha telemóvel, mas mesmo assim... O que disseram? 

-Nada, desligaram logo de seguida. Seja quem for que tenha sido, foi uma brincadeira de muito mau gosto, ainda por cima tinha acabado de acordar...

-Eu vou saber quem fez isso. De certeza que a tua avó não deve ter mencionado o telemóvel no seu testamento, portanto deduzo que quem o tem será alguém com quem ela tivesse muito contacto nos seus últimos dias. Quando chegares da escola já devo ter respostas, agora prepara-te que hoje quem te leva sou eu.

-Está bem pai, obrigada.

Saímos e cheguei por fim à escola. Normalmente os meus pais não me costumam trazer à escola, portanto é um pouco estranho isto ter acontecido hoje. Mas ainda bem que assim foi, senti-me muito mais em segurança em relação ao que aconteceu hoje... 

Ao longe consigo avistar o Miguel. Não estou com vontade nenhuma que ele me confronte. Não, hoje não. Tento meter-me no meio da confusão mas mais à frente avisto uns arbustos e aninho-me atrás deles, esperando que ele saia dali. 

-É boa a vista daí? - alguém diz.

-Xiiiiiu! - viro-me e faço um gesto a pedir silêncio, voltando a fixar-me no meu alvo, sem sequer ter reparado em quem me tinha falado. Viro-me de novo para trás, bruscamente, caindo em cima dos arbustos - W-wesley?! - toda a escola ficou a olhar, ouvindo-se principalmente comentários de raparigas.

Strange CoincidenceOnde histórias criam vida. Descubra agora