POVS CHARLOTTE
-Só podes estar a gozar comigo Wes! Eu já sabia que virmos para o meio do monte com um chaço velho não ia dar resultado! Já consigo ver o nosso fim. Ele está próximo. Tu sabes a quantidade de vampiros e lobisomens que existem por aqui?! Sabes?! Não, não sabes. Tu és estúpido. Não vejo outra solução senão venderes a tua alma para que alguém nos tire daqui. Desculpa Wes, foi bom conhecer-te mas assim terá que ser. Na verdade não foi bom conhecer-te, no entanto terá que ser assim na mesma. És tão jovem para um fim destes... Mas quando nos tirarem daqui eu recebo o prémio por ti. Se quiseres também faço um discurso em tua homenagem. Ó, se calhar não. Sabes porquê?! - grito - porque eu também vou morrer aqui!!!
-Já acabaste? Achei o teu discurso deveras inspirador. Estou a brincar, não ouvi uma palavra do que tu disseste mas quase que aposto que estavas a elogiar o meu charme. Enquanto discursavas para os grilos, tentei ligar para alguém mas não tenho rede. A não ser que percebas de carros ou saibas caçar, vamos morrer.
-Tens sorte que eu até percebo de carros...
-Estás a falar a sério?
-Não.
-Ok Cher...
-Mas sei caçar.
-Sabes?
-Não.
-Mais uma vez, ok Cher...
-Mas trouxe uma tenda.
-Trouxeste mesmo?
-Não. - ele olha para mim chateado mas encolhe os ombros.
-Acho que a nossa única hipótese é esperar que alguém se lembre de passar por este atalho e que nos dê boleia. Enquanto isso, pomo-nos numa beira e conversamos sobre as nossas vidas até começarmos a chorar. Caso ninguém passe por aqui, morremos.
-Ok... Eu tenho uma filha. Chama-se Joana e tem dois anos. Não foi planeada. Vive na cave de minha casa.
-What?
-Estou só a brincar.
-Ah, fico mais descansado. - diz aliviado.
-Tem três anos.
-Estás a falar a sério Cher? - ele diz espantado.
-Não.
-Cher... Já reparaste que não dizes nada de jeito?
-Não.
-Ok.
-Ok. -após uns minutos constrangedores de silêncio decido falar - Porque é que me beija... - sou interrompida pelo barulho de um carro que se aproximava de nós.
Que carrão. Se eu percebesse alguma coisa de carros diria que era um Porshe, como não percebo não digo nada. O mesmo pára à nossa frente e o condutor sai do carro. Não tem qualquer aspecto de motorista. A julgar pelas calças de ganga com marcas de lixivia ou tinta branca, diria que é um trolha. É musculado e tem o cabelo oleoso. É o homem de sonho nos meus pesadelos. Vejo-o a dirigir-se à porta de trás do lado do condutor e a abri-la. Tal como acontece nos filmes, uma perna de senhora toca no chão, enquanto o resto do corpo ainda se encontrava dentro do carro. Assim ficou durante uns segundos para dar "aquele" impacto e de seguida, cuidadosamente, sai de lá uma jovem atraente loira, num belo vestido comprido e vermelho que lhe favorecia as curvas. Visualizei aquele momento em câmara lenta e dei por mim com a boca aberta de espanto, tal era a sua beleza. O suposto motorista volta ao carro e arranca rapidamente, deixando a bonita rapariga no meio da estrada. Esta começa a caminhar e assim continua passando por nós e entrando floresta a dentro com um sorriso na sua face. Ok, isto foi estranho.