Dragões!
Isso mesmo.
Dragões!
Fazia duas semanas desde que Ethan e eu passamos a sair do colégio para descobrir algo sobre minhas visões quando, durante a nossa última tentativa, ele disse: "Espero que não precisemos matar nenhum dragão".
Eu nem sabia que em Quartenália havia dragões.
Aliás. Eu nem sabia que existia dragões em qualquer lugar que fosse!
Passaram-se quatro semanas e o tempo gasto me tirava o sossego. Eu conversava muito com Grech à noite, e ela me dizia sobre como eu devia ser cautelosa. Ora, as trevas não podiam saber sobre os meus planos.
A cada encontro, apesar da falta de progresso com as visões, eu descobria algo importante, porém ruim. Ethan parecia estar ficando mais fraco. Ele usava suas energias tentando me ajudar e isso parecia estar acabando com ele.
Um dia- isso quando agosto já havia ido embora e a maior parte de Setembro também- enquanto ele se concentrava sentado à minha frente, caiu na cama de cansaço. Eu achei estranho, porque eu não estava assim. Perguntei à Grech o que estava acontecendo, ela pareceu preocupada. Andou em círculo por algum tempo e disse: "Eu acho que ele tem feito muito esforço para ajudar a luz. Isso não é da natureza das trevas. A natureza luta contra nós quando tentamos vencê-la".
Era uma quinta-feira e estávamos no hotel quando Ethan, com olheiras e os cabelos mal cuidados, os lábios ressecados e uma aparência que não era dele, falou:
- Alice, eu... acho que... devemos mudar nossa tática. Isso não... está mais funcionando.
- Já eu acho que devemos parar por um pouquinho de tempo- falei gesticulando com os dedos.
- Não- ele disse de um modo que senti pena- Estamos ficando sem tempo.
- Como assim?
- Você não entenderia...
- Ethan, me fala agora!
- Não, Alice. Você esteve cega desde o início. Eu não posso te contar nada porque você é das trevas, e eu sei que lá no fundo você sabe disso. Mas você prefere se enganar pra no final eu não dizer um "Eu te disse". Isso é arrogância, e eu não contaria os planos da luz para alguém arrogante como você.
Eu fervi de raiva, levei minhas mãos para empurrar Ethan, já que não queria bater no seu rosto. Ele segurou meus pulsos assim que minhas mãos o tocaram e aconteceu novamente.
Era uma voz velha e seca que dizia:
"Das filhas da dama cinzenta, esquecida no Vale das Pedras, sai um cetro. De onde não se vê, uma pedra rejeitada, mas que dentro da sua capa rude existe um tesouro. Pra onde não se vai, um lago roxo. E a chama negra dos abriscos de feras vespertinas de horror noturno. E ao final, o menino em ascensão saboreia a loucura da sua morte cruel"
- Consegui- disse Ethan caindo na cama de cansaço e gemendo de dor.
- Isso.. foi de propósito?- perguntei atordoada.
Ele me olhou e esforçou um sorriso ao confirmar com a cabeça.
Fiquei ao seu lado esperando que ele melhorasse. Fiz massagens nas suas mãos que tremiam do choque que ele surportara até o fim da visão.
- Alice- ele disse por fim- Acho que... vamos ter... que fazer uma viagem.
- Uma viagem?
- Não entendeu? Temos que construir algo.
Eu tentei juntar as informações na minha cabeça. Cetro, pedras, chama negra... O que quer que significasse, demoraria para ser decifrado.
Primeiro: a voz citava lugares, claro que mais parecia uma espécie de charada. Segundo: citava algo que encontraríamos nesse lugar. Então nós teríamos que criar algo usando o que as instruções diziam para conseguirmos. Mas "como" encontrar esses lugares?
Deveríamos começar pelo "Vale das Pedras". Mas o que isso queria dizer? Onde ficava esse tal Vale das Pedras?
- Uma travessia- falei mais para mim mesma que para Ethan- Uma travessia para criarmos...
- Um cetro, eu acho- Ethan continuou- A voz dizia algo sobre um cetro. Talvez as demais coisas eram partes dele.
- Tudo bem... Mas isso não faz sentido. Temos instruções do que fazer, mas pra que fazer?
Ethan pareceu um pouco pensativo. Apoiou o queixo na mão e o cotovelo no outro braço.
- Talvez ele seja um cajado que tem o poder de aprisionar as trevas... não sei.
- Mas quando vamos começar, e por onde?
Ele pensou mais um pouco e falou:
- Não podemos passar um bom tempo fora do colégio. Também não podemos esperar muito. Mas eu acredito que podemos esperar as férias de inverno.
Eu abri a boca admirada. As férias de inverno ainda estavam longe! O que faríamos durante os dois meses e meio?
- Tudo bem- falei- E até lá?
Ele riu de lado e ajeitou o cabelo.
- Até lá você vai aprender sobre como ser uma dama de Quartenália. Pode pedir para a sua guardiã te ensinar, se quiser.
- Ah! Ela vai adorar isso!- imaginei Grech empolgada me ensinando costumes do seu mundo.
Ethan riu novamente.
- Eu queria que o tempo passasse de uma vez- ele disse- Pra tudo isso acabar.
Eu tinha medo do que ele queria dizer, mas ainda assim precisava entender, então perguntei:
- Tudo o quê?
Ele não sorriu de lado dessa vez. Olhou sério para além da parede atrás de mim.
- Eu tô enfraquecendo, Alice. E rápido.
Um gelo se quebrou em algum lugar no meu cérebro. Um nó se formou na boca do meu estômago e eu senti meu coração palpitar loucamente, algo que não tinha nenhuma relação com o fato de eu estar me apaixonando por Ethan.
- Mas isso... Isso é porque você está se esforçando muito- tive de me conter para não falar "para ajudar a luz".
- Não, Alice. Isso é porque o tempo está passando. Eu não sei como, mas acho que temos um prazo. Parece estranho, mas eu acredito que seja assim.
Eu bufei de raiva. Era impressionante como tínhamos mais respostas sobre Quartenália do que quem quer que nos apresentou à esse mundo. Nós simplesmente não tínhamos a quem recorrer para saber sobre como prosseguir, os passos que devíamos seguir ou por onde ir. Nada!
- Eu queria que tivéssemos alguém com quem contar- falei- Alguém com respostas.
Ethan me sorriu com os olhos e se inclinou um pouco para me beijar. Eu, ao contrário das últimas vezes, correspondi e deixei que ele me guiasse.
Depois de algum tempo conversando, decidimos que continuaríamos tentando descobrir mais.
Estávamos voltando para o colégio quando, dentro do táxi mesmo, Ethan sussurrou pertinho do meu ouvido:
- Percebeu uma coisa?
Eu olhei para ele sem entender o que ele queria dizer e neguei com a cabeça.
- O cajado- ele disse- Se tivermos mesmo que fazer um cajado, ele deve servir para prender toda a magia das trevas. Isso quer dizer, que um de nós, mesmo na luz, será Senhor das Trevas.
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Quartenália- Era Da Ascendência
FantasiaPrometida em casamento desde séculos antes do seu nascimento, mas sem ter conhecimento disso, Alice tem sua vida completamente mudada quando descobre que as magias antigas da luz e das trevas foram enviadas para a terra e que uma delas renasceu dent...